Barómetro de Notícias: O ano do medo - TVI

Barómetro de Notícias: O ano do medo

  • Gustavo Cardoso, Professor Catedrático ISCTE-IUL
  • 23 dez 2016, 18:37
Ataque terrorista em Cabul

As notícias acompanham-nos no nosso quotidiano, mas o que vemos quando em dezembro olhamos para os passados meses? Em 2016 vivemos com medo de atentados e dos bancos, e com suspense face ao futebol e aos défices

No ano de 2016 o Barómetro de Notícias seguiu cerca de 18 mil temáticas noticiosas. Aquilo que se apresenta aqui é uma tentativa de compreender o que aconteceu este ano, de que forma essas notícias marcaram o nosso quotidiano e como, de alguma maneira, influenciarão o nosso dia-a-dia no ano de 2017.

Se o medo causado pelo terrorismo e pela insegurança foi em Portugal o principal tema de notícias em 2016, também o receio sobre o que aconteceria aos nossos bancos e ao nosso dinheiro esteve em alta durante todo o ano.

Ao medo do terror e do estado aterrorizante da banca portuguesa juntou-se a atenção dada ao ‘suspense’ dos resultados futebolísticos e para com o resultado défice do Estado em 2016.

O suspense quanto aos resultados de Porto, Benfica ou Sporting, em termos das competições nacionais ou internacionais de futebol, bem como da seleção nacional, é uma notícia recorrente todos os anos. No entanto, o suspense quanto ao défice orçamental não costuma ser tratado como se de um jogo de futebol se tratasse. Mas foi isso que aconteceu em 2016.

Este ano o resultado do défice foi noticiado como se se tratasse de uma espécie de partida de futebol que, em vez de durar 90 minutos, demoraria 365 dias. Ou seja, durante 2016 vivemos o suspense diário de saber se o défice era ou não cumprido, vivendo ao ritmo do comentário das jogadas partidárias, e saber quem ia marcando golos, se o Governo ou a oposição.

Na revista noticiosa do ano há sempre uma pergunta a ser feita sobre qual é o outro país, para além de Portugal, que foi tema de notícias. Aquilo que o Barómetro de Notícias nos mostra é que foram os Estados Unidos o país alvo de maior atenção das nossas notícias, em grande medida devido às eleições presidenciais.

A análise do ano noticioso traz-nos ainda três curiosidades. A primeira diz respeito ao Orçamento do Estado de 2017, o qual teve tanta atenção quanto a que foi dada a homicídios, suicídios e fogos florestais. A associação entre os três temas não é fácil, mas na realidade dos números, esses três temas ocupam os 10.º, 12.º e 13.º lugar nos temas mais destacados do ano.

A segunda curiosidade centra-se na meteorologia e na Caixa Geral de Depósitos. Sabe-se que o estado do tempo é algo que nos acompanha diariamente no nosso quotidiano noticioso. Mas aquilo que não sabíamos antes de 2016 é que, para além do sol e da chuva, teríamos a CGD a acompanhar-nos quotidianamente. Ou seja, as polémicas e dificuldades da Caixa Geral de Depósitos tiveram tanta atenção em 2016 quanto a meteorologia.

A terceira curiosidade de 2016 leva-nos até ao ditado popular que nos diz que “só há duas certezas na vida: a morte e os impostos”. Pois em 2016 as notícias mostram-nos que há uma certa verdade sobre esse dito. Ou seja, a atenção que foi dada aos obituários em 2016 e a atenção dada a impostos obtiveram uma cobertura noticiosa semelhante.

Os dois últimos temas do TOP 25 do ano de 2016 cumprem a ideia de que as más notícias são sempre destaque nos jornais, rádios, televisões e Internet. O penúltimo tema foi o Banif e o medo que em 2016 se repetisse o processo BES. E o último foi a ocorrência de diversos desastres aéreos, que tiveram uma extensa cobertura noticiosa.

 

 

Ficha técnica:

O Barómetro de Notícias é desenvolvido pelo Laboratório de Ciências de Comunicação do ISCTE-IUL como produto do Projeto Jornalismo e Sociedade e em associação com o Observatório Europeu de Jornalismo. É coordenado por Gustavo Cardoso, Décio Telo, Miguel Crespo e Ana Pinto Martinho. A codificação das notícias é realizada por Rute Oliveira, João Lotra e Sofia Barrocas. Apoios: IPPS-IUL, Jornalismo@ISCTE-IUL, e-TELENEWS MediaMonitor / Marktest 2015, fundações Gulbenkian, FLAD e EDP, Mestrado Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação, LUSA e OberCom.

Análise de conteúdo realizada a partir de uma amostra semanal de aproximadamente 411 notícias destacadas diariamente em 17 órgãos de comunicação social generalistas. São analisadas as 4 notícias mais destacadas nas primeiras páginas da Imprensa (CM, PÚBLICO, JN e DN), as 3 primeiras notícias nos noticiários da TSF, RR e Antena 1 das 8 horas, as 4 primeiras notícias nos jornais das 20 horas nas estações de TV generalistas (RTP1, SIC, TVI e CMTV) e as 3 notícias mais destacadas nas páginas online de 6 órgãos de comunicação social generalistas selecionados com base nas audiências de Internet e diversidade editorial (amostra revista anualmente). Em 2016 fazem parte da amostra as páginas de Internet do PÚBLICO, Expresso, Observador, TVI24, SIC Notícias e JN.

Continue a ler esta notícia