Uma cena de sexo que demorou quatro meses a filmar - TVI

Uma cena de sexo que demorou quatro meses a filmar

"Anomalisa", longa-metragem de animação de Charles Kaufman

Equipa que tornou possível “Anomalisa”, uma longa-metragem de animação para adultos, chegou a trabalhar 10 horas para conseguir aproveitar dois segundos e meio de filmagem

Filmar uma cena de sexo costuma gerar algum nervosismo no set. A maioria da equipa de filmagens fica fora do estúdio, o aquecimento é ligado e roupões de banho estão sempre à mão. Mas as estrelas de "Anomalisa", um filme de animação para adultos, não receberam tal tratamento, embora a cena deles tenha sido a mais difícil e demorada de sempre. Esta cena de sexo, em particular, demorou quatro extenuantes meses de filmagens (sem contar com os dois de preparação) e os protagonistas foram, precisamente, os intervenientes a quem o trabalho menos custou.

Com 27 centímetros de altura e feitos de silicone, Michael Stone e Lisa Hesselman são as personagens centrais do que poderia ser apenas um candidato improvável aos Óscares deste ano. Nomeado para Melhor Filme de Animação, “Anomalisa" entra na corrida à estatueta dourada já vencedor do Grande Prémio do Júri no Festival de Veneza.

O filme é a primeira longa-metragem de animação de Charles Kaufman, que é tido como um dos mais importantes argumentistas de Hollywood, tendo escrito os argumentos de filmes como, “Queres Ser John Malkovich?” (1999),“Inadaptado” (2002), “Confissões de Uma Mente Perigosa” (2002) e “O Despertar da Mente” (2004). Kaufman estreia-se agora na animação em stop-motion com “Anomalisa”, filme que co-realiza com Duke Johnson.

"Anomalisa", que tem sido considerado pela crítica como "o filme mais humano do ano", centra-se nos bonecos de animação Michael Stone e Lisa Hesselman, mas os verdadeiros protagonistas são de carne e osso: a equipa que tornou possível que, muitas vezes, depois de 10 horas de trabalho, se conseguissem aproveitar dois segundos e meio de filmagem.

Em declarações à CNN, o supervisor de animação, Dan Driscoll falou das dificuldades de filmar em stop motion.

"Tudo o que se vê no ecrã é real, nada é criado digitalmente", explica.

 

Desde o movimento de um minúsculo copo de Martini até à urina de Michael Stone, “passando até por uma cena em que se vê o reflexo de Lisa nos olhos de Michael”, acrescenta.

 

"Não é fácil, há mesmo alturas em que amaldiçoamos aqueles bonecos", confessa Dan Driscoll.

E uma dessas alturas foi para tornar real a cena intimista entre os protagonistas, em que foram precisos dois meses de preparação. A animadora da cena, Kim Blanchette, passou esse tempo só a tentar perceber como se moviam os lençóis e que peso deveriam exercer os bonecos no colchão da mini cama. A este este período juntaram-se mais três ou quatro meses de filmagem.

"Havia dias em que se conseguia apenas 12 frames", revela.

As personagens Stone e Lisa são duas pessoas comuns, que possuem um rosto normal, um com uma cicatriz e outro com a barba por fazer. Possuem também um corpo normal que parece real, mesmo que na verdade sejam dois bonecos animados. A cena de sexo, explícita, entre os dois transporta o espectador para todo o realismo em que o filme se inscreve.

Esta é uma das mais incríveis e tocantes cenas de sexo do cinema, dizem os críticos, que começa com suspiros e risos, mas depois passa a ser intensa e tocante. Há os gestos, os embaraços e os tiques que oferecem à cena um maior realismo e humanismo. “Anomalisa” é um filme emotivo e humano, sem ter um único ser humano em carne e osso.

 

 

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