"Último Tango em Paris": atriz não sabia tudo sobre a cena de violação - TVI

"Último Tango em Paris": atriz não sabia tudo sobre a cena de violação

O Último Tango em Paris, de Bernardo Bertolucci

Realizador Bernardo Bertolucci combinou com Marlon Brando que seria usada manteiga na cena de sexo para conseguir uma reação "espontânea" de Maria Schneider

Bernardo Bertolucci pronunciou-se, finalmente, sobre a polémica cena da manteiga usada como lubrificante durante o filme “O Último Tango em Paris”, de 1972. O momento foi protagonizado por Marlon Brando e Maria Schneider, que chegou a acusar o ator de a ter feito sentir que tinha sido violada.

Há pessoas que pensaram, e que pensam, que a Maria não tinha sido informada da violência [da cena de sexo], mas isso é falso. Maria sabia de tudo, porque estava tudo descrito no guião. A única novidade foi a ideia da manteiga”, disse num comunicado divulgado nesta segunda-feira, citado pela Variety.

O filme “Último Tango em Paris” foi realizado por Bernardo Bertolucci e protagonizado por Marlon Brando e Maria Schneider, ele tinha 48 anos e ela 19.

Numa das cenas do filme, o ator viola a jovem, uma cena que gerou polémica e voltou a ser debatida depois de a imprensa internacional ter revelado uma entrevista onde o realizador admite ter decidido a utilização da manteiga naquela manhã de filmagens e em conjunto com Marlon Brando.

Eu especifiquei, mas se calhar não fui claro, que decidi com Marlon Brando não informar a Maria que utilizaria manteiga. Queríamos que a reação dela fosse espontânea àquela utilização imprópria”, explicou Bertolucci, que classificou toda a polémica em torno da cena como um “mal-entendido ridículo”.

O realizador italiano admitiu que queria que a atriz “sentisse a humilhação e a raiva”, em vez de a representar.

Para obteres qualquer coisa, acho que tens de ser completamente livre. Eu não queria que a Maria representasse a sua humilhação, a sua raiva. Queria que ela sentisse a raiva e a humilhação. E depois odiou-me durante toda a vida”, contou.

Maria Schneider morreu em 2011, aos 58 anos, vítima de cancro. A carreira da atriz começou cedo e o filme de Bertolucci marcou-lhe o percurso profissional e também de vida.

O filme conta a história de uma homem mais velho e de uma jovem que vivem uma paixão. A intensidade das cenas fez com que o filme fosse censurado e banido em muitos países na época.

Em 2007, numa entrevista ao Daily Mail, Schneider acusou o realizador de a ter enganado e Brando de a ter violado.

Devia ter chamado o meu agente ou mandado vir um advogado ao 'set' de filmagens porque não se pode forçar ninguém a fazer uma coisa que não está no guião, mas nessa altura, eu não sabia disso. O Marlon disse-me: 'Maria, não te preocupes, é apenas um filme', mas durante a cena, muito embora o que Marlon estava a fazer não era real, eu chorava lágrimas de verdade. Senti-me humilhada e, para ser honesta, senti-me também um tanto violada, tanto pelo Marlon como pelo Bertolucci. Depois da cena, o Marlon não me consolou nem pediu desculpa. Felizmente, houve apenas um 'take'”, recordou a atriz.

Maria Schneider nunca casou e a sua vida ficou marcada por vários episódios relacionados com consumo de drogas, problemas de foro mental e tentativas de suicídio.

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