João Félix, o desafio é tremendo - TVI

João Félix, o desafio é tremendo

João Félix (twitter Atlético Madrid)

O último mês trouxe ao miúdo provavelmente tudo aquilo que ele não precisava

Em pouco mais de seis meses a vida de João Félix deu uma cambalhota completa. O que geralmente não é bom.

Mas já lá vamos.

Foram seis meses vertiginosos.

O miúdo passou, aos 19 anos, de suplente raramente utilizado a quarta maior transferência da história do futebol. Pelo meio ganhou a titularidade no Benfica, tornou-se peça fundamental no título, foi primeira escolha para a Seleção Nacional e transferiu-se para o At. Madrid.

Aconteceu tudo a correr. Para mim, foi até demasiado fugaz. Seria necessário mais tempo, mais jogos, mais momentos maus, mais desafios físicos e psicológicos para perceber o que vale exatamente João Félix. O futebol – este futebol atual –, porém, não concorda comigo.

Por isso o Atlético Madrid decidiu pagar 126 milhões de euros para ter o miúdo.

Ora isto, tudo isto que aconteceu ao longo do último mês, é provavelmente tudo aquilo que o jovem internacional português não precisava.

Antes de mais porque é um peso absurdo em cima dele. Cada vez que entrar em campo, que tocar na bola, que fizer um remate, que tentar um cruzamento, que fizer uma receção, aquele número vai estar lá. 126 milhões. Por este valor, espera-se que Félix faça tudo bem.

A pressão vai ser brutal.

O português vai estar obrigado a desequilibrar todos os jogos, a fazer a diferença e a roçar sempre a perfeição. Afinal de contas é isso que se espera de um jogador de 126 milhões de euros.

Sem espaço para ser aquilo que é: um miúdo que precisa de tentar, errar, voltar a tentar e acertar.

Por isso, repete-se, o peso em cima dele vai ser absurdo.

Mas isto que aconteceu ao longo do último mês era tudo o que João Félix não precisava também porque o Atlético Madrid está longe de assentar nas características do miúdo.

Basta ver o que aconteceu com outros jogadores que saíram de Portugal para o (na altura) Vicente Calderón, para perceber como é difícil para um tecnicista afirmar-se naquela equipa. Estou a pensar, por exemplo, em Jackson Martínez, Nico Gaitán ou Gelson Martins.

O At. Madrid é uma equipa intensa, física, dura, daquelas que ainda faz a pré-época na montanha, a subir e descer colinas, a correr, correr, correr. É uma equipa com uma filosofia muito própria e que não admite desviar-se um centímetro dos princípios mais básicos: coletivismo e solidariedade.

Ora nesta fase da carreira dele, João Félix precisava de ter, por exemplo, aquilo que Cristiano Ronaldo teve: uma transferência razoável, por um valor razoável, para um clube razoável e com expetativas razoáveis.

Infelizmente para ele, este futebol é pouco razoável.

No final do dia é isto que interessa: fazer grandes negócios. E a verdade é que é este foi um grande negócio. Muita gente vai ganhar muito dinheiro, sem dúvida. Mas convém não passar por cima do essencial: o enorme talento de João Félix não autoriza a que nos esqueçamos que ele só tem 19 anos (e seis meses de futebol de primeiro plano).

Para um miúdo de 19 anos (e seis meses de futebol de primeiro plano) esta transferência é contraproducente.

Até pode correr bem, mas não haja dúvida: é um desafio tremendo.

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