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Passaram dez anos entre os dois golos. O primeiro, o salto improvável a bater Rio Ferdinand na final da Liga dos Campeões de 2009, a selar a tripla do Barcelona nessa temporada de sonho e a lançá-lo para a primeira Bola de Ouro. Esse golo de 2009 foi especial para Messi, é um dos que escolhe quando lhe pedem para falar dos seus melhores golos. «Foi muito importante em vários sentidos: para a equipa, pela forma como a final estava a correr e para mim também. Ainda é um dos meus favoritos», disse em tempos à FourFourTwo: «Completou uma grande época em que ganhámos tudo.»
O segundo vídeo tem pouco mais de 24 horas: Messi a ser Messi no golo da vitória no clássico com o At. Madrid neste domingo, na véspera de vencer a sexta Bola de Ouro. Seis, mais do que qualquer outro jogador na história. Mais uma que Cristiano Ronaldo, que lá estava do outro lado na final de 2009, que já tinha sido melhor do mundo no ano anterior e que foi terceiro esta temporada, ele que esteve ausente da gala da France Football, a receber um prémio de melhor jogador em Itália, e não assistiu à coroação de Messi.
Entre um e outro, uma década a tornar o génio banal a cada jogo. Não tem apenas 10 anos a história de Messi, que começou ainda em 2003 na inauguração do estádio do Dragão, quase um ano antes da estreia oficial. Antes da consagração em 2009 já o mundo se tinha rendido ao pequeno argentino, que já tinha chegado ao pódio da Bola de Ouro nos dois anos anteriores. Mas é naquela temporada com Pep Guardiola no banco e Xavi e Iniesta ao seu lado que Messi começa a escrever a lenda a ouro.
Passou muito tempo, mudou muita coisa, houve altos e baixos, mas houve sempre Messi e, como ele voltou a provar neste domingo, continua a haver. Dez anos feitos de centenas de golos, de assistências, de tantos e tantos rasgos de talento e criatividade. Também de uma regularidade notável, ele que acabou de completar 700 jogos pelo Barça. Ainda nesta segunda-feira o CIES – Observatório do Futebol, divulgava um estudo que coloca Messi como o jogador de campo com mais minutos num só clube desde 2010: 28309 minutos, 83.4 por cento dos jogos do Barcelona na Liga. Porque Messi, o jogador de um clube só, pode avaliar-se também por essa medida.
Um génio ímpar, que viverá sempre na memória de quem o viu, mas a que os números ajudam a dar toda a dimensão. Tantos títulos com a camisola do Barcelona – ao todo quatro Ligas dos Campeões, dez campeonatos de Espanha. O último deles em 2018/19, numa das épocas menos vencedoras da sua carreira, mas uma vez mais incrível em termos individuais: vai com 46 golos marcados nos 54 jogos que leva em 2019.
Messi não ganhava o troféu de melhor do mundo desde 2015. Depois de quatro triunfos seguidos, de 2009 a 2012, seguiram-se dois anos de consagração para Cristiano Ronaldo. Messi voltou a vencer em 2015, desde então viu Ronaldo ganhar nos dois anos seguintes e Modric quebrar a hegemonia de ambos em 2018. Quatro anos depois, fica sozinho, lá no topo. Messi não escondeu o que representa para ele este novo triunfo. Pessoalmente, antes de mais: os seus filhos não tinham memória de o ver consagrado como melhor do mundo. Viram-no agora ao vivo, os dois mais velhos.
Esta sexta Bola de Ouro tem um sabor especial, admitiu Messi, ele que fez questão de falar de um fim que não estará assim tão distante, no discurso de consagração. «Para a minha primeira Bola de Ouro vim a Paris com 22 anos, com o meu irmão. Era impensável o que estava a viver», disse: «Quero continuar mais uns anos. Mas tenho consciência da idade que tenho e estes momentos desfrutam-se muito mais porque aproxima-se o momento da retirada.» Não será para já, disse depois. Mas vai acontecer. Portanto, é aproveitar enquanto ele ainda cá anda.
Para lá de Messi, a Bola de Ouro 2019 voltou a ter Cristiano Ronaldo no pódio, pelo 12º ano seguido. A outra grande história que também acabará um dia, mas ainda dura. E teve outro português no «top 10» pela primeira vez desde 2016, quando Pepe foi nono: Bernardo Silva, depois de um ano de sonho no Manchester City e com a camisola da seleção. E ainda João Félix, no último lugar entre os 30 finalistas.
A classificação da Bola de Ouro 2019:
1. Lionel Messi (Barcelona/Argentina)
2. Virgil Van Dijk, (Liverpool/Holanda)
3. Cristiano Ronaldo (Juventus/Portugal)
4. Sadio Mané (Liverpool/Senegal)
5. Mohamed Salah (Liverpool/Egito)
6. Kylian Mbappé (PSG/França)
7. Alisson Becker (Liverpool/Brasil)
8. Robert Lewandowski (Bayern Munique/Polónia)
9. Bernardo Silva (Manchester City/Portugal)
10. Riyad Mahrez (Manchester Ciy/Argélia)
11. Frankie De Jong (Ajax, Barcelona/Holanda)
12. Raheem Sterling (Manchester City/Inglaterra)
13. Eden Hazard (Chelsea, Real Madrid/Bélgica)
14. Kevin De Bruyne (Manchester City/Bélgica)
15. Matthijs De Ligt (Ajax, Juventus/Holanda)
16. Sergio Aguero (Manchester City/Argentina)
17. Roberto Firmino (Liverpool/Brasil)
18. Antoine Griezmann (At. Madrid, Barcelona/França)
19. Trent Alexander-Arnold (Liverpool/Inglaterra)
20. Pierre-Emerick Aubameyang (Arsenal/Gabão)
20. Dusan Tadic (Ajax/Sérvia)
22. Son Heung-min (Tottenham/Coreia do Sul)
23. Hugo Lloris (Tottenham/França)
24. Kalidou Koulibaly (Nápoles/Senegal)
24. Marc-André Ter Stegen (FC Barcelona/Alemanha)
26. Karim Benzema (Real Madrid/França)
26. Georginio Wijnaldum (Liverpool/Holanda)
28. João Félix (Benfica, At. Madrid/Portugal)
28. Marquinhos (PSG/Brasil)
28. Donny van de Beek (Ajax/Holanda)
A Bola de Ouro também olhou para o futuro, pelo segundo ano a distinguir o melhor jogador sub-21 com o Troféu Kopa. Ganhou o holandês Matthijs de Ligt e aí João Félix foi terceiro. A gala da France Football também consagrou pela segunda vez a melhor jogadora, agora a norte-americana Megan Rapinoe. E estreou-se com um prémio para o melhor guarda-redes do ano, ganho por Alisson, campeão europeu com o Liverpool.