«Então e o nosso Leixões?»
As minhas conversas com o mestre Vítor Oliveira começavam sempre da mesma maneira. E assim foi em Paredes, antes do jogo entre a equipa da casa e o Benfica na Taça de Portugal. Cheguei cedo, parei o carro, abri a porta e terei feito uma expressão de «porra, que frio». No automóvel ao lado, o mister Vítor estava atento.
«Fumega, isto é mais gelado do que Matosinhos, pá.»
Há uns anos, ali em meados de 2008, entrevistei-o pela primeira vez, numa parceria entre o Maisfutebol e o extinto RCP. Antes de entrarmos no estúdio, aproximei-me dele e disse-lhe que a minha família materna era toda amiga dele. «Quem é a tua família?»
Lá lhe expliquei que o meu avô era o António Fumega e que tinha uma pequena empresa na Rua Heróis de França, em Matosinhos, onde o grande Vítor Oliveira era um bom cliente. «És neto do senhor Fumega? Então só podes ser leixonense como eu.»
Nasceu aí uma pequena cumplicidade, a que não posso chamar amizade. Seria insultuoso para todos os enormes amigos que Vítor Oliveira fez dentro e fora do futebol nacional, e muito particularmente na nossa cidade de Matosinhos.
Fui-me cruzando com ele ao longo dos anos, em conversas curtas. Um cumprimento simpático, a pergunta sobre o bem estar da família, mas sempre e só depois do «Então e o nosso Leixões?».
Registei a mensagem que me enviou na altura em que o meu avô faleceu em 2012 e celebrei discretamente todos os sucessos que foi conquistando nas últimas décadas.
Frontal, honesto, perspicaz, um treinador inteligente e de enorme bom senso, capaz de assumir as culpas próprias, uma raridade. Mas, acima de tudo, um matosinhense bom, um matosinhense apaixonado pela sua terra e pelo seu clube.
Da próxima vez que o vir, sei bem o que me perguntará: «Então Fumega, e o nosso Leixões?»
PS: Vítor Oliveira e Dito acabaram a temporada passada no Gil Vicente, juntos, em julho. Quatro meses depois, nenhum dos dois está entre nós. Uma brutalidade. À família de Vítor Oliveira, e novamente à família de Dito, o Maisfutebol envia as mais sentidas condolências.
«Então e o nosso Leixões?»: Vítor Oliveira, um homem bom
- Pedro Jorge da Cunha
- 28 nov 2020, 17:39
Treinador deixou-nos aos 67 anos. Deixa um legado fantástico no futebol e memórias muito fortes em quem com ele conviveu na sua cidade de Matosinhos
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