João Botelho: este filme salvou-lhe a vida - TVI

João Botelho: este filme salvou-lhe a vida

Realizador sentiu-se «escorraçado» com a má experiência de «Corrupção»

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O realizador João Botelho estreia no dia 19 a longa-metragem «A corte do Norte», adaptada de um romance de Agustina Bessa-Luís, um filme que diz ter-lhe salvado a vida depois da polémica com «Corrupção».

«A corte do Norte» é o primeiro filme de João Botelho com exibição comercial depois de «Corrupção», que recusou assinar por divergências com o produtor, Alexandre Valente.

Em entrevista à agência Lusa, João Botelho explicou que, depois das polémicas com aquele filme, sentiu-se «rejeitado por artistas», porque se tinha atrevido a fazer um filme popular, e «escorraçado», porque não o assinou.

«Fiquei sozinho no mundo, mas tinha um filme na mão para fazer» - disse - e esse filme era inicialmente um projecto do realizador José Álvaro de Morais, já falecido, de adaptação do romance «A corte do Norte», de Agustina Bessa-Luís.

Em honra da memória do amigo e da genialidade que diz encontrar na obra de Agustina Bessa-Luís, João Botelho aceitou concluir o projecto que agora chega às salas de cinema.

«A corte do Norte» é um filme de mistérios sobre quatro gerações de mulheres, que se desenrola ao longo de um século entre a Madeira e Lisboa e que tem por base a história verídica da actriz Emília das Neves, referida no filme como Emília de Sousa.

Veja as imagens do filme:



«É um filme sobre a arte que está acima da vida, o abandono de todas as condições sociais para ser artista», resumiu João Botelho, referindo-se à personagem Emília de Sousa, prostituta e promissora actriz de teatro do século XIX que se casou com um herdeiro madeirense.

Farta da vida burguesa e isolada na ilha madeirense, Emília de Sousa simula o seu desaparecimento, um mistério que perdurará por quatro gerações e que será resolvido por uma trineta já nos anos 1960.

«O outro grande tema do filme é que as mulheres são geniais, fantásticas e grandes e os homens são débeis e tontos», ums história de família e de luta, que João Botelho disse ter tentado seguir com rigor a partir da história de Agustina Bessa-Luís.

O realizador só acrescentou uma frase ao texto, sendo o resto adaptado literalmente do romance e incluído no filme através de uma narradora, Maria João Cruz, como se fosse a própria Agustina a contar a história.

Apesar da saúde débil, João Botelho afirmou que a escritora ainda viu o filme e respondeu-lhe em carta que tinha ficado comovida com a adaptação.

A actriz Ana Moreira é a protagonista de cinco papéis diferentes - Emília de Sousa e descendentes e da imperatiz Sissi, Isabel da Áustria, à frente de um elenco que inclui ainda Rogério Samora, Ricardo Aibéo, Custódia Gallego, Margarida Vila-Nova, Rita Blanco e Virgílio Castelo, entre outros.

Além da fidelidade ao texto de Agustina, João Botelho idealizou esta adaptação influenciado pelo jogo de luz e sombra da obra do pintor italiano Michelangelo Caravaggio, transformando muitas das cenas do filme em pinturas ao vivo.

«O cinema é luz e sombras, é a representação do ser humano em luz e sombra. Não somos [os realizadores portugueses] muito bons na acção, mas somos brilhantes na composição. Não temos muito dinheiro para os grandes efeitos, mas temos tempo para pensar», defendeu o cineasta, de 59 anos.

«A corte do Norte» é uma produção da Filmes do Fundo, feita com o apoio do Instituto do Cinema e Audiovisual e da RTP e rodada em digital, um recurso mais barato do que a película e que permitiu canalizar o orçamento, de 750 mil euros, para outras áreas, como o guarda-roupa, importado da República Checa.
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