Depois dos políticos e dos banqueiros, 2018 parece ter sido o ano do futebol entrar pela porta da Justiça. Grandes investigações, grandes protagonistas e alguns do maiores clubes nacionais sob suspeita.
Benfica e o "E-toupeira"
Dia 6 de março era detido Paulo Gonçalves, assessor jurídico do Benfica. As autoridades confirmaram que a operação denominada E-Toupeira tinha também levado à detenção de um funcionário judicial com funções nos Tribunais de Guimarães e Fafe.
Paulo Gonçalves era detido por suspeitas de crimes como corrupção ativa e passiva, acesso ilegítimo, violação de segredo de justiça, falsidade informática e favorecimento pessoal.
Tudo terá começado com as buscas realizadas pela Policia Judiciária em outubro de 2017 relacionadas com o caso dos emails. Já então se dizia que estavam envolvidos quadros do clube encarnado.
No decorrer de 2018 foi também revelado o nome do hacker suspeito de ter roubado e divulgado na internet os segredos do Benfica: Rui Pinto. Milhares de emails ficaram disponíveis aos olhos do mundo e trouxeram a público factos que colocaram em causa, por exemplo, o presidente do clube.
Luís Filipe Vieira escapou à constituição de arguido, mas a SAD do Benfica não. Escapou depois de ir a julgamento, na decisão instrutória do caso (sendo que o Ministério Público decidiu, entretanto, recorrer para a Relação). O mesmo não se pode dizer de Paulo Gonçalves, que vai a julgamento por corrupção e violação do segredo de justiça.
"Terrorismo" em Alcochete
Deveriam ser umas cinco da tarde, quando um grupo de 40 pessoas, a maioria de cara tapada, entrou na Academia do Sporting, em Alcochete. Era terça-feira, 15 de maio. No exterior, as ameaças aos jornalistas presentes faziam anteceder momentos de alta tensão.
A equipa devia fazer o primeiro treino da semana de preparação para a final da Taça de Portugal, que seria alguns dias depois.
Em dez minutos, talvez um pouco mais, agrediram jogadores e membros da equipa técnica.
O próprio treinador dos leões, Jorge Jesus, não escapou à fúria dos adeptos. