Aos 119 anos a «velha senhora» decidiu fazer um lifting. Depois da escorregadela em Florença, em meados de janeiro, a Juventus mudou não só o símbolo, como também o esquema tático.
Massimo Allegri prescindiu do 3x5x2, tão enraizado na equipa, e apostou num 4x2x3x1 com muito poder de fogo na frente, que junta frequentemente Dybala, Mandzukic e Higuaín.
Embora italiana, esta Juventus está longe de ser uma equipa defensiva, até pela superioridade que exibe no calcio, onde caminha para o hexacampeonato.
O adversário do FC Porto gosta de controlar o jogo, de levá-lo para o meio-campo ofensivo, ainda que o faça com cautelas. Mesmo conhecendo as estradas europeias como poucos, a «velha senhora» já não prescinde de uma condução segura, e isso nota-se sobretudo na forma como evita riscos pelo corredor central.
Massimo Allegri pode ter prescindido dos três centrais, mas não renunciou à saída a três, recorrendo para tal ao recuo de um dos médios. Seja qual for o ponto de partida tático, a largura é dada pelos laterais, solução para uma saída mais segura e também de qualidade, garantida por Daniel Alves, Alex Sandro, Asamoah ou Lichtsteiner.
A Juventus coloca muitos jogadores no corredor central, mas explora-o de forma prudente, esperando pacientemente pelo momento para avançar. Pjanic é o elemento mais influente no processo de construção, pela mobilidade e capacidade de passe.
Muitas vezes nem são os médios que procuram criar desequilíbrios entre linhas, mas antes os avançados que recuam ligeiramente no terreno para criar linhas de passe, ao mesmo tempo que os médios tentam explorar o espaço nas costas.
A mobilidade de Dybala é um trunfo importante, até porque os (falsos) alas jogam muito perto de Higuaín. O antigo jogador do Palermo pode fazer a diferença não só pela capacidade para definir em espaços curtos, como também pelas situações de superioridade que cria nas alas. Segundo melhor marcador da equipa, com dez golos, Dybala é também uma ameaça perigosa na meia-distância.
Com o sacrifício de Dybala, mas também de Higuaín ou Mandzukic, a Juventus sustenta o hábito controlador com uma sólida organização defensiva (23 golos sofridos em 34 jogos). Desde logo pela tal segurança ofensiva que reduz a exposição, mas também por um espírito de entreajuda que fica bem patente quando se vê a dupla de avançados a proteger a área de Buffon.
A formação italiana revela, contudo, alguma debilidade nas bolas paradas defensivas, com oito golos sofridos desta forma, seis dos quais na sequência de pontapés de canto.
Convém assinalar, em todo o caso, que o peso ofensivo das bolas paradas é significativo (22 golos em 70), não só pelo poder aéreo de alguns elementos (Bonucci, Chiellini ou mesmo Rugani), mas também pela eficiência de jogadores como Pjanic, Dybala ou Daniel Alves na cobrança de livres diretos.
A FIGURA:
Gonzalo Higuaín: a Juventus pagou 90 milhões de euros ao Nápoles para assegurar uma referência ofensiva que tinha perdido com a saída de Tévez, e que Llorente, Morata ou mesmo Mandzukic não conseguiram preencher verdadeiramente. Melhor marcador da equipa, com 22 golos, «Pipita» não só tem revelado um excelente entendimento com o compatriota Paulo Dybala, como também uma crescente ligação a Mandzukic. Embora tenha bastante liberdade de movimentos no ataque, Higuaín destaca-se sobretudo pela acutilância a explorar a profundidade, mesmo quando o espaço de manobra é reduzido, e depois a eficácia com que encara a baliza.