As reações à mensagem de Ano Novo de Marcelo - TVI

As reações à mensagem de Ano Novo de Marcelo

Partidos reagiram à mensagem de Ano Novo do Presidente da República. Direita refere o "poucochinho" feito pelo Governo até agora; PS diz que fez muito do que tinha a fazer em 2016, mas reconhece que há "muitíssimo para fazer" em 2017

O dirigente do PSD Matos Correia sublinhou este domingo o "poucochinho" feito pelo Governo PS até agora, ao comentar o discurso de Ano Novo do Presidente da República, rejeitando ainda que os sociais-democratas sejam responsáveis pela crispação política.

Haverá quem faça essa leitura e quem achasse que havia uma crise iminente. O que nós sempre dissemos e dizemos é que era possível fazer bastante melhor que o poucochinho que foi feito e que as políticas que defendemos e continuaremos a apresentar aos portugueses permitiriam ao país ter um caminho de sucesso muito maior do que o conseguido por este Governo", afirmou, na sede nacional do PSD, em Lisboa.

Marcelo Rebelo de Sousa, numa comunicação ao país gravada no Palácio de Belém, considerou 2016 o ano da "gestão do imediato" e desejou mais "crescimento económico" em 2017, reconhecendo "pequenos passos", mas "muito por fazer".

O chefe de Estado e antigo líder social-democrata declarou que os portugueses conseguiram afastar "o espetro da crise política iminente, de fracasso financeiro, de instabilidade social que, para muitos, era inevitável" e que "o ambiente nos debates entre políticos foi mais dramatizado do que na sociedade em geral", num "balanço positivo".

"Destaco, em particular, a referência que fez à necessidade de o país substituir a gestão no imediato pela gestão a prazo dos problemas fundamentais com que é confrontado. O Presidente da República fez alusão a alguns deles: o crescimento económico anémico com que o país se debate, a questão da lentidão do sistema judicial e a dívida pública, que mantém níveis extremamente elevados", afirmou o presidente do conselho estratégico social-democrata, Matos Correia.

Para o também deputado do PSD, "a crispação a que fez referência é, quanto muito, uma que advinha daqueles que se opunham ao Governo que esteve em funções quatro anos e meio em momentos particularmente difíceis, em que foi preciso tomar decisões difíceis e aplicar um programa de ajustamento que não foi sequer o PSD e o seu parceiro de coligação (CDS-PP) que negociaram".

Se alguns, irresponsavelmente, entraram pelo caminho da crispação, não é esse o caminho que nós temos. O que nós temos é dizer aquilo em que acreditamos e lutar por aquilo que defendemos, mas dentro do respeito pelas regras e princípios democráticos, o que não se pode dizer que tenha acontecido com frequência quando outros estiveram na oposição", contrapôs.

Notas positivas são sobre assuntos "menos relevantes"

O CDS-PP disse "acompanhar as preocupações" expressas pelo Presidente da República quanto à dívida pública e ao crescimento económico e considerou que as "notas positivas" de Marcelo Rebelo de Sousa sobre 2016 são sobre assuntos "menos relevantes".

Em Braga, a reagir à primeira mensagem de Ano Novo de Marcelo Rebelo de Sousa enquanto Presidente da República, o vice-presidente do CDS-PP, Nuno Melo, referiu que as prioridades traçadas pelo chefe de Estado são as que "não foram concretizadas" em 2016, pelo que "obviamente é uma governação falhada" a do Governo de António Costa.

Nuno Melo considerou ainda que as palavras do Presidente da República tiveram um tom "apaziguador", desvalorizando a parte em que Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que se esperou o pior para 2016 e que tal não aconteceu.

O CDS acompanha as preocupações do senhor Presidente da República sobre os falhanços da governação em 2016, em áreas tão sensíveis como as do crescimento económico, dívida que aumenta ou os cortes nas áreas sociais", afirmou Nuno Melo.

Nuno Melo aproveitou as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, que traçou como objetivos para o país em 2017 "rigor financeiro, cumprimento de compromissos externos, maior justiça social", para deixar críticas ao Governo de António Costa.

A partir do momento em que o Presidente da República traça para 2017 como prioridades estas que não foram concretizadas em 2016, aumento do crescimento económico, diminuição da dívida, e preocupação com os que menos têm, obviamente que é uma governação falhada", disse, explicando que o crescimento em 2016 "foi poucochinho".

Sobre as palavras positivas do Presidente da República, Nuno Melo atribuiu-as a "traços típicos da personalidade" de Marcelo Rebelo de Sousa.

"É normal que tenha uma mensagem apaziguadora, mas não invalida as notas dominantes", disse, depois de afirmar que "aquilo que são notas positivas em relação a 2016 sejam as notas menos relevantes em relação àquilo que são as prioridades do país".

Nuno Melo lembrou que Marcelo Rebelo de Sousa "bem podia ter recordado o brutal aumento de impostos indiretos, porque todos os portugueses vão pagar mais em portagens, combustíveis, IMI, IUC, eletricidade, transportes públicos".

"Volto a insistir, um governo que assim se comporta não devolve rendimentos como propagandeou, apropria-se", salientou.

De positivo, o vice-presidente do CDS destacou o funcionamento da "geringonça", apontado pelo Presidente da República.

Eu noto que com este Governo a Concertação Social, normalmente coordenada com alguns dos setores que conferem a maioria, está tranquila e não sai de casa. Reconheço que a dita geringonça tem funcionado", disse.

