Análise: os dados que ajudam a explicar a crise de uma águia pouco incisiva - TVI

Análise: os dados que ajudam a explicar a crise de uma águia pouco incisiva

Benfica-P. Ferreira

Benfica remata menos do que os rivais diretos, tem menos remates enquadrados e é tendencialmente avesso a tentar a sorte de meia-distância. Últimos quatro jogos mostraram quebra também na produção de situações claras de golo

No jogo com o V. Guimarães, o Benfica rematou 18 vezes dentro da grande área, um recorde para a equipa encarnada na presente temporada na Liga, acima das 15 tentativas ensaiadas diante do Tondela e do Moreirense.

No final da partida, João de Deus mencionou esses números, tendo-se referido a um «defeito na zona de decisão».

Uma questão de enquadramento…

O Benfica fez um total de 23 remates no último jogo, registo apenas superado pelas 29 tentativas da receção ao Moreirense. Mas apenas cinco dos remates do jogo com o Vitória de Guimarães saíram enquadrados, o que dá uma percentagem a rondar os 22 por cento.

Esse dado não explica por si só mais um tropeção, até porque a equipa de Jorge Jesus já venceu jogos que concluiu com menos remates enquadrados – Marítimo (2), Paços de Ferreira (4) e Tondela (4) – mas os resultados dos últimos quatro jogos do Benfica na Liga (três empates e uma derrota) foram acompanhados de desacerto no capítulo da finalização: dos 51 remates efetuados contra FC Porto, Nacional, Sporting e V. Guimarães, apenas 13 seguiram na direção da baliza e só dois terminaram com a bola no fundo das redes adversárias.

Mas houve mais do que isso. No último jogo, por exemplo, o caudal ofensivo dos encarnados não foi acompanhado por soberanas ocasiões de golo, o que evidencia problemas no último terço que se arrastam há já algum tempo. Apesar dos 23 tiros, 18 deles dentro da área, as águias chegaram ao fim dos 90 minutos com apenas três ocasiões de golo claras. No fundo, o Benfica não teve dificuldades para chegar perto da baliza adversária, mas não conseguiu encontrar frequentemente espaços que lhe permitissem ter sucesso na hora de concretizar.

Na Liga, o Benfica tem uma média de 3,2 grandes oportunidades de golo por jogo, registo na linha de FC Porto e Sporting. Mas nos últimos quatro jogos verificou-se uma quebra considerável e a equipa de Jorge Jesus apresentou números sempre abaixo da média: V. Guimarães (3), Sporting (0), Nacional (2) e FC Porto (2).

Falta de pontaria começou no Bessa

De acordo com os dados da SofaScore, que serviram de suporte a este trabalho, na primeira volta da Liga o Benfica (4,8) enquadra menos remates em média por jogo do que Sporting (5,1), FC Porto (5,9) e Sp. Braga (5,3), as três equipas que estão à frente das águias na classificação.

Foi precisamente a partir do primeiro resultado negativo no campeonato – derrota por 3-0 com o Boavista no Estádio do Bessa – que a média do atual quarto classificado começou a cair dos 7,2 tiros na direção da baliza nos cinco jogos iniciais para o registo atual acima referido.

Desde então, nos 12 encontros seguintes, o máximo que o Benfica conseguiu foi enquadrar seis remates contra Portimonense e Gil Vicente. Nesta série de quatro jogos sem vitórias, a média precipitou-se para os 3,25 por partida e até foi inflacionada pelo registo de sexta-feira (5) com o V. Guimarães.

É uma das verdades de La Palice no futebol: quem consegue mais remates enquadrados, tem maiores probabilidades de ter sucesso. Num ou noutro jogo isso pode não se verificar, mas no final as contas têm tendência para baterem certo. E é por isso, por exemplo, que o FC Porto tem o melhor ataque da Liga, com 39 golos, recompensa dos 5,9 tiros enquadrados por partida.

Aversão à meia-distância é opção estratégica ou faltam atiradores?

No caso do Benfica, para além de ter menos remates enquadrados do que os três primeiros classificados do campeonato, também atira menos vezes por jogo. De acordo com a SofaScore, os encarnados tentam a sorte 13,7 vezes em média, menos uma vez do que Sporting, FC Porto e Sp. Braga.

Aqui, a diferença para os rivais explica-se essencialmente pelos remates de fora da área: 66, aquém dos 76 do FC Porto, dos 85 do Sporting e dos 107 do Sp. Braga, a equipa que mais vezes tenta visar a baliza contrária de meia/longa distância.

No total, apenas três dos 30 golos do Benfica nasceram de remates de fora da área, mas desde a quinta jornada que o conjunto orientado por Jorge Jesus não marca desta forma: fê-lo por duas vezes na jornada inaugural da Liga (Everton e Grimaldo, este de livre direto) depois na receção ao Belenenses, numa jogada em que Darwin rematou para a baliza deserta antes da meia-lua depois de tirar o guarda-redes do caminho.

São 12 jogos seguidos sem apontar qualquer tento de fora da área e três dos últimos quatro jogos mostram uma certa resistência das águias a essa solução, seja por mera opção estratégica ou por falta de jogadores que reúnam características para tal: um remate contra FC Porto, outro contra o Nacional e nenhum no dérbi com o Sporting em Alvalade.

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