Infantino aponta o que eram as faltas de transparência da FIFA - TVI

Infantino aponta o que eram as faltas de transparência da FIFA

FIFA (Reuters)

Presidente do organismo deixa uma promessa em Lisboa: «Nunca mais haverá nos relatórios da FIFA uma linha a dizer outros custos e depois estão lá 70 ou 80 milhões.»

O presidente da FIFA, Gianni Infantino, encerrou as Football Talks com uma longa intervenção em que abordou a transparência necessária ao organismo que dirige.

No auditório do Centro de Congressos do Estoril, o dirigente apontou o que já foi feito para que a FIFA seja mais transparente. E com isso, deu pistas muito claras sobre o que estava mal na entidade que rege o futebol mundial.

Um exemplo? «Vamos publicar os salários reais. Os salários reais», disse o suíço-italiano, prolongando a última palavra, como indicando que, antes, não era bem assim. De resto, deixou uma promessa: «Nunca mais haverá nos relatórios da FIFA uma linha a dizer outros custos e depois estão lá 70 ou 80 milhões.»

Infantino começou a intervenção a dizer que «é fácil falar de reformas e é fácil criticar». Mais difícil é fazer, claro. «Falamos em transparência, mas temos de a viver», argumentou.

Depois, introduziu uma pergunta retórica - o que já fizemos de concreto na FIFA para sermos transparentes? – e começou a elencar.

«Limitámos mandatos, porque a FIFA não pertence ao seu presidente, nem ao Conselho, pertence ao futebol», sublinhou.

Infantino demorou um pouco mais no ponto seguinte para explicar como se tenta colocar de parte amizades. «Adicionámos um novo papel, que é o Conselho FIFA. Não gere, não está no dia a dia, não interfere nas decisões de gestão, mas supervisiona. E introduzimos membros independentes aos comités, que têm agora 50 por cento de independentes. Independente significa que não são amigos do presidente ou do Conselho, não têm relação. A ideia é ter uma visão externa. Obviamente, estão a trabalhar para o bem da FIFA, mas sem ligações.»

Outro ponto bastante importante, foi quando Infantino remeteu para uma rutura com o passado recente em relação à aquisição de direitos. O presidente da FIFA foi bastante crítico sobre não haver concursos para a aquisição desses mesmos direitos, algo que introduziu de imediato.

«Fossem direitos de TV ou comerciais, não havia concursos para a aquisição. Assim, ganha quem fizer a melhor oferta, quem apresentar as melhores condições, seja conhecido do presidente, do conselho ou não. Não havia uma política clara sobre isto!»

A sucessão de episódios polémicos com bilhetes de, que voltou a acontecer no Brasil 2014, não é, disse Infantino, exclusiva do futebol. Isso, porém, não invalida que a FIFA tenha de «ganhar maior controlo da bilhética» e argumentou: «Houve escândalos a envolver empresas externas e nós tivemos de obter mais controlo.»

Como a FIFA também vai ter «mais controlo na organização do Mundial». Infantino apontou de novo o dedo a anteriores direções.

«Não vamos fazer como antes, em que se metia 500, 600 ou 700 milhões num envelope e dava-se à organização e ninguém sabia o que se fazia ou era necessário na organização do mundial. Estamos a olhar para um modelo futuro e estamos já a trabalhar com os russos para 2018 e com os qataris para 2022. Temos de ser donos das nossas provas.»

Depois, chegou àquele que considerou o «ponto fundamental». Lembrou que «sempre disse que se houvesse transparência financeira, se resolva 95 por cento dos problemas da FIFA» e anunciou: «Dentro de dois meses será conhecido o relatório e contas, que já contempla um novo modo de contabilidade. Estas novas normas entram em vigor em 2018, mas nós antecipámos. Nós não temos de criar receitas para dizer que os nossos relatórios são bons. Não precisamos disso.»

Gianni Infantino teve uma das principais frases da sua intervenção logo de seguida: «Não haverá nos nossos relatórios e contas uma linha a dizer “outros custos” em que estão 70 ou 80 milhões de dólares. Tudo será explicado!»

O perfil de quem entra no organismo também é verificado. «São análises de elegibilidade ou integridade, o sr. [Pierluigi] Collina, por exemplo, que falou aqui antes de mim, teve de passar por essa verificação para ser eleito para um cargo», frisou.

Como se combate o mau uso do dinheiro pelas federações?

O presidente da FIFA referiu ainda que os Congressos do organismos servem «para votar e aprovar» medidas e não para pensar futebol. Por isso, quis criar «novo fórum em que todas as federações possam debater o futuro do jogo».

Ora, as 211 federações que formam a FIFA mereceram também atenção. Primeiro, porque vão receber mais dinheiro.

«Aumentámos de 1.6 milhões de dólares em quatro anos, para cinco milhões no mesmo período o dinheiro que entregamos a cada associação. E fizemos isto com as mesmas receitas», garantiu, como que a deixar no ar a interrogação maior: onde se gastava o dinheiro antes?

De acordo com Infantino, a atual FIFA «diz o que faz, e diz onde gasta o dinheiro, e está a gastá-lo no futebol».

O suíço-italiano prosseguiu e diz que a supervisão que é feita às federações é agora maior. «Temos maior investimento e maior impacto, mas também mais observância. Pela primeira vez, cada associação assinou um contrato individual, portanto, são 211 contratos, em que eles têm de dizer o que estão a fazer. Se um presidente diz que está a fazer um campo de futebol, tem de fazer um campo de futebol e não uma piscina em casa!»

Criámos um subcomité de stakeholders, com ligas, jogadores, treinadores.

O futebol feminino tem de ser olhado e desenvolvido, estamos a falar de 50 por cento da população mundial.

Isto permite-nos concentrar na nossa missão: que é o futebol! Espero vir aqui daqui a dois anos falar de futebol e não de gestão.

Os interesses à volta das transferências

Gianni Infantino admitiu que ainda há ameaças várias ao jogo. A manipulação de resultados é claramente uma delas e o dirigente reforçou uma política de «tolerância zero» para quem desrespeitar, assim como para os casos de violência.

Porém, há uma preocupação evidente com o mercado de jogadores.

«Temos de melhorar o sistema de transferências de e tudo o que está ligado a ele. Tem de ser modernizado e reorganizado. Há muitos interesses à volta. Mas se a FIFA tem de ser mais transparente, o futebol também tem de ser e temos de olhar para o sistema de transferências. O recém-criado comité de stakeholders abordou esse tema e vai continuar a abordá-lo.»

Infantino acabou a primeira parte da intervenção a falar sobre arbitragem e o vídeo-árbitro. «Ao fim de, talvez, 50 anos de discussão, decidimos testar o vídeo-árbitro. Toda a gente hoje no estádio e em casa sabe em segundos se o árbitro cometeu um erro grosseiro. O único que não sabe é o árbitro. E não sabe porque não quer, é porque nós o proibimos! Se o podemos ajudar, devemos fazê-lo. Se não testarmos, como saberemos?»

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