O futebol do futuro é pensado a partir de Portugal - TVI

O futebol do futuro é pensado a partir de Portugal

Apostas

Evento em Lisboa debate a partir desta segunda-feira o papel das políticas públicas na garanta da integridade no desporto; especialmente a nível financeiro, especialmente no futebol

Será um «evento histórico» e «pioneiro» o que vai decorrer na segunda e na terça-feira em Lisboa, no Palácio Foz. Trata-se da Cimeira Inter-Regional de Política Desportiva, um encontro em que a integridade (desportiva e financeira) do futebol estarão no centro de debate.

A descrição da importância deste acontecimento foi feita por Emanuel Medeiros, o diretor (CEO) para a Europa do Centro Internacional para a Segurança no Desporto (ICSS) – a organização não governamental com sede no Qatar que promove esta cimeira. Irão ser debatidos «problemas globais de dimensão avassaladora que requerem ação imediata» tornando Lisboa «durante dois dias capital mundial das políticas públicas» para a integridade no desporto.

É disso que se trata quando se antevê os cinco temas-guia que presidem à cimeira: 1) o papel das comunidades linguísticas no desporto; 2) a cooperação internacional e a liderança global na integridade desportiva; 3) as unidades nacionais de integridade desportiva; 4) o papel do desporto no desenvolvimento socio-económico; 5) o desenvolvimento da formação e a proteção dos menores.

Escrito de outra forma, o evento promovido pelo ICSS quer um desporto leal e legal com uma ação que vai desde as instâncias desportivas até às governamentais. Porque os problemas a enfrentar não são pequenos. «Há ameaças sistémicas (que são desafios preocupantes) à integridade das competições. O que vem a público é a ponta do icebergue. [E] ninguém pode considerar-se imune a este tipo de mecanismos de criação de resultados ou fraude desportiva», declarou Emanuel Medeiros na passada quarta-feira lançando o que vai discutir-se no Palácio Foz.

O duro combate reformista

O dirigente português – fundador e presidente da EPFL (Ligas Europeias de Futebol Profissional) até 2013 – destacou que este «é um combate duro, sofisticado, que envolve muitas vezes organizações criminosas», assim como lembrou que «o problema não são só as apostas: o desporto é uma atividade económica [atravessado] por fundos, off-shores, direitos de imagem, evasão fiscal, direitos económicos...»

É, por exemplo, a regulação das apostas como a erradicação da manipulação de resultados, ao maior nível global possível, o que vai estar em debate em Lisboa. O ICSS quer «passar das palavras aos atos, contra o conformismo e atavismo de governos e agentes, com um propósito reformista». O pioneirismo anunciado por Emanuel Medeiros evoca a abrangência das instâncias envolvidas e a envolver.

A cimeira promovida pela ICSS envolve organizações como a UNESCO ou o Conselho da Europa e é feita no âmbito da junção de decisores das maiores comunidades linguísticas a nível mundial, como a «Commonwealth», a CPLP, os países da «Francophonie», ou a Organização dos Estados Ibero-Americanos. O objetivo é «fazer uma agenda comum e ter uma abordagem inter-regional» ao mais alto nível governativo entre o maior número de países na prossecução da integridade desportiva.

É necessário trabalho conjunto

Esta abordagem inclui, obviamente, as instâncias desportivas, em concreto, a FIFA e a UEFA com caso do futebol. Mas os problemas em cima da mesa vão para além delas. «Respeitamos a autonomia do movimento desportivo, mas a autonomia não é ilimitada nem incondicional», frisou Emanuel Medeiros explicando também por que é necessário a intervenção dos governos: «Nenhum organismo desportivo tem capacidade para fazer investigação [policial].»

«O movimento desportivo não pode responder ao que se passa nos off-shores nem regular os fundos que estão nos off-shores», deixou como exemplo o CEO da ICSS acrescentando que «as autoridades não devem esperar que os crimes aconteçam para agir: é preciso a prevenção». «Hoje, conhecemos o modus operandi quer nas apostas ilegais, quer no branqueamento de dinheiro, quer no tráfico de menores», garante.

O «espírito reformista» da ICSS «antecipa problemas para mobilizar estruturas internacionais e pô-las a trabalhar em conjunto» e apresenta-se em Lisboa numa altura em que estes temas continuam em cima da mesa, quer a nível nacional em relação ao «problema antigo e complexo» da «imigração ilegal no futebol», como tem vindo a ser noticiado ou o anúncio pela UEFA do passaporte biológico para o futebol no combate ao doping no futebol europeu.
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