Lourosa absolvido de acusação de racismo, vítima diz-se «muito triste» - TVI

Lourosa absolvido de acusação de racismo, vítima diz-se «muito triste»

Situação aconteceu com Sheriff, do Arouca, numa partida com o Lourosa

O Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol decidiu arquivar uma queixa do Arouca por alegado racismo dos adeptos do Lourosa para com Sheriff, numa partida disputada em casa da equipa da Serra da Freita, a 2 de fevereiro. Tudo aconteceu duas semanas antes do famoso caso Marega, que levou o avançado maliano do FC Porto a abandonar o relvado em Guimarães, num jogo com o Vitória.

No início do mês, antes desse incidente que foi divulgado em todo o país, o ganês Sheriff Deo Mohammed queixou-se de cânticos racistas, com imitação do som de macacos, numa altura em que recebia assistência médica na linha lateral mais próxima da bancada onde se encontravam os adeptos do Lourosa.

No vídeo a que o Maisfutebol teve acesso e que pode ver associado a este artigo, ouvem-se realmente os referidos sons, sem que se perceba a origem dos mesmos.

Essa é, de resto, uma das justificações que surgem no acórdão agora divulgado, bem como o facto de a situação não ter sido reportada à equipa de arbitragem.

Joel Pinho, diretor desportivo do Arouca, e Flávio Soares, delegado do Arouca na partida em causa, testemunharam a favor do jogador e assumiram ter escutado os sons emitidos alegadamente pelos adeptos do adversário. Mas ambos referiram só terem tido conhecimento das queixas do jogador após o encontro.

«Após receber assistência, na altura em que vai sair de campo, os adeptos do Lourosa começaram a fazer sons de ‘uh uh uh’. Na entrada também fizeram um bocadinho, mas pararam logo», declarou Joel Pinho, escutado no âmbito do processo.

«Tenho conhecimento que, depois do jogo, o jogador diz que ouviu insultos durante o jogo. Disse que lhe chamaram ‘preto do c******’», acrescentou.

O delegado da equipa arouquense também confirmou ter escutado os sons vindos da bancada.

«Foi mais evidente nessa fase [após o jogador receber assistência] porque fizeram uns sons de macaco, quando o atleta se dirigia para fora do campo e depois houve uns palavrões. Mas nem foi tanto por isso, foi mais pelos sons de macaco», testemunhou Flávio Soares.

Jogador diz-se «muito triste» e revela não ter sido situação única

Sheriff Mohammed, de 27 anos, terminou contrato com o Arouca no final da época e não se encontra em Portugal, razão pela qual soube do arquivamento do caso através do telefonema do nosso jornal.

Nesse sentido, remeteu para os próximos dias uma reação à decisão do Conselho de Disciplina de absolver o Lourosa, mas admitiu sentir-se «muito triste» com o desfecho.

«No final do jogo, não me controlei e chorei. Sou um ser-humano. Ninguém merece ser discriminado pela cor da pele, ou pelo que seja», declarou.

O atleta, que em Portugal representou também o Gafanha e o Águeda, ambos do Campeonato de Portugal, revelou ainda que a situação que viveu em Arouca não foi a única em que sentiu racismo, ainda que tenha sido a que mais o afetou.

«Já me tinha acontecido uma vez, num jogo com o Espinho. Mas nesse dia estava tão focado em marcar, para os ultrapassarmos na classificação, que me desliguei dos insultos», confessa, lamentando não ter agido dessa vez.

«Muitas vezes acabamos por perdoar aquilo que nos fazem, mas estas coisas não podem continuar a acontecer», conclui.

 

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