«É o Amor» nas salas: um «híbrido» para passar emoções - TVI

«É o Amor» nas salas: um «híbrido» para passar emoções

Novo filme de João Canijo, depois do sucesso de «Sangue do Meu Sangue»

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Depois das antestreias em Vila do Conde e no Indie Lisboa, no passado fim de semana, é já nesta quinta-feira que chega às salas, em Lisboa e no Porto, o filme «É o amor», de João Canijo. Ano e meio depois do sucesso de «Sangue do meu sangue», o realizador muda o registo, apresentando um objecto que funde ficção e documentário para mergulhar na vida de um grupo de mulheres das Caxinas, comunidade piscatória de Vila do Conde.

Na quarta colaboração com Canijo em longas-metragens, depois de «Noite Escura», Mal Nascida» e «Sangue do meu Sangue», a atriz Anabela Moreira é a «infiltrada» no quotidiano daquelas mulheres, representando uma atriz que pesquisa para um filme sobre as Caxinas. O jogo esbate fronteiras entre realidade e ficção, e entre o que é ou não representação. E assim se soma ao debate sobre uma obra de autor que tem na relação com os atores um dos traços mais fortes.

Convidado pelo IndieLisboa a complementar as sessões de apresentação do filme com uma «Masterclass» sobre representação, o realizador fez-se acompanhar da atriz para o debate com estudantes. A conversa partiu da tese de mestrado que fez sobre o tema: «não tenho grau académico e com a crise é capaz de dar jeito» ironiza. Inevitavelmente, o debate foi pontuado por algumas frases ao seu estilo: «Se tentarmos impôr uma representação, depois não temos nada para roubar», provoca.

Canijo assume-se como «um estudioso de questões de representação» ao mesmo tempo que desmonta o conceito de direcção de atores pelo qual é muitas vezes elogiado: «É algo que não faço há muitos anos. Para mim a direção de atores não faz qualquer sentido, é mesmo um contrasenso», diz.

Anabela Moreira, que em «É o Amor» prosseguiu a experiência extrema de pesquisar a personagem vivendo em permanência no local das filmagens, como já tinha feito em «Sangue do meu Sangue», não poupa elogios ao método de trabalho: «Todos os actores deviam ter uma vez na vida uma experiência de trabalho com o João», começa por dizer, antes de admitir que o processo tem custos: «O meu primeiro estágio, há dez anos, foi numa casa de alterne. Ao fim de dez dias cheguei ao meu limite. E fiquei vacinada para todos os estágios que vieram depois», conta.

Em «É o Amor», ao contrário do que aconteceu nos filmes anteriores, o processo ficou deliberadamente a meio. «No filme já não sou a Anabela que está aqui, mas também não sou um personagem fechado. Estou entre um lado e o outro, na fase do estágio», resume a atriz. «É um híbrido», define Canijo, que se assume cada vez mais interessado em esbater as fronteiras entre real e ficção. O realizador lembra que a disponibilidade da atriz lhe permitiu queimar etapas na pesquisa e na interação com a comunidade: «com uma infiltrada fez-se o trabalho em mês e meio, em vez de demorar seis meses», resume.

Filme mais exigente para o público, pelas fronteiras deliberadamente esbatidas, «É o Amor» chega às salas sem expetativas de replicar o sucesso de «Sangue do meu Sangue». Ano e meio depois da estreia, esse filme continua um percurso que o levou a ser exibido em 46 festivais, e a receber um conjunto apreciável de prémios. João Canijo desvaloriza a questão, lembrando duas coisas. Uma, o facto de encarar «É o Amor», em alguns aspectos, como «um ensaio para o próximo filme». Outra, a ideia de que, ficção ou documentário, representado ou não, o filme tem o mesmo objetivo de sempre: suscitar emoções em quem o vê. «A emoção tem passado, e estou contente por isso», conclui.
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