A antiga promessa de Benfica, Vitória e Sp. Braga que brilha no Valadares - TVI

A antiga promessa de Benfica, Vitória e Sp. Braga que brilha no Valadares

Didi (Arquivo pessoal)

Didi, de 27 anos, chamou a atenção dos vimaranenses aos 14 anos. Completou toda a formação e partiu para o Seixal, onde jogou com jogadores como Bernardo, Cancelo ou Semedo. Brilhou na equipa B dos bracarenses sob o comando de Abel, acabando por ser feliz em Arouca e em Vila Nova de Gaia

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"Conto direto" é uma rubrica do Maisfutebol, que dá voz a protagonistas dos escalões inferiores do futebol português. As vivências, os sonhos e as rotinas, contados na primeira pessoa.

Didi, 27 anos, médio do Valadares Gaia:

«Comecei a jogar numa escola de futebol em Guimarães chamada Fair-Play com quatro anos. Joguei lá até aos 14 anos. Houve um momento, a partir dos dez anos, em que começámos a competir contra o Vitória e chamei a atenção do clube.

Quando tinha 14 anos, recebi um convite do Vitória e tive a oportunidade de disputar o campeonato nacional de iniciados. Fiquei lá até aos sub-19. Nos sub17, a equipa ficou-se pela segunda fase da zona Norte, não conseguindo o apuramento para fase de campeão. Então, acabei por ser convocado para a equipa de sub-19 do Vitória quando ainda era juvenil.

Na altura acho que fui o único da minha idade a ir fazer alguns jogos. É normal sentir que havia alguma confiança por parte do clube em mim, mas nunca de forma negativa. Nunca achei que era mais que ninguém por isso.

Os meus dois anos de júnior foram bons, joguei quase sempre. No primeiro ano falhei um jogo ou outro, mas no segundo ano joguei praticamente sempre. Foi uma experiência muito boa. Preparou-me para aquela transição difícil de júnior para sénior num contexto profissional. Passava-me pela cabeça ser profissional ainda antes de chegar aos sub-19 do Vitória. Esse sonho já estava dentro de mim há alguns anos. Com o avançar de patamares, fez-me acreditar que era possível.

No primeiro ano de sénior mudei-me para o Benfica B. Houve a hipótese de continuar no Vitória, mas escolhi ir para o Benfica. Na época, o Vitória tinha uma dívida para com o Benfica e o Benfica escolheu quatro jogadores da formação para saldar essa dívida. Eu fui um deles. Numa primeira fase estava de pé atrás e pensei que fosse melhor ficar no Vitória no entanto, acabei por ir.

A nível desportivo a época no Benfica não foi positiva. Como se costuma dizer, não contava para o Totobola. Ainda assim, foi uma aprendizagem tremenda. Cresci muito e aprendi a lidar com momentos adversos que uma carreira no futebol pode ter. Ganhei bagagem para o futuro, no fundo.

Atenção, essa geração do Benfica era muito forte. Foram os primeiros anos das equipas B e houve uma aposta muito forte nos jogadores crescidos no Seixal. O Bernardo era, sem dúvida, diferente. Tinha um toque especial, mas havia mais jogadores com potencial brutal como o Cancelo, o Cavaleiro, entre outros.

Se calhar não se esperava tanto do Semedo e ele alcançou um patamar tremendo. No início dessa  temporada, não era grande aposta, mas houve um momento de viragem e ele foi por lá cima. Todos fizeram carreira e estão, na generalidade, em bons patamares.  

No fim desse ano, os responsáveis do Benfica informaram-me que não contavam comigo e procurei um caminho diferente. Na altura, surgiu o Sp. Braga com a ajuda do meu empresário. Sou de Guimarães e sou do Vitória, mas não se podem misturar as águas. Se queremos realmente isto, temos de aproveitar todas as oportunidades e não olhar com o coração.

O Sp. Braga foi a oportunidade ideal na hora certa. Passei quatro anos fantásticos no clube. Trabalhei com o Abel e já naquele tempo se sentia, não só eu mas várias pessoas, que ele tinha um potencial enorme e que iria conseguir o sucesso que conseguiu. Ainda hoje, do que vou vendo, ele continua a ser a mesma pessoa. É muito genuíno.

