Estreou-se na Luz ao lado de Oblak e agora está no Salgueiros - TVI

Estreou-se na Luz ao lado de Oblak e agora está no Salgueiros

Miguel Baptista (Miguel Baptista)

Miguel Baptista, de 27 anos, fez parte dos juniores do União de Leiria «lançados às feras» na última época do clube na Liga, alinhando contra Benfica e Nacional. Esteve dois anos em Inglaterra e voltou para criar raízes no Campeonato de Portugal, onde já representou cinco emblemas distintos

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"Conto direto" é a nova rubrica do Maisfutebol, que dá voz a protagonistas dos escalões inferiores do futebol português. As vivências, os sonhos e as rotinas, contados na primeira pessoa.

Miguel Baptista, 27 anos, Salgueiros

«A minha manhã começa com uma ida ao ginásio por volta das 10h00. Faço o meu treino, nada de especial, e volto para casa para almoçar. Entretanto, preparo-me para ir para o treino. Normalmente começa por volta das 15h00, mas tenho de estar às 14h30 no estádio no Cerco. São treinos sempre bastantes intensos que duram cerca de uma hora e meia.

Hoje fizemos uma pequena ativação e um meiinho. De seguida, realizámos um exercício com base no que achamos que vai acontecer no jogo de domingo, tendo sempre em conta o nosso modelo, e acabámos com uns abdominais. Regresso a casa por volta das 17h30 e faço um pouco de tempo até começar a cozinhar o jantar. Após a refeição, gosto de ver um bocado de televisão, embora tente deitar-me minimamente cedo para manter a rotina.

Comecei a jogar futebol na rua e em casa em Alcobaça, a minha terra natal. Aos cinco anos comecei a jogar no Ginásio Clube de Alcobaça e fiquei lá até aos meus 13 ou 14 anos antes de ir para o União de Leiria. Estive seis anos em Leiria. Primeiro o meu pai e o meu avô levavam-me aos treinos, depois fiquei a morar lá. Foi o clube onde completei a formação e fiz a estrei na Liga.

Vivia o meu segundo ano de júnior quando comecei a treinar com o plantel principal. Em janeiro, passei a treinar todos os dias com a equipa sénior. Depois aconteceu o que todos sabem: muitos jogadores rescindiram contrato. Acabou por abrir portas aos miúdos que se juntaram aos jogadores que ficaram.  Eu tive a sorte de ser um desses miúdos, joguei ao lado do Oblak e do Djaniny e fiz dois jogos na Liga.

Fiz a minha estreia na Liga contra o Benfica. Assim que soube que tinha sido convocado, as pernas começaram a tremer. Afinal, ia jogar a um dos maiores estádios contra um grande clube. De repente, estás a viver o que sempre sonhaste viver: o estágio, a palestra sobre como o Benfica ia jogar, ouves os nomes do Aimar, Witsel, Luisão.  


 

Miguel Baptista à conversa com um jornalista em pleno estádio da Luz, onde realizou a sua estreia na Liga. 


Aos 70 e poucos minutos, o mister José Dominguez mandou-me aquecer. Foi uma sensação inexplicável para um miúdo de 17 anos. Vês o Aimar ou o Rodrigo a jogarem e só queres ir lá para dentro para sentir a diferença e aproveitar. Quando estou preparado para entrar, a União de Leiria tem vários minutos de posse de bola e então fiquei algum tempo junto do quarto árbitro para entrar. A bola lá acabou por sair e entrei. Ainda tentei ficar com a camisola do Aimar, mas o Shaffer já lhe tinha pedido. Guardei a minha camisola numa moldura, tenho-a no quarto.

No final da época fiquei à espera do que ia acontecer com a União de Leiria. Esperei e recusei muita coisa, sempre com esperança de que o clube fosse cair para a Segunda Liga. A União de Leiria acabou por ir para as distritais e eu voltei para o Ginásio Alcobaça, que esteva na 3.ª divisão Nacional.

No final dessa época, decidir vir para o norte e viver com o meu padrinho, o falecido João Lucas. A ideia inicial era estudar e jogar ao mesmo tempo. Fiz dois anos na distrital do Porto: no União Nogueirense e Valonguense.

Depois surgiu a possibilidade de ir para Inglaterra. Dois empresários, um português e um inglês, viram um jogo meu e ofereceram-me essa oportunidade. Inicialmente não estava a acreditar, mas concretizou-se. Fui jogar para o Eastbourne Borough, do quinto escalão do futebol inglês.

O início foi complicado, porque não conhecia ninguém. Ainda assim, adaptei-me bem à equipa e fiz bastantes jogos. A meio desse ano encontrei uma família portuguesa e fui viver com eles. Tinha o meu quarto, as minhas coisas e falava a minha língua, apesar do meu inglês ser bom. Essa família foi o meu porto de abrigo.

O segundo ano correu-me muito bem e quando me preparava para começar outra época, falhei um pouco. Se fosse hoje tinha ficado em Inglaterra, mas quis voltar para Portugal. Ainda hoje me pergunto por que razão voltei. Arrependo-me muito.

 

Miguel Baptista esteve dois anos em Inglaterra antes de voltar a Portugal.


Numa conversa casual com o treinador do Pedras Rubras, disse-lhe que ia voltar a Portugal e ele fez-me um convite. Já estávamos no final de agosto e decidi aceitar. Tentei ajudar o clube e estabilizar a minha carreira em Portugal. Cheguei limitado, porque acabei a época lesionado em Inglaterra e demorei a reencontrar a minha forma física. Ainda assim, fiz uma excelente temporada e a equipa concretizou os objetivos.

Do Pedras Rubras mudei-me para o Cinfães. Já tinha ouvido coisas boas acerca do clube, mas admito que a questão monetária pesou. O clube vai ficar no meu coração, gostei de lá estar apesar de as viagens serem muito desgastante. A equipa era excelente, mas fez uma primeira volta muito má. Tivemos quatro treinadores e acabámos por descer na última jornada contra o meu antigo clube.

Essa época permitiu-me aprender uma lição: não vale a pena ter uma equipa com grandes jogadores, caso não puxem todos para o mesmo lado. Ainda fizemos uma boa segunda volta, mas já não fomos a tempo.

 

Miguel Baptista representou Pedras Rubras, Cinfães, Amarante, Sp. Espinho antes de assinar pelo Salgueiros. 

No último ano assinei pelo Sporting de Espinho e encontrei diferente, com muita história. Defino os meus primeiros meses em Espinho como espetaculares: estávamos bem no campeonato, fomos longe na Taça de Portugal e individualmente estive bem. No entanto, em novembro o Amarante fez-me uma boa proposta e decidi arriscar um pouco. O clube estava no penúltimo lugar quando cheguei, mas aceitei ir para ajudar. Correu muito bem até ao campeonato parar por causa da pandemia de Covid-19: estávamos em sétimo e eu levava 11 golos.

O Salgueiros fez-me uma proposta e aceitei. Esto muito agradecido por estar neste clube. Toda a gente gosta do Salgueiros, pelo menos é a ideia que tenho. O Salgueiros mexe com todos e quando entramos em campo sinto que as outras equipas têm um respeito diferente no bom sentido.» 


Fotos: arquivo pessoal 

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