A noite em que a Europa descobriu um Jardim em Londres - TVI

A noite em que a Europa descobriu um Jardim em Londres

Leonardo Jardim (Reuters/ John Sibley)

Contingente luso com sortes diferentes na Champions: tudo azul para Moutinho, Bernardo Silva e Leonardo Jardim, mas Tiago viu vermelho.

Foi preciso esperar pelo último dia para a primeira mão dos oitavos da Champions ter, finalmente, um daqueles resultados que fazem a Europa em peso abrir a boca de espanto. E não é chauvinismo sublinhar que esse resultado – a vitória do Mónaco no Emirates, por expressivos 3-1 diante do Arsenal – tem perfume português por todo o lado.

A começar no banco, claro, onde Leonardo Jardim continua, semana após semana, a driblar as análises apressadas que a seu respeito se fizeram em França. Se os primeiros tempos à frente da equipa foram francamente complicados, o atual desempenho, na frente interna e, especialmente, na Europa, é para acabar com qualquer dúvida – para mais com uma equipa que, além de enfraquecida em relação à época passada, abordou este jogo sem jogadores fulcrais para a estrutura defensiva, como Kurzawa, Ricardo Carvalho, Raggi e Toulalan. A diferença de equilíbrio tático entre este Mónaco desfalcado e um Arsenal atirado para a frente não foi apenas a prova de maturidade do técnico português, mas também um dos mais embaraçosos fiascos europeus de Arsène Wenger, numa altura em que o seu legado da última década é cada vez mais contestado por boa parte dos adeptos.



Mas Jardim não foi o único português a brilhar na noite mágica do Emirates: João Moutinho, que por vezes some dos radares numa Liga francesa menos mediática, ressurgiu em Londres ao seu melhor nível, puxando os cordelinhos da equipa, a meio-campo, e tendo participação em dois golos – entre vários outros pormenores de classe que nos ajudam a lembrar que, quando joga assim, pode entrar na galeria dos melhores médios da Europa.



A fechar uma segunda parte de sonho, pontuada por pormenores deliciosos como este, de Berbatov



ainda houve tempo para aparecer o terceiro mosqueteiro desta história: Bernardo Silva jogou apenas dez minutos, mas foi a tempo de chamar a atenção de qualquer observador com o pormenor mágico que abriu caminho ao terceiro golo, que pode bem ter encaminhado de vez a eliminatória para o Principado



Foi o desenlace mais amargo numa eliminatória carregada de sentimentalismo para Wenger, que viveu os primeiros tempos de fama no Mónaco e está agora obrigado a ganhar por três golos no Principado – algo que, não sendo impossível, parece francamente complicado de fazer a este Mónaco de Jardim, que chega a esta fase da competição com a defesa menos batida da prova - dois golos em sete jogos, a par do Real Madrid - e também o ataque menos concretizador, à média de um golo por jogo.

Atlético perde a «vantagem» de jogar fora

Se em Londres o contigente luso pode sair em ombros, já em Leverkusen a história não acabou bem para o português de serviço. Além de ter visto o guarda-redes Leno negar-lhe o golo com uma defesa do outro mundo, no final do primeiro tempo, Tiago foi expulso a meio da segunda parte e vai falhar o jogo da segunda mão.



Um jogo em que o Atlético Madrid terá de dar a volta a uma derrota pela margem mínina – algo que nunca teve de fazer na época passada, quando chegou à final de Lisboa com resultados positivos em todos os jogos fora (Milan, Barcelona e Chelsea). Sinal de que a máquina de Simeone, talhada para o contra-ataque e para jogos em que pode entregar a iniciativa ao adversário – o que é mais fácil quando este joga em casa – teve a primeira panne séria? A resposta definitiva virá do jogo do Calderón.



Para já, vem em forma de elogio ao Bayer Leverkusen, a outra equipa que afastou o Benfica na primeira fase e que, mesmo tendo o apoio importante de um grande guarda-redes em momentos-chave, reduziu o vicecampeão europeu a uma equipa banal e dispôs de ocasiões para conseguir um resultado mais confortável.



Todas as contas feitas, nos oito embates desta primeira mão, apenas duas equipas (Juventus e Leverkusen) ganharam os seus jogos em casa, pela margem mínima (2-1 e 1-0, respetivamente). Três venceram fora de portas (Real, 0-2, Barcelona, 1-2 e Mónaco, que conseguiu o resultado mais vantajoso dos três e até pode perder a segunda mão por 0-2). E três empataram fora (FC Porto e Chelsea, por 1-1, e Bayern, 0-0). Até ver, só mesmo o Leverkusen contorna a regra habitual nos últimos anos, que dá total favoritismo a quem joga fora em primeiro. Wenger que o diga, depois da noite em que a Europa descobriu um novo Jardim em Londres.
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