Lopetegui, ou como os espanhóis não seguem o futebol português - TVI

Lopetegui, ou como os espanhóis não seguem o futebol português

Lopetegui

O que é que verdadeiramente justificava a escolha do treinador para o Real Madrid?

Os números são assustadores.

Catorze jogos, seis vitórias, dois empates, seis derrotas, vinte e um golos marcados e vinte golos sofridos, nono lugar da liga espanhola.

Lopetegui vulgarizou, portanto, o Real Madrid.

Surpreendente? Não propriamente. Pelo menos não é surpreendente para os adeptos do futebol português, que tiveram oportunidade de o conhecer durante cerca de um ano e meio.

Lopetegui é um treinador teimoso, presunçoso, prepotente e egocêntrico. Um homem que não mostra respeito pelos códigos do sítio onde chega, nem consideração pela entidade empregadora.

Não teve pudor, por exemplo, em assinar pelo Real Madrid dois dias antes de começar a jogar um Mundial pela seleção espanhola. Não teve pudor, também, em impor as suas ideias no FC Porto ou no Real Madrid, sem olhar para a herança que recebia e para o código genético das equipas.

Ora é aqui que reside a principal questão.

O que é que verdadeiramente justificava a escolha de Lopetegui para treinador para o Real Madrid?

O espanhol chegou ao FC Porto e alterou completamente o paradigma do clube. Deixou de contratar jogadores jovens, com margem de crescimento e perspetivas de valorização, para apostar em nomes consagrados, excedentários dos grandes espanhóis e geralmente muito caros.

Gastou fortunas para construir um plantel que lhe permitisse jogar um futebol que não tinha nada a ver com o FC Porto: um futebol de posse, e posse, e posse, muitas vezes estéril.

No final mudou tudo para não ser campeão (não ganhou nenhum troféu, aliás).

O FC Porto deixou de ser o FC Porto e Lopetegui acabou por ser despedido.

Mas a verdade é que os espanhóis não viram nada disto. Porquê? Provavelmente porque não seguem o futebol português. Viram o FC Porto chegar aos quartos de final da Liga dos Campeões, viram uma ou outra entrevista de Lopetegui aos amigos da imprensa espanhola (sempre muito simpático, sempre muito solícito) e construíram uma ideia que não correspondia aos que os portugueses já tinham percebido que ele não era.

Pelo meio viram-no fazer uma boa campanha de apuramento para o Mundial 2018, num grupo que tinha uma terrível Itália, mais Albânia, Israel, Macedónia e Liechtenstein, viram-no golear em casa uma Argentina de segundas linhas e completaram a imagem de cristal.

Lopetegui chegou por isso ao Real Madrid e espalhou-se por completo. Tentou construir uma equipa de posse de bola, quando a essência da equipa é há largos anos as transições rápidas, o futebol vertiginoso, a rapidez na construção de jogo. Lá está: zero respeito pelo código genético.

Surpreendente? Para nós, não.

Já para os espanhóis também não devia ser. Se olhassem um bocadinho mais para o que se passa no nosso campeonato.

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