E agora, Luís? - TVI

E agora, Luís?

Rui Vitória

Benfica está esfrangalhado, sem futebol e sem um processo, e o presidente colocou-se, ao defender o treinador, numa posição perigosa: o que fazer agora?

Ponto prévio: Luís Filipe Vieira não gosta de despedir treinadores.

Aprendeu com o tempo que a chicotada nem sempre é a melhor atitude. Viu-se isso, aliás, quando segurou Jorge Jesus para lá do inimaginável: quando tudo e todos exigiam a saída do treinador, nem que fosse ao pontapé. O presidente encarnado seguiu nessa altura o instinto dele.

Ora este quadro volta a colocar-se agora.

O Benfica soma três derrotas consecutivas, algo que não acontecia há oito anos. A equipa joga mal, está intranquila, não tem um processo claro: depende em demasia do talento individual e nesta altura os jogadores são capazes de duvidar até da própria sombra.

Ora como é que isto se resolve?

A resposta mais óbvia seria despedir o treinador e começar tudo de novo. Nada como agitar a equipa, pensam os dirigentes (e o público português em geral), para obter uma reação imediata.

Mas Luís Filipe Vieira não é o típico dirigente português nesse aspeto.

Mostrou-se uma vez mais na terça-feira, em entrevista à TVI, quando reforçou o nome de Rui Vitória, mesmo sabendo o preço que esse posicionamento podia ter.

Quer dizer, o presidente já entrou em estúdio encostado à parede pela revelação de uma chamada telefónica com o empresário César Boaventura na véspera. Mas podia ter optado por um comportamento mais híbrido: sem permitir que fosse colocado em cheque.

Em vez disso arriscou tudo.

Disse que Rui Vitória era o treinador dele, que era o homem que melhor entendia a política do clube e que por vontade do Benfica ficaria até final do contrato.

Imagina-se que o fez em consciência, porque sentiu que era o discurso certo a ter. Podia manter as coisas em lume brando ou jogar os trunfos todos. Jogou os trunfos. Pensou que a solução estava dentro de casa e que uma injeção de moral em Rui Vitória traria bons resultados.

Não trouxe. O Benfica voltou a perder e parte agora todo esfrangalhado, se nada acontecer a Rui Vitória entretanto, para o jogo decisivo com o Ajax.

Ora por isso, os tempos que se seguem são um teste: até que ponto Luís Filipe Vieira é realmente fiel aos seus conceitos e impermeável a pressões externas? Quer dizer, se há quatro dias sentia que Rui Vitória era o melhor treinador, não pode ter mudado de ideias por causa de uma derrota...

Despedir o treinador agora seria um enorme reconhecimento de instabilidade.

Mas, por outro lado, manter o treinador – e manter-se fiel ao seu conceito de dirigismo - pode ter custos muito grandes. Em termos de resultados, desportivos e financeiros, e em termos pessoais, nos apoios e na popularidade juntos dos adeptos.

O instinto de Luís Filipe Vieira colocou-o numa posição perigosa. O que faria sentido, visto de fora, era o presidente encarnado segurar o treindor e reafirmar que tem uma filosofia de gestão muito clara. Custe lá isso o preço que custar. Mas o futebol nem sempre faz sentido.

 E agora, Luís? 

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