O que Sérgio Conceição mudou verdadeiramente no FC Porto - TVI

O que Sérgio Conceição mudou verdadeiramente no FC Porto

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Não há nada mais adorável do que o desconhecido: uma página em branco carregada de possibilidades.

Não há, por exemplo, prazer maior do que mergulhar numa viagem que nunca fizemos, num restaurante que nunca frequentámos, numa rua que nunca percorremos, num livro que nunca lemos ou num episódio da nossa série preferida que nunca vimos.

Os pratos, por exemplo.

Podemos ter um prato feito sempre da mesma forma admirável, naquele restaurante, de que gostamos muito e que nos dá um prazer tremendo. Certo, é possível: e de cada que vem o repetimos é uma delícia para os sentidos.

Mas o gosto não é comparável ao que se nos oferece quando descobrimos um prato novo, também ele admirável.

O gozo, o prazer, a euforia da descoberta enchem a alma como nenhum prazer antigo poderá fazer. Não há maior felicidade do que a felicidade da descoberta.

É quando estamos de frente de uma coisa nova que cresce o entusiasmo. No fundo é tudo novo, é tudo novidade, é tudo excêntrico e singular.

É tudo um arrepio à flor da pele que nos enche de felicidade e nos faz querer descobrir mais coisas novas: nesta vertigem pelo arrebatamento que se arranca nas pequenas coisas.

O que é que isto tem a ver com o futebol, perguntará nesta altura quem me lê.

Tem tudo, leitor. Tem tudo.

Tem especialmente tudo a ver com este FC Porto.

Basta reparar como neste plantel tudo é antigo, como os jogadores são herdados de outras épocas, como havia um cheiro a fracasso, depois de quatro anos sem ganhar, nas paredes de um balneário já visto e revisto. Apesar disso, tudo mudou de uma época para a outra.

Mudou porquê? Porque Sérgio Conceição soube introduzir a vertigem da novidade.

Mais do que tática ou estratégia, a verdadeira revolução portista foi mental: fez-se dentro da cabeça dos jogadores. O treinador introduziu a euforia da vitória, a fúria do ataque, a paixão pelo futebol. Valorizou a equipa e, através dela, valorizou cada jogador.

Para quem estava habituado à rigidez tática de Nuno Espírito Santo ou à austeridade dos conceitos da nova vaga espanhola de Lopetegui, o arrebatamento de Sérgio Conceição tornou-se uma novidade adorável, que encheu de felicidade a cabeça dos atletas.

Como dizia Maurizio Sarri, a criança dentro do jogador nunca se desliga e quando este se diverte, rende o dobro. Sérgio Conceição mudou tudo, respeitando o essencial: a felicidade dos jogadores.

Isso é o mais importante para ele: que os jogadores apreciem o que estão a fazer.

A partir daí os atletas sentem-se valorizados, ficam motivados e rendem provavelmente mais do que valem. Marega enche o campo no Mónaco, por exemplo. Aboubakar, Marcano ou Herrera brilham como nunca. Brahimi volta a mostrar a melhor versão.

No fundo é isso: tudo é novo neste FC Porto.

E não há maior felicidade do que o entusiasmo de uma coisa nova.

«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreve aqui às quintas-feiras de quinze em quinze dias

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