O filme “Balada de um Batráquio”, de Leonor Teles, venceu um Urso de Ouro no festival de cinema de Berlim. A produção portuguesa foi premiada na categoria de melhor curta-metragem.
The winner of the #GoldenBear for Best Short Film is BALADA DE UM BATRAQUIO by Leonor Teles #Berlinale pic.twitter.com/danpEhRIgh
— Berlinale (@berlinale) 20 fevereiro 2016
"Balada de um Batráquio" expõe comportamentos xenófobos em relação a membros da etnia cigana em Portugal.
Leonor Teles disse à Lusa que receber o prémio "foi completamente inesperado".
"Foi completamente inesperado. Nunca pensei, achei que era impossível. Somos pequeninos, fizemos um filme com pouco dinheiro, sempre acreditaram em mim e estar aqui e ter ganhado o urso de ouro é uma coisa inacreditável."
A realizadora espera que a curta ajude a desconstruir preconceitos relativamente a esta comunidade.
"Se formos a ver, os ciganos estão à margem da sociedade e provavelmente lá vão continuar. Acho que falar um pouco sobre eles pode ajudar."
O filme aborda a prática comum em Portugal do uso de sapos de cerâmica, por parte de lojistas e proprietários de cafés e restaurantes, de forma a evitarem a entrada nesses estabelecimentos de membros da comunidade cigana, que têm várias superstições ligadas ao animal.
Leonor Teles, que tem raízes ciganas por parte do pai, diz que o filme "não apresenta só uma problemática mas tenta, de certa forma, combatê-la", uma vez que a própria realizadora sentiu a "urgência" de destruir vários desses sapos em frente à câmara.
A cineasta sublinhou que o prémio também "representa o reconhecimento de um trabalho de dois anos, e de todas as pessoas que trabalharam no filme".
Os momentos que se seguiram à entrega do prémio foram de "loucura abismal", comentou a realizadora, acrescentando que, além de receber o urso de ouro, ainda teve a oportunidade de conhecer o ator Clive Owen.
"E não é todos os dias que se conhece o Clive Owen. Isso sim é um sucesso na vida", gracejou a cineasta.
No discurso de agradecimento do prémio, que recebeu com supresa, Leonor Teles foi intercalando frases em português e inglês, confessando nunca ter pensado que o filme "pudesse receber este prémio".
"Quando fiz este filme 'tosco, nunca pensei estar aqui [na Berlinale], quanto mais em prémios", dissera a realizadora em entrevista à Lusa, em Berlim, quando o seu filme ainda se encontrava em competição.
"O que eu quero é que as próximas sessões corram bem, que as pessoas gostem do filme e, se não gostarem, [que] venham falar comigo [para o] discutirmos."
Este é o segundo filme de Leonor Teles que, em 2012, rodou "Rhoma Acans", também focado na comunidade cigana em Portugal e que lhe valeu o prémio Take One, no Curtas Vila do Conde, em 2013.
“Balada de um Batráquio” chegará às salas portuguesas pela mão da Portugal Film, indicou a distribuidora em comunicado.
Em 2012, João Salaviza foi distinguido com o urso de ouro nesta mesma secção do Berlinale, pela curta metragem Rafa.
Cavaco Silva felicita Leonor Teles
O Presidente da República já felicitou Leonor Teles, considerando que o galardão "vem confirmar o talento da jovem realizadora e representa o coroar de muitos esforços".
Cavaco Silva enviou uma mensagem de felicitações à realizadora, da qual deu nota no sítio da Presidência da República na internet, texto no qual destaca o "grande regozijo" pelo "triunfo alcançado pela cineasta Leonor Teles".
"Num ano em que a presença portuguesa neste importante Festival tem sido justamente realçada, quer pela sua dimensão, quer pela reconhecida qualidade das participações, o galardão atribuído a Leonor Teles vem confirmar o talento da jovem realizadora e representa o coroar de muitos esforços, com vista à consolidação e à projeção do cinema feito em Portugal."
Por este motivo, Cavaco Silva apresenta os "parabéns a Leonor Teles por este seu êxito, que tanto honra a cultura portuguesa, e dirigir as melhores saudações a todos quantos se têm empenhado, ao longo das últimas décadas, na afirmação do nosso cinema".
Filme sobre imigrantes em Lampedusa vence Urso de Ouro para melhor filme
O Urso de Ouro para melhor filme distingiu o filme "Fuocoammare", de Gianfranco Rosi, uma coprodução de Itália e de França. O júri do Festival Internacional de Cinema de Berlim, presidido pela atriz norte-americana Meryl Streep, atribuiu hoje os prémios da 66.ª edição que termina no domingo.
O documentário, que também recebeu o Prémio do Júri Ecuménico, o Prémio da Amnistia Internacional e o Prémio do jornal Berliner Morgenpost, passa-se na ilha de Lampedusa, Itália, e mostra a realidade da vida dos imigrantes que almejam chegar à Europa, um dos temas mais prementes da atualidade.
O filme terá distribuição em Portugal pela Leopardo Filmes, indicou a produtora em comunicado.
Esta edição do festival contou com a maior presença de sempre do cinema português no certame, com oito filmes de produção nacional, três dos quais na competição oficial, incluindo a longa-metragem "Cartas de guerra", de Ivo Ferreira, inspirada na correspondência de António Lobo Antunes.