Joca, 22 anos a jogar no Amora: «Ainda tenho esperança de jogar as ligas profissionais» - TVI

Joca, 22 anos a jogar no Amora: «Ainda tenho esperança de jogar as ligas profissionais»

Joca (foto: Amora)

Capitão do emblema da margem sul do Tejo é o protagonista do «Conto Direto» desta semana

"Conto direto" é a rubrica do Maisfutebol que dá voz a protagonistas dos escalões inferiores do futebol português. As vivências, os sonhos e as rotinas, contados na primeira pessoa.

Joca, 28 anos, extremo e capitão do Amora.

«Por norma levanto-me às oito da manhã. Tenho de estar no clube às nove, para tomar o pequeno –almoço, e depois treinamos às 10h30. Duas ou três vezes por semana tento ir ao ginásio da parte da tarde. Nos dias em que não vou, opto por descansar e dormir uma sesta de uma hora.

Nem sempre tive contrato profissional, mas praticamente toda a carreira só joguei futebol. A exceção foram ali três meses em que o futebol, financeiramente, não estava a dar muito dinheiro, e acabei por trabalhar uns tempos na UBER. Nessa altura treinávamos de noite, e também foi uma forma de não passar o dia todo sem fazer nada. Pegava no carro e ia para Lisboa. Era uma forma de estar ativo. Mas acabei por sair ao fim desses três meses, e por essa altura o Amora deu-me contrato profissional.

O futebol sempre esteve muito presente na minha família. O meu pai jogou futebol amador e o meu tio, Bruno Corte Real, foi profissional. Jogou também no Amora, ainda foi júnior do Benfica, e depois esteve no Braga B, e também passou pelo Envigado, da Colômbia, e pelo Sparta, da Holanda, entre outros. Ver o meu tio a jogar, que é das primeiras memórias que tenho, fez-me querer jogar no Amora. A minha mãe levava-me aos treinos, no início, sempre me apoiou muito.

Também sempre andei muito na rua, a jogar com os amigos, com balizas de pedra. Sempre fui apaixonado por futebol. Comecei no Amora aos seis anos, nas escolas de formação. Nem havia competição. Só aos sete ou oito anos é que começaram os torneios, e por isso é que dizem que tenho 20 anos de Amora, mas são mais. Comecei no Amora por ver o meu tio como um ídolo. Ele era uma referência no clube, e foi muito por aí que quis vir para o Amora. Também cresci aqui, e sempre foi ótimo jogar aqui.

Agora também joga aqui a minha irmã [ndr. Ana Carolina Monteiro, de 21 anos]. Ela começou no Paio Pires e depois esteve no Sporting, mas sofreu uma lesão grave e esteve um ano sem jogar. Veio para o Amora tentar relançar a carreira. Costumamos falar de futebol, mas sobretudo do dia a dia de ambos. Tento dar-lhe conselhos, para que ela seja forte psicologicamente, até porque está em fase de recuperação. Ela já me disse que sou o ídolo dela, mas agora não sei. Se calhar cresceu e tem outros ídolos. Mas sei que gosta muito de mim, que olha para mim como exemplo, e isso pesou na decisão de vir para o Amora.

Na formação, até ser juvenil de segundo ano, não jogava muito. Cresci mais tarde. Era muito baixinho, franzino. Tocava bem na bola, mas não me adaptei tão bem ao futebol de onze. Evoluí mais tarde, nos juniores. Cheguei a ir treinar ao Benfica, quando era iniciado de primeiro ano. Fizemos um jogo amigável com eles e eu e outro colega fomos chamados para ir lá treinar, mas nenhum ficou. Disseram à minha mãe que eu era pequeno, que iam ficar atentos à minha evolução.

Joca nas camadas jovens do Amora, a defrontar o Benfica (arquivo pessoal)

O telefone vai tocando todos os anos. Algumas propostas são boas, outras nem tanto. Há coisas que não dependem só do jogador, mas eu tento manter-me focado no Amora. Se as coisas forem boas para as duas partes, pode acontecer, mas mantenho-me focado. É a minha casa, o clube está a evoluir.

No início da época cheguei a anunciar que estava de saída, mas foi por causa de uma fase de indefinição no clube. Estava numa fase de transição, para a atual administração, e as coisas estavam a demorar um bocado. Houve ali um impasse, mas depois veio o investidor, José María Gallego, que falou comigo, tal como o diretor desportivo, Diogo Fonseca, e tudo ficou resolvido.

Há muita gente que não se lembra, ou não passou por isso, mas o Amora teve anos muito difíceis. A equipa sénior não tinha equipamentos, não tinha luz para treinar. Treinávamos ao final do dia, mas tinha de ser às 18h30, para termos iluminação natural. Agora está tudo muito bem. O clube evoluiu com a chegada do presidente Carlos Henriques. Eu acho que o clube está pronto para outros patamares, tem condições. Só falta mesmo um estádio à medida da grandeza do Amora. De resto tem tudo. A nossa ambição, esta época, é pensar jogo a jogo e sermos competitivos. O objetivo não é subir, mas tentamos todos os jogos sermos cada vez melhores.

Nas últimas semanas fui falado por dois golos que marquei, quase iguais, mas sou um jogador com os pés bem assentes na terra. Não é por fazer dois grandes golos que me vou elevar e perder a noção das coisas. Ainda tenho muito para fazer, e ter essa ambição é bom para mim. Mas foram dois momentos muito bons, em que consegui ajudar a equipa. Sou um jogador forte no um para um. Tenho uma boa técnica e gosto de aparecer na área para finalizar. Quando jogo na esquerda, procuro muito esse movimento interior para ganhar espaço para rematar. Já o fazia, mas se calhar encontrei a fórmula perfeita para fazer os golos. Antes não estava a sair assim.

Quando era mais novo e comecei a ver vídeos no Youtube, via muito o Robinho. Aquele futebol de rua, aquela ginga brasileira. Atualmente a minha referência é o Cristiano Ronaldo. Pelo exemplo que é, pelo talento que tem, pelo que tem conseguido ao longo dos anos.

Estou a atravessar um bom momento, estou numa das melhores fases da minha carreira. Sinto-me confiante. Ainda tenho esperança de jogar numa Liga profissional. Ou então ir para fora. Acho que tenho qualidade para isso. Estou à espera da minha oportunidade. Se fosse com o Amora seria a cereja no topo do bolo. Ia ficar na história do clube. Seria incrível para mim, para os adeptos, e para a direção.»

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