O bichinho dos cromos em mais de 200 cadernetas - TVI

O bichinho dos cromos em mais de 200 cadernetas

  • Ricardo Jorge Castro
  • 13 abr 2018, 10:46

A caderneta de cromos do Mundial 2018 reanimou o fervor do colecionismo de futebol nas últimas semanas. Hugo Miguel Nunes tem mais de duas centenas de coleções e guarda todas as que Portugal participou em Mundiais e Europeus.

A cada caderneta. Página a página. Cromo a cromo. A paixão pelo colecionismo confunde-se com Hugo Miguel Nunes. «Só de futebol e desporto», atira, em jeito de apresentação, após abrir a porta de sua casa ao Maisfutebol, em Rio Tinto.

O «bichinho» pelos cromos deste homem de 43 anos é quase inato. Tem mais de 200 cadernetas, entre Mundiais, Europeus de futebol, campeonatos nacionais e Liga dos Campeões. Mas também de outras modalidades. A maioria, colecionadas de raíz. Outras, garantidas em negócios pela internet, fóruns ou feiras.

«Comecei desde criança a fazer coleções de cromos. Na minha adolescência, desliguei um bocadinho, aos 16, 17 anos. Depois, voltei. Tenho feito pouco a pouco, trocando e comprando», conta Miguel, que tem todas as cadernetas em que Portugal participou em provas internacionais. Isto é, desde o Mundial de 1966.

A mais recente é a do Mundial 2018 e reaviva o fervor dos cromos. A Miguel «já faltam poucos», para acabar a coleção mais recente. Mas encara «com tranquilidade». Defende que as coisas vão surgindo. «E acaba-se sempre», remata.

A primeira do espólio pessoal data de 1982. Mundial de Espanha. Daí em diante, um sem fim de dedicação.

«Não tinha uma caderneta e fui a Coimbra»

De trocas entre colegas e o rasgar de saquetas, Miguel procura outros meios para fazer crescer a biblioteca. «Desloco-me a feiras a Braga, Vila Real, Covilhã, Pombal, Lisboa…», enumera.

Pelo meio, Coimbra. De comboio. Por uma caderneta.

«Não tinha uma caderneta e tive de deslocar-me. Fui a Coimbra. E é aquela situação de a pessoa dizer: “Olha, tens que vir hoje, senão tenho aqui mais interessados”. Meti-me no comboio, fui ter com o senhor e fizemos negócio. Vim embora todo contente com a caderneta. É de 1955, dos campeões nacionais, sobre várias modalidades». Miguel deu 150 euros por ela.

Mas já dobrou a parada por outra. «O máximo que gastei foram 300 euros». A caderneta era de 1973. «Os cromos dos caramelos, era futebol, campeonato nacional», elucida.

Miguel reconhece que hoje que o raio de ação para trocas é mais fácil. Mas ainda procura as coleções da Panini, dos Mundiais de 70 e 74. «Há cadernetas bastante raras», constata. Mas «há muita coisa ainda em circulação», contradiz.

É por isso que Miguel vai à procura de cadernetas e cromos das décadas de 60, 70 e 80. «Há várias coleções por acabar, isso é o que faz mover o bichinho. Eventualmente, uma caderneta incompleta que surja em que eu possa encontrar um ou outro cromo que falte para a minha. Ou podem surgir cromos soltos», refere.

Sem agrafos, sem resultados

Para Miguel, o colecionismo envolve cuidados. Cada coleção está num plástico acondicionado. Separa-as por competições, em capas diferentes. Etiquetadas. E mais:

«Um colecionador tira os agrafos às cadernetas todas. O agrafo, antigo, pode ganhar ferrugem e dá cabo da caderneta no meio», avisa.

Outro pormenor: os resultados. «A maior parte dos colecionadores não gosta de ter os resultados escritos nas cadernetas. Gostam delas limpinhas, branquinhas e [os cromos] colados pela ponta. Se não conhecesse o jogador, não sabia que estava colado no sítio certo», justifica. É por isso que não fica com qualquer uma. «Gosto das coleções impecáveis», acrescenta.

Entre tamanho pormenor, Miguel defende que «há uma nova vaga de colecionadores». «Gostam muito de fazer por colar. Arranjam a caderneta nova, vazia, o set dos cromos e fica assim. No futuro, vale mais do que colados. O colecionador tem sempre aquele gosto de pegar na caderneta nova e colar», expõe.

Na sala de estar, onde recebe o Maisfutebol, Miguel desvenda um arquivo de um «objetivo» pessoal. Uma coleção… de saquetas. «Tenho as saquetas e o cromo correspondente», revela. De clubes a seleções, muito futebol enquanto folheia as páginas encapadas.

E mais memória, além do papel: faz questão de fotografar as cadernetas «folha a folha» e guarda em formato digital no computador. Porque «quem corre por gosto não cansa».

«Objetivo de um colecionador é ter tudo sobre o tema»

Para Hugo Silva, autor do livro “Por Falar em Cromos…”, «qualquer coisa que exista e possa ser exposto, é alvo de colecionismo».

«Há os pacotes de açúcar, postais, cromos. A parte dos cromos, acredito que as pessoas gostam dos jogadores, de ir ao futebol. E ter esses jogadores em papel, poder colecioná-los, acaba por ser um fascínio», defende Hugo, que juntou, em livro, as coleções da liga portuguesa de 1934 a 2016.

«O objetivo final de um colecionador é ter tudo o que existe sobre o tema que se coleciona», acrescenta, defendendo que «há uma pequena diferença entre um colecionador e um juntador». Porque há quem coloque tudo «a monte».

«Um verdadeiro colecionador tem gosto em ter os seus itens bem guardados e expostos. Na minha coleção, tenho todas as cadernetas individualmente colocadas dentro de um saco selado, que não permite a entrada de ar para não estragar. Depois, estão em capas, divididas por anos, tudo organizado. Ser colecionador é gostar de ter as suas coisas expostas, para o próprio colecionador gostar daquilo que vê», remata.

 

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