Paulo Fonseca e Vítor Pereira, a grandeza não se mede (só) nos troféus - TVI

Paulo Fonseca e Vítor Pereira, a grandeza não se mede (só) nos troféus

Chuteiras Pretas

«Chuteiras Pretas»

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«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

O que faz um treinador ser grande? O adepto comum, emocional, responderá da única forma possível e imaginária: o número de vitórias e de troféus conquistados.

Tudo muito bem, nada contra. É o que todos desejam para o seu clube, o pote de ouro no fim do arco-íris. Vitórias, vitórias, vitórias, seja a jogar de pé para pé ou num futebol de passes longos e sem grande disposição para conversas.

Estou a generalizar, naturalmente, mas a realidade não fugirá muito disto. Se o treinador ganha é bom; se o treinador perde, então é porque é mais incompetente do que o Keith, o contabilista monocórdico que o génio de Ricky Gervais criou para o The Office.

No fundo, cedo ou tarde, todos encontram o seu Princípio de Peter.

Na pele de jornalista prefiro ir um bocadinho mais longe, um bocadinho mais fundo antes de aplicar uma sentença.

O que é um grande treinador? Aquele capaz de manter em equilíbrio um complexo ecossistema de egos, ambições e frustrações; aquele capaz de impor o seu regime soberano sem a necessidade de lembrar aos pupilos de onde veio e para onde vai.

Não é necessária uma enciclopédia de fórmulas táticas debaixo do braço como atestado de conhecimento ou uma boina à Che a fazer as vezes do certificado de espírito revolucionário. O futebol é mais simples do que muitos querem fazer parecer.

É aqui que entram os nomes de Paulo Fonseca e Vítor Pereira. A grandeza destes treinadores portugueses não pode ser só medida no número de títulos ou na riqueza do laboratório de testes que têm – agora – em Roma e em Xangai.

Fonseca e Vítor Pereira são grandes nos comportamentos. Comunicam como poucos, são seguros e não têm o famoso temor que inibe tantos colegas de falar aos jornalistas: o medo de fantasmas.

Estou à vontade para fazer este elogio público. Nada me liga a eles a não ser o respeito profissional. Dois cavalheiros. Sempre que o Maisfutebol lhes solicita um comentário, uma entrevista, uma análise, Paulo Fonseca e Vítor Pereira nunca dizem que não.

E foi assim, uma vez mais, no dia dos 20 anos do nosso jornal. Os dois treinadores portugueses roubaram uns largos minutos à agenda apertada para falar connosco sobre o que mais gostam: futebol. No caso de Vítor Pereira, vejam bem, já à uma da madrugada na China.

Paulo e Vítor associam o indiscutível mérito na gestão do grupo a uma rara simpatia e disponibilidade. Percebem o trabalho do jornalista, sabem que estamos na mesma indústria e, como estão seguros do que dizem e do que pensam, não se atemorizam com as questões.

Esse é, parece-me, um dos maiores traumas de uma boa parte dos treinadores modernos. As ideias e as palavras são frágeis, tão frágeis que qualquer conferência pós-resultado negativo os expõe a uma mediocridade de que, porventura, ninguém antes suspeitava.

Paulo Fonseca e Vítor Pereira merecem o topo do futebol europeu. Merecem projetos que compreendam as suas ideias, as suas formas de olhar o futebol e a comunicação social. Esta é a homenagem que lhes rendo. Pelo que são e pela forma como lidam com o Maisfutebol.

Obrigado, Paulo. Obrigado, Vítor. 

«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

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