PS diz que há "muitíssimo para fazer" em 2017

O membro do secretariado nacional do PS Porfírio Silva defendeu que em 2017 há "muitíssimo para fazer" para melhorar a economia e garantir os direitos dos cidadãos e destacou a contribuição do Presidente para a "paz social".

O PS considerou que, na sua mensagem de Ano Novo, Marcelo Rebelo de Sousa foi "muitíssimo claro: fizemos muito do que tínhamos para fazer, temos muitíssimo para fazer".

O PS tem perfeita consciência de que 2016 não foi um ano em que por milagre tivéssemos resolvido todos os problemas do país, temos de continuar e a mensagem do senhor Presidente da República sublinha essa continuidade, as condições para essa continuidade. O PS está firmemente empenhado em acompanhar a mensagem do senhor Presidente da República", declarou Porfírio Silva, em declarações aos jornalistas na sede do PS, em Lisboa.

Este ano, sublinhou, é necessário "continuar a dar passos na construção de uma sociedade decente, onde uma economia melhor vá de par com a melhor garantia dos direitos dos cidadãos, onde empresas mais fortes sejam sinónimo de melhores empregos" e onde se faça mais "pelo combate às desigualdades injustas e pela erradicação da pobreza".

O Partido Socialista saúda a determinação evidenciada pelo Presidente da República em contribuir para um clima de serenidade e de paz social, tão importante para que nos mobilizemos todos para que 2017 seja mais um ano de trabalho consequente em prol do progresso e do desenvolvimento do país e para que os frutos desse progresso e desenvolvimento sejam partilhados de forma justa por todos os portugueses", afirmou o membro do secretariado nacional.

O também deputado socialista apontou também que, no seu discurso, Marcelo Rebelo de Sousa "valoriza a coesão nacional e sublinha a partilha de valores fundamentais" pelos portugueses.

Porfírio Silva referiu depois que o antigo primeiro-ministro português, António Guterres, que hoje iniciou o seu mandato como secretário-geral das Nações Unidas, lançou um apelo à paz, uma ideia que o Presidente também referiu, com a necessidade de "construir uma paz concreta, que as pessoas sintam não como uma palavra, mas como realizações práticas que modifiquem a vida de todos".

"A mensagem do Presidente da República é muito importante na medida em que sublinha essa necessidade, numa democracia onde há projetos diferentes, ideias diferentes, pontos de vista diferentes, mas podemos ter tudo isso e no entanto convergirmos nessa mobilização para um 2017 onde continuemos o trabalho que temos de fazer", destacou o responsável socialista.

Mensagem não deu ênfase à" importância das políticas de esquerda"

O deputado do Bloco de Esquerda Pedro Soares considerou que a mensagem do Presidente da República vai no bom sentido mas não deu o devido ênfase à importância das políticas de esquerda para Portugal.

O Presidente da República disse que 2016 foi o ano da gestão imediata, mas é preciso dizer que foram dados passos muito importantes no caminho certo e que romperam com as políticas do governo anterior", disse Pedro Soares à Lusa em reação à mensagem de Marcelo Rebelo de Sousa.

"Os sucessos foram obra dos portugueses, mas foi um caminho feito em confronto com a direita e com a ortodoxia da União Europeia", disse o deputado, exemplificando com a recuperação "dos rendimentos do trabalho, das pensões, do salário mínimo nacional, das 35 horas, defendeu-se a escola pública, reverteu-se a privatização dos transportes públicos, e tudo isto era um caminho considerado pela direita e pela União Europeia como impossível".

Para o deputado bloquista, "há muito a fazer, é verdade", mas o Presidente devia ter ido mais longe na questão da dívida pública: "A referência do Presidente da República sobre o muito que há a fazer na dívida pública transporta-nos para a necessidade de colocar em cima da mesa a reestruração da dívida e as próprias regras do euro, que são desajustadas da nossa e da maior parte das economias do sul e têm-nos empobrecido".

Para o Bloco de Esquerda, o ano que passou mostra que "ficou claro que foram políticas à esquerda que configuraram os sucessos, e são políticas à esquerda que poderão fazer de 2017 um melhor ano para Portugal e para os portugueses".

PCP diz que objetivos de Marcelo podem ser cumpridos

O PCP considerou que o ano de 2017 poderá “corresponder” aos objetivos traçados pelo Presidente da República, caso o país renegocie a dívida, abandone o euro e avance no controlo público da banca.

Na reação à mensagem de Marcelo Rebelo de Sousa, Manuel Rodrigues, que integra a Comissão Política do PCP, disse à agência Lusa que, para o PCP, o ano de 2017 “poderá corresponder” aos objetivos traçados pelo Presidente da República, caso o país rompa com os “constrangimentos que impedem” o seu desenvolvimento.

Para o PCP, o ano de 2017 poderá corresponder a este objetivo se, efetivamente, rompermos com constrangimentos que impedem o nosso desenvolvimento soberano, designadamente se Portugal promover a renegociação da sua divida, se libertar da submissão ao euro e avançar no controlo público da banca e dos seus setores estratégicos”, disse.

O PCP reconhece que em 2016 foram dados “passos positivos”na reposição, defesa e conquista de direitos, defendendo que “não haverá desenvolvimento soberano” no país sem que se “reponha e defenda” o aparelho produtivo e se “valorize” a produção nacional.

“Sem que se valorize o trabalho e os trabalhadores, assegurando todos os seus direitos fundamentais, maior justiça fiscal, que se promova uma administração pública que garanta a concretização das funções sociais do Estado, com qualidade a todos os cidadão e em qualquer parte no país, só neste sentido haverá o desenvolvimento soberano que o país precisa e pelo qual o PCP continuará a bater-se”, disse.

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