Nunca me estreei na equipa principal apesar de ter sido convocado várias vezes. Houve um momento em que pensei que isso iria acontecer. Quando saiu o Jorge Simão e o Abel assumiu a equipa A, comecei a treinar com eles. O Abel fez meia dúzia de jogos e convocou-me para os dois últimos jogos. Poderia ter jogado, mas não aconteceu.

Depois disso ainda fiz mais uma época no Sp. Braga. Fiz a pré-época na equipa principal, mas acabei por jogar pela B. Entretanto, acabei contrato. Os responsáveis do clube achavam que não estava preparado ou que não tinha capacidade suficiente, não sei. É daquelas coisas que nunca vamos saber. Acabei contrato e assinei pelo Arouca.

Foi uma experiência nova. Pela primeira vez fiz parte de um plantel principal. Vivi um ano complicado e acabámos por descer de divisão. Havia um projeto ambicioso, no qual o objetivo interno era lutar pela subida de divisão. Porém, logo no início as coisas começaram a correr mal e andámos sempre perto da linha de água. Vivemos várias situações de sufoco e as coisas não correram bem. No entanto, a nível individual não foi uma má época. Havia vários jogadores com bastante experiência para a minha posição como o Soares, o Ericson e o Bruno Alves e consegui jogar com regularidade e a um nível aceitável.

A época não foi má individualmente, mas como descemos de divisão acabei por pagar a fatura. Ainda tinha mais um ano de contrato com o Arouca, mas o clube entrou em incumprimento salarial e cheguei a acordo para rescindir. Acabei por voltar ao Vitória B, não era o que queria para a minha carreira porque estava a descer um patamar competitivo, mas dentro do que apareceu foi o que mais me agradou.

Agradeço ao Vitória por me ter formado e por me ter dado essa oportunidade numa fase em que poucas portas se abriram para mim. Fiz meio ano no Vitória, comecei a jogar, mas mais tarde deixei de ser opção e decidi procurar outro clube para jogar e ver se voltava a um patamar superior. O Quim Berto assumiu o comando técnico do Torreense e como ele já me conhecia, convidou-me para ir para lá. Fui por empréstimo do Vitória. Estive lá dois meses, porque houve a paragem devido à covid-19.

Assinei só por um ano com o Vitória e como tal, fiquei livre. Foi uma época complicada, jogou-se pouco e não houve grandes portas para mim. O mister Carlos Cunha, que começou a época no Valadares, ligou-me e com a ajuda do Bruno Alves, que jogou comigo em Arouca, convenceu-me. Achei que era uma boa solução até pelo projeto que os dirigentes têm para o Valadares.

A minha rotina é simples. Tomo o pequeno-almoço em casa, apesar de o clube oferecer. Porém, como faço a viagem de Guimarães para Gaia, prefiro tomar o pequeno-almoço em casa. Chego ao estádio por volta das 9h45. O treino dura no máximo duas horas e no final volto a Guimarães. De tarde, aproveito para fazer algumas coisas que gosto. Não tenho outra atividade, além do futebol.

Estou a fazer uma boa época. O começo do campeonato foi tremido para a equipa, manchando as prestações individuais. Na segunda volta recuperámos e agora estamos muito bem. À entrada para a última jornada temos possibilidades de ir à fase de apuramento para a terceira Liga. Esse era o principal objetivo do clube e acredito que vamos conseguir.

Vamos jogar contra o Beira-Mar na última jornada, vai ser complicado. Eles estão na luta pela manutenção, no entanto, estamos no nosso melhor momento e acredito que vamos ganhar. Estamos empatados pontualmente com a Sanjoanense, a única diferença é a diferença de golos. Há ainda o caso do São João de Ver que vai jogar contra o Lourosa, que não precisa do jogo, mas é um jogo entre rivais. O Lourosa já garantiu o acesso à fase de apuramento, mas não vai querer perder três jogos com o São de Ver na mesma época. É uma questão de honra.»

 

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