Para as forças norte-americanas, o atirador dos SEAL foi um herói. Recebeu várias condecorações de relevo ao longo da carreira, incluindo estrelas de bronze e de prata. Já para os dissidentes da guerra do Iraque, na qual Kyle combateu, o sniper era o «Diabo de Ramadi» e a sua cabeça valia cerca de 80 mil dólares (quase 70 mil euros).
No Iraque, foi alvejado por duas vezes e ferido em seis explosões. Mas nenhum elemento inimigo conseguiu deter a precisão e a eficácia deste atirador de elite, conhecido por conseguir acertar no alvo mesmo a grandes distâncias. Aliás, o sniper, que morreu em 2013, só não conseguiu sobreviver às balas de um colega veterano, num tiroteio ocorrido no Texas.
O tiro certeiro mais longo que terá efetuado, segundo o que o próprio escreveu no livro autobiográfico «Sniper Americano», que deu mote ao filme, foi num alvo a mais de 1900 metros.
Natural do Texas, orgulhosamente nacionalista, até chegou a afirmar que gostava de ter morto mais gente, não pelo ato de matar em si, mas pelo facto de acreditar que isso permitia salvar outras vidas. De resto, o seu pragmatismo terá contribuído para a eficácia nunca antes registada na história militar norte-americana.
O filme sobre o marine que agora chega às salas de cinema bateu recordes de bilheteira no fim de semana de estreia nos Estados Unidos, tornando-se na estreia de janeiro mais bem sucedida de sempre. Mas, mais do que isso, o filme tem dado muito que falar e já está a gerar alguma controvérsia. A pergunta que se impõe é: Kyle é, afinal, um herói ou um cobarde e assassino profissional?
Michael Moore, autor de documentários como «Bowling for Columbine», foi dos primeiros a opinar sobre o tema, afirmando, no Twitter, que os snipers não são heróis e que, no filme, os iraquianos são chamados de «selvagens».
My uncle killed by sniper in WW2. We were taught snipers were cowards. Will shoot u in the back. Snipers aren't heroes. And invaders r worse
— Michael Moore (@MMFlint) January 18, 2015
Oh, and Iraqis are called "savages" throughout the film.
— Michael Moore (@MMFlint) January 19, 2015
Moore foi mais longe: «Invadir um país que não nos atacou é ilegal e imoral. A história vai julgar-nos», escreveu na rede social.
Sorry to have to state the obvious again: Invading a country that hasn't attacked you is illegal & immoral. History will judge us harshly.
— Michael Moore (@MMFlint) January 19, 2015
Comentários que já mereceram uma resposta. O republicano que já foi Presidente da Câmara dos Representantes Newt Gingrich afirmou, também no mesmo microblog, que Michael Moore devia passar alguns dias com o Estado Islâmico ou o Boko Haram para poder apreciar o filme. «Estou orgulhoso dos que nos defendem», acrescentou.
Michael Moore should spend a few weeks with ISIS and Boko Haram. Then he might appreciate@AmericanSniper. I am proud of our defenders.
— Newt Gingrich (@newtgingrich) January 19, 2015
Também o ator Seth Rogen decidiu juntar-se à discussão. Rogen escreveu que o filme lhe fazia lembrar uma das partes de «Sacanas Sem Lei», de Quentin Tarantino, numa referência à propaganda nazi que é retratada neste filme.
American Sniper kind of reminds me of the movie that's showing in the third act of Inglorious Basterds.
— Seth Rogen (@Sethrogen) January 18, 2015
A polémica está instalada.
Entretanto, o pai do falecido sniper, Wayne Kyle , fez uma revelação surpreendente, numa entrevista ao «Daily Mail». Wayne deixou um aviso a Clint Eastwood quando este o contactou e lhe disse que pretendia fazer um filme sobre a vida do filho.
«Desrespeitas o meu filho e eu faço a tua vida num inferno.»
O filme tem Bradley Cooper na pele de Chris Kyle e está nomeado para o Óscar de Melhor Filme e o de Melhor Ator Principal. Em Portugal, chega às salas de cinema esta quinta-feira.