Do Valdevez ao Arcos: o «renascer» do «nosso Atletiquinho» - TVI

Do Valdevez ao Arcos: o «renascer» do «nosso Atletiquinho»

  • Ricardo Jorge Castro
  • 10 mar 2018, 13:22
Atlético dos Arcos (Foto: Ricardo Jorge Castro)

Fundado em 2012 após a extinção do homónimo Valdevez, em 2009, o Atlético dos Arcos vive a época de estreia no Campeonato de Portugal. O único clube do distrito de Viana do Castelo nos campeonatos nacionais, nos quais o extinto emblema ganhou tarimba, luta hoje pela manutenção. Pelo «renascer» de identidade

[artigo original: 08-03-2018 10:03]

Caminhos de Portugal é uma rubrica do Maisfutebol que visita passado e presente dos clubes dos escalões não profissionais. Tantas vezes na sombra, este futebol em estado puro merecerá cada vez mais a nossa atenção.

Atlético dos Arcos – Campeonato de Portugal, Série A

«Dívidas, um avolumar de dívidas que se tornaram incomportáveis. Os credores começaram a exigir pagamentos, não havia maneira de os satisfazer e o clube deu insolvência»

Fala José Carlos Caçador, atual presidente do Atlético dos Arcos. Recorda o extinto Atlético Clube Valdevez que, em 2009, fechou portas, num ano marcado pela soberba campanha até aos quartos de final da Taça de Portugal, onde caiu aos pés do Nacional da Madeira.

Os 64 anos de história não resistiram a dívidas. Era o fim do principal clube dos Arcos de Valdevez. Regresso, só em 2012, fruto da união de esforços entre várias pessoas com ligação ao antigo Atlético. Eis nova designação, Atlético dos Arcos. E «muitas dificuldades» de início.

«As coisas começaram a fazer-se, a estruturar o clube, não tinha nada. Os credores tinham todos os bens do clube penhorados, inclusive o autocarro. Começámos do zero, conseguimos adquirir o essencial. Logo no primeiro ano (2012/13) fomos campeões e subimos à 1.ª Divisão Distrital», recorda o atual presidente, então secretário técnico do clube.

A promoção até à elite distrital foi o primeiro capítulo de glória do novo Atlético. Manuel Mendes, presidente no primeiro ano após a fundação, «alegou motivos de doença». Foi por aí que Carlos Caçador assumiu, desde 2013, os destinos do clube.

José Carlos Caçador, presidente do Atl. Arcos (quarto da esq. p/dir.) no jantar de Natal que reuniu todas as equipas do clube

Daí para cá, trabalho de reconstrução. O Estádio Municipal da Coutada continuou a ser casa, mas havia uma imagem e instalações a limpar. «Tivemos de fazer uma recuperação de pintura, vínhamos à noite fazer esse trabalho. Equipamentos, não existiam. E tudo isso teve de ser adquirido. Mas, de resto, as condições são ótimas, eram as do antigo clube. Faltava era o que estava à guarda do tribunal e fomos adquirindo», descreve.

«Os jogadores são praticamente todos da terra»

Do material ao humano, bom filho à casa torna e várias caras antigas regressaram ao novo Atlético: Leandro Morais - treinador que subiu o Atlético ao Campeonato de Portugal, hoje na equipa técnica do Boavista - Licas ou Paulo Amaral. O último, 39 anos, fala num «começar tudo de novo» após a extinção. «Foi uma situação complicada, ficámos com vários meses em atraso. Era um clube estabilizado e respeitado nos nacionais», completa o então jogador do Atl. Valdevez, hoje nos Arcos.

Paulo Amaral, capitão de equipa (de frente) cumpre a quinta época no Atl. Arcos. Já tinha jogado no extinto Valdevez

A aposta no regresso e em jogadores «da terra» foi preocupação de primeira hora. «Preocupação com a identidade do clube. Este concelho é grande, sempre formou jogadores e a aposta teria de ser essa», frisa Caçador. Hoje, por isso, cerca de 80 por cento do plantel principal é composto por atletas locais.

Época a época, o Atlético dos Arcos foi cimentando posição nos distritais de Viana e já participou por três vezes na Taça de Portugal. No último ano, a conquista do título distrital permitiu a estreia no Campeonato de Portugal. Em 2017/18, é a única equipa do distrito de Viana do Castelo nos nacionais.

Manutenção? «Enquanto matematicamente for possível…»

Inserido na Série A, o Atlético dos Arcos é o atual 13.º classificado, com 20 pontos. Está a onze dos lugares de manutenção e há 21 pontos em disputa. Esperança na retoma? Da vida à matemática.

«Está difícil, mas enquanto matematicamente for possível, a gente vai tentar. Pagámos a inexperiência do início da época, mas enquanto há vida, há esperança», atira Paulo Amaral, médio e capitão. O treinador, Fernando Rego, completa a ideia. «Temos feito excelentes jogos, a nossa pontuação não condiz», acredita, enquanto Caçador, 62 anos e ligado ao clube desde os seus 14, frisa o trabalho «em termos financeiros e desportivos» que tem sido sustentado.

A falta de profissionalismo, cariz dos campeonatos não-profissionais, também mora nos Arcos. O plantel, todo amador, trabalha e treina ao fim da tarde, ao contrário de muitos dos adversários. «Sabemos que não temos os mesmos argumentos, mas o importante é estarmos comprometidos», vinca Rego. Por seu turno, Amaral, assistente operacional numa escola, «nota a diferença de treinar de manhã e de tarde» como no antigo Atlético. «Chegamos a uma altura do jogo em que não estamos tão disponíveis», constata.

«O nosso Atlétiquinho»

Se a designação do clube e o próprio emblema sofreu ligeira alteração, há coisas que não mudam em Arcos de Valdevez.

Na Coutada, mora «o nosso Atlétiquinho». É assim que é «carinhosamente» apelidado o clube pelos adeptos. «Sentimos isso, tentamos defender com muita honra», atira Amaral, arcuense de gema.

Com a prata da casa e entre «sócios, patrocinadores, festas, angariação de fundos e sorteios semanais», o Atlético dos Arcos vai fazendo face às despesas de um campeonato mais exigente. Numa casa onde o râguebi também é tradição, «desenvolveu-se todo o trabalho para o renascer do clube», ilustra Caçador, também presidente da Associação de Pesca Desportiva do Vez e selecionador nacional de Pesca Desportiva, na vertente Isco Artificial.

Tudo em prol d’ «o nosso Atlétiquinho».

Estádio Municipal da Coutada
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