Rui Vitória: onde é que fica o fundo? - TVI

Rui Vitória: onde é que fica o fundo?

Rui Vitória

A pior notícia para os adeptos é que o momento atual não é um acaso: o Benfica tem vindo sempre a cair ao longo dos últimos anos

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Os números não dizem tudo, mas dizem muito. No caso de Rui Vitória, por exemplo, dizem-nos uma coisa lapidar: cada temporada dele no Benfica tem sido pior do que a anterior.

No primeiro ano fez 52 jogos, venceu 40, obteve uma percentagem de vitórias de 77 por cento. No segundo ano fez 54 jogos, ganhou 38, o que dá 70 por cento de vitórias.

No ano passado jogou 47 vezes, venceu 28, ficou com uma percentagem de 59 por cento de triunfos. Este ano, e numa altura em que ainda nem sequer chegou à fase das decisões – na qual os confrontos são teoricamente mais difíceis – , fez 22 jogos, venceu doze, empatou cinco, perdeu cinco. O que dá uma média de 54 por cento de vitórias.

De 77 para 54 por cento, portanto: tem sido sempre a cair.

Mas há mais.

O Benfica mantém no plantel, por exemplo, 13 jogadores que foram campeões no segundo ano de Rui Vitória. Do onze que foi titular nessa época, perdeu apenas Ederson, Nélson Semedo, Lindelof e Mitroglou, mais Luisão que terminou a carreira.

Jogadores fundamentais como Jardel, Grimaldo, Fejsa, Pizzi, Salvio, Cervi ou Jonas continuam lá. Pelo que não se pode falar, por isso, de uma limpeza do grupo. O Benfica mantém uma política de continuidade e uma certa estabilidade do plantel.

Qual é o problema, afinal?

O problema é que os jogadores estão desvalorizados. Cada um vale menos, e convenceu-se valer menos, do que há dois anos. A equipa entrou enfim numa espiral negativa.

Nesta altura é impossível não pensar que houve um pormenor que esteve na origem de tudo isto: a mudança do esquema tático. Enquanto Rui Vitória manteve o 4x4x2, com Jonas no apoio a um ponta de lança, a equipa funcionou e foi campeã nacional. Quando decidiu alterar a estratégia para um 4x3x3, no início da época passada, a queda foi sendo cada vez maior. Até chegar a este ponto.

No fundo o que parece é que enquanto Rui Vitória aproveitou o trabalho deixado por Jorge Jesus, a equipa respondeu bem. Quando decidiu imprimir o dedo dele na equipa - algo que já tinha prometido fazer antes, aliás -, as exibições tornaram-se menos seguras, os resultados ficaram menos consistentes, os jogadores afirmaram-se menos confiantes.

O Benfica foi caindo, caindo, caindo.

Até chegar a este ponto: quando ganha pouco mais de metade dos jogos que fez e parece incapaz de realizar exibições convincentes. Ser goleado em Munique tornou-se natural.

O que torna obrigatória uma pergunta: mister, onde fica o fundo?

P.S. Rui Vitória perdeu o encanto junto dos adeptos do Benfica muito antes de começar a perder os títulos. Porquê? Provavelmente porque tem um discurso fraco na sala de imprensa. Sempre os mesmos lugares comuns, repetidos uma, e outra, e mais outra vez. Esteja a equipa a ganhar ou a perder, as conferências são iguais. Em Munique, por exemplo, tornou-se incompreensível a insistência na ideia de que estava ali para falar apenas do jogo. O treinador parece não ter percebido ainda que não é um funcionário qualquer: é uma das mais altas figuras do clube e, como tal, está obrigado a prestar contas. Nesta altura há muito mais que os adeptos querem saber, e Rui Vitória não consegue dar-lhe essas respostas. O que torna mais complicado conseguir tê-los do seu lado num momento em que eles eram fundamentais.

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