Produtos tradicionais são receita para a crise - TVI

Produtos tradicionais são receita para a crise

Bolo Rei

Pão e bacalhau nunca são esquecidos em períodos conturbados

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Em época de crise, voltar a apostar em produtos simples e tradicionais é a receita de muitos cozinheiros. Da típica alheira às migas de pão, dos tremoços às borras de vinho do Porto, muitos ingredientes são recuperados e reinventados em novos pratos.

Crise só faz cortes supérfluos no consumo

A crise mundial não foi ignorada no Fórum Gastronómico de Girona, que reúne durante cinco dias nesta cidade catalã 150 profissionais da restauração reconhecidos internacionalmente, com a edição deste ano dedicada à «Cozinha Sustentável», escreve a Lusa.

Contornar as dificuldades foi também o lema da apresentação de dois dos chefes de cozinha - Luís Baena (restaurante Terraço, Lisboa, e hotéis Tivoli) e Augusto Gemelli (restaurante Gemelli, Lisboa) - que representaram Portugal, país convidado nesta edição.

Como poupar nas compras do supermercado?

«Numa altura de crise, em que se procura conter os gastos, é importante voltar aos produtos originais», defendeu o cozinheiro Augusto Gemelli, para quem «também há uma necessidade das pessoas de redescobrir os nossos sabores originais».

Vinho do Porto não passa de moda

O chef italiano, radicado em Portugal desde o final da década de 1990, apresentou receitas baseadas na alheira de Mirandela, um «produto absolutamente típico português», mais consumido pelas faixas mais idosas, que adaptou às classes mais jovens, propondo um hambúrguer, acompanhado de couve à portuguesa cortada em juliana e broa de milho.

Para mostrar a sua paixão pela região Norte do país, Gemelli apresentou uma alheira cozida em borras do vinho do Porto, um dos produtos «mais importantes que existem» naquela zona, referiu.

Portugueses dependem do exterior para comer

Com esta receita, o cozinheiro pretendeu «demonstrar o quão eclético é o vinho do Porto na cozinha», apontando as borras como «um produto excepcional, sobretudo em termos aromáticos, servem muito bem para marinar, para dar contraste de sabores fortes» e que podem ser usadas em «receitas ligadas ao bacalhau e à carne».

O chef Luís Baena partilha da opinião do seu colega: «há elementos simples, saborosos, com aromas bem definidos, que servem para uma cozinha moderna, com um pé no passado», sustenta.

O cozinheiro recuperou o pão, «base da alimentação do Ocidente e de Portugal», para confeccionar migas de bacalhau «com um toque de Midas», de espargos e ovos de codorniz.

«Algo tão simples como o pão pode ser sofisticado ou com o toque de Midas, ou com o toque dos legumes, ou com o toque das flores sazonais», exemplificou.

Baena lamenta que a alta gastronomia esteja a tornar-se actualmente «demasiado elitista, ou porque é muito cara ou porque os restaurantes ficam muito longe», um movimento que compara ao jazz: nasceu entre as comunidades negras dos Estados Unidos, mas foi apropriada por uma elite.
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