«Jesus é o senhor», a solução de Vieira para trapalhadas e desespero - TVI

«Jesus é o senhor», a solução de Vieira para trapalhadas e desespero

Chuteiras Pretas

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«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às segundas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

Luís Filipe Vieira terá os seus méritos – assim, de repente, não me lembro de nenhum em concreto –, mas a forma como tem gerido os dossiers dos treinadores desde 2015 tem sido desastrosa.

A incompetência do ainda presidente do Benfica é confrangedora, já para não falar da sua incoerência e evidente desespero. O medo em perder o poder e passar a ser apenas um cidadão comum voltou a colocá-lo na rota de Jorge Jesus.

O treinador que saiu há cinco anos porque tinha medo de apostar nos jovens do Seixal é, novamente, a solução para todos os problemas, o Santo Graal do universo benfiquista, o melhor treinador do mundo e arredores para o projeto do senhor Vieira.  

Mas que projeto é esse? O homem que apontava a aposta na formação como única forma de devolver o Benfica aos grandes palcos europeus mudou rápida e subitamente de ideias? O que mudou no Benfica em cinco anos?

Caros leitores, a resposta é desoladoramente simples. Mudou, sobretudo, a posição do próprio Luís Filipe Vieira. Anotem, por favor.

1. A propalada hegemonia desportiva é uma falácia facilmente desmontável, depois de o Benfica perder o campeonato pela segunda vez em três anos e fazer uma das piores segundas voltas de sempre.  

2. Os escândalos judiciais que envolvem o nome de Vieira, e por arrasto o do Benfica, multiplicam-se. O dirigente faz-me lembrar aquele condutor que vai em contramão na autoestrada e que ainda tem a distinta lata de se sentir incompreendido. Lex, Emails, Vouchers, E-Toupeira, Mala Ciao. O desgaste mediático da marca da instituição é impressionante. É tudo tão mau que estamos num ponto em que ninguém se surpreende com mais uma acusação, mais um escândalo.

3. A agressão (ou tentativa de) a um sócio numa AG, uns estatutos completamente ultrapassados e que permitem a perpetuação de poder, a evidente contestação com ramificações fortes nas redes sociais e o aparecimento de pelo menos três listas concorrentes às próximas eleições (Rui Gomes da Silva, Bruno Costa Carvalho e um movimento que aparentemente apoiará João Noronha Lopes).

4. A utilização do Benfica como entreposto comercial, como se pode verificar com a entrada e saída de jogadores que nunca chegam a vestir a camisola e que são, nas palavras de Vieira, «negócios apenas para fazer dinheiro». Se a isso juntarmos a brutalidade no pagamento de comissões a intermediários e a ligação contínua e, no mínimo, estranha a Paulo Gonçalves, facilmente percebemos que a transparência já teve melhores dias para os lados da Luz.

A lista podia continuar. A falta de memória é transversal no dirigismo português e Luís Filipe Vieira serve-se dela para recuperar Jorge Jesus. Acena com resultados imediatos, um investimento fortíssimo, uma equipa – agora sim! – para a Europa e procura apagar tudo o que tem sido o passado recente do clube que dirige.  

Vieira falhou ao perder Jesus, falhou ao não saber quando se separar de Rui Vitória e falhou na trapalhada que foi a saída de Bruno Lage. Um trapalhão destes só podia deixar cair todas as suas convicções anteriores, quando o que está em causa é a sua própria sobrevivência. Desportiva e social.

«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às segundas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

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