IndieLisboa: é assim a vida selvagem dos humanos - TVI

IndieLisboa: é assim a vida selvagem dos humanos

«Attenberg», ou a evolução segundo Athina Rachel Tsangari

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Esta tarde no IndieLisboa vai poder ver-se um filme que tem na sua economia uma razão numérica inversa do seu interesse. São poucos os ingredientes de que Athina Rachel Tsangari precisou para realizar «Attenberg»: de que o elenco de apenas quatro actores é um excelente exemplo. De entre estes sobressai Ariane Labed como Marina, a personagem principal que vê os programas de David Attenborough e que tem a vida e este filme pela frente.

«Attenberg» é desenvolvido numa atmosfera de cenários povoados quase em exclusivo por quem protagoniza - fazendo lembrar aquele alheamento espacial que também se experiencia nos exteriores de «Canino» (que Tsangari produziu) - e que nos deixa sem margem para distracção relativamente ao que está ali para nos interessar.

Os locais são fulcrais para associar os respectivos relacionamentos que Marina tem com as outras personagens - a fábrica, o hospital, o hotel, ou a zona residencial. Mas são também mostrados despidos de décors humanos que sejam estranhos à vida desta criatura que seria um objecto precioso dos programas de Attenborough se ele tivesse feito algum sobre as pessoas.

Fê-lo Athina Rachel Tsangari, naqueles espaços, e com uma comunidade de actores resumida a quatro. À volta de Marina existem o pai Spyros (Vangelis Mourikis) em estado terminal, a amiga Bella (Evangelia Randou) que quer emancipá-la sexualmente, e o engenheiro (Giorgios Lanthimos) com quem ela estabelece uma relação.

E Marina é esse animal humano que vai fazendo a sua própria aprendizagem vivencial em conformidade com o meio ambiente que a enforma - e ao qual, como qualquer animal, vai ter de fazer a sua adaptação que será nada menos do que a sua própria vivência; e existência. E que, à semelhança dos programas de Attenborough, Tsangari nos mostra como pertencendo à classe dos sobreviventes da espécie.

Ariane Labed é excelente no papel desta miúda (?) que carrega num ombro a inocência de uma juventude que tarda em desprender-se de vez do seu estado adulto e no outro ombro o peso da inelutabilidade de uma perda com data marcada e cuja resposta só pode ser dada por quem já largou as amarras dessa juventude.

Esta evolução que é uma sobrevivência é transversalmente atravessada pela sua emancipação sexual - que começa quando o filme começa, como ponto de partida para essa evolução que por essa emancipação se consuma.

«Attenberg», Athina Rachel Tsangari, Grécia, 2010, 95`

Às 14h45 no São Jorge 3

Repete 3ª feira, dia 10, às 21h30 no São Jorge 3
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