A vocação encontrada de Anabela Moreira - TVI

A vocação encontrada de Anabela Moreira

Entrevista com a atriz de «É o Amor», cobaia voluntária de um método de trabalho «enriquecedor»

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Cúmplice criativa de João Canijo na quarta longa metragem, a atriz Anabela Moreira não concorda com a provocação do realizador, quando este rejeita a ideia de direção de atores. Mas é apenas uma questão semântica, explica na entrevista que se segue.

Discorda da ideia de que direção de atores é contraproducente?

Acho que o João entende a expressão no sentido de dirigir os actores para algo. Para ele, e para todos nós actores, sermos dirigidos nesse sentido é não estar a partir da interioridade. Se pudermos dar outro sentido, que não o de uma direcção imposta, obviamente que ele acaba por dirigir-nos, a partir de nós mesmos. Como realizador e encenador está constantemente a relembrar-nos disso, e é também uma forma de nos dirigir para a nossa individualidade. Portanto é só uma questão da expressão que ele rejeita, por esta ser vista de uma determinada maneira.

Em que é que este método de trabalho com os atores a enriquece?

É um processo enriquecedor para qualquer pessoa poder passar por circunstâncias tão diferentes das nossas. Eu comecei por fazer isto um bocadinho porque percebi que era o que o João pretendia de mim. No fundo não deixa de haver aqui a tal palavra «direcção», no sentido em que o interpretei dessa forma. Se calhar pode-se falar dessas experiências limites, de ter feito isto e aquilo como preparação, mas no fundo fiz isso porque senti que era importante para o João. Prestei-me a isso e senti que pode ser muito divertido, até quase uma vocação. Se não voltasse a ser actriz, conseguia ver-me perfeitamente a ser o chamado «adviser» ou a pesquisar para argumentistas, escritores e realizadores, colocando-me onde fosse preciso. Percebi que gosto disso, de fazer esse trabalho.

Sentiu-se a representar em «É o Amor»?

A partir do momento em que estou desde o início a fazer um esforço para alterar a minha forma de estar, andar e falar, obviamente que já não sou a Anabela que está aqui. Mas também não sou um personagem fechado no sentido de se poder dizer que estou pronta para representar este papel num filme de ficção acabado. Estou entre um lado e o outro, na fase do estágio. Este processo que o João pretende, no próximo filme, de colocar pessoais reais no meio da ficção, é maravilhoso para os actores. Essas pessoas reais estão constantemente a dirigir-nos para o local certo, não nos deixam fugir para muito longe da realidade. Servem um bocadinho de baliza e dirigem-nos de forma inconsciente. Imaginando que eu faço parte do próximo filme e vou a pé até Fátima com um grupo de pessoas que estão realmente a ir a pé até Fátima, tudo isso é uma circunstância extremamente poderosa no imaginário de um ator.
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