«No»: um filme que «não foi pensado para aulas de escola» - TVI

«No»: um filme que «não foi pensado para aulas de escola»

«No»

Película que abre o IndieLisboa 2013 recupera os «fantasmas» da memória do realizador Pablo Larraín sobre o fim da ditadura de Pinochet no Chile

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O realizador chileno Pablo Larraín, que abre o festival de cinema IndieLisboa esta quinta-feira com «No», disse à agência Lusa que quis falar dos «fantasmas» da sua própria memória e olhar para a realidade a partir da ficção.

«Não me interessa fazer filmes de caráter historiográfico, que sejam uma espécie de tratado histórico. Este filme não foi pensado para aulas de escola ou universidade; tem a arbitrariedade do filtro», disse à Lusa, a partir do Chile.

«Dou-me ao luxo da arbitrariedade, como qualquer cineasta, porque trabalho a partir do meu imaginário, da minha memória, com os meus fantasmas», frisou, insistindo que, através do cinema, lhe interessa «entender os fantasmas».

O cineasta não estará no IndieLisboa para assistir à estreia em Portugal de «No», em que o ator mexicano Gael García Bernal interpreta um publicitário que desenvolve uma campanha a favor do «não» no referendo de 1988, sobre a permanência de Augusto Pinochet no poder, que acabou por pôr fim aos 16 anos de ditadura.

«No» dividiu os chilenos, que dele disseram o melhor e o pior. Nascido após o golpe militar de Pinochet, Larraín já esperava as divisões, em resultado dos «contrastes ideológicos» do país.

Satisfeito por não ter gerado «indiferença», o realizador conta que «houve comentários de todo o tipo, muito negativos e muito positivos».

Os críticos do filme «entendem a realidade como um móvel rígido» e, portanto, não estão preparados para olhar a história «pelo filtro da ficção do cinema», diz.

No Chile atual, «há gente que prefere não recordar nada, há gente que só quer recordar o que quer, há gente que tenta organizar a memória, (...) para entender o que se passou», enumera.

As ditaduras que, «lamentavelmente», se instalaram «em toda a América Latina» são «muito interessantes do ponto de vista dramático e do ponto de vista do imaginário social» para quem faz cinema, sem quaisquer «objetivos revisionistas, nem tão pouco de mudança», mas apenas para «gravar» a memória pessoal nos filmes.

«O cinema chileno está a viver um grande momento, há muitos filmes circulando, novos cineastas, novos olhares, muita diversidade, para além de quantidade», observa Pablo Larraín.

«Há de tudo, mas todo o cinema é político, embora alguns filmes tenham uma intenção política mais notória do que outros», distingue, assinalando que, nos últimos cinco anos, «o cinema chileno conseguiu instalar-se internacionalmente».

Apesar de a indústria ainda ser «pequena» e «incipiente», é também «muito saudável e está a produzir filmes interessantes», e os autores «estão a pôr a sua própria memória» nos filmes, que deve ser «o caminho», sustenta.

Os apoios oficiais ao cinema são «cada vez mais, embora não suficientes», e o número de espetadores de filmes chilenos «tem aumentado».

Defendendo que se melhore «a sincronia entre o que o público quer ver e o que os cineastas estão a fazer», Larraín diz que falta «uma legislação que permita proteger [os filmes nacionais] do canibalismo do cinema dos Estados Unidos».

Depois de ter feito «uma trilogia não intencional» sobre a ditadura, o realizador diz que deixará, «por agora», de trabalhar o tema, mas não adianta detalhes sobre o futuro, porque «dá azar falar dos filmes que ainda não se fizeram». Brincando, confessa: «Nem sequer se deve contar à própria mãe».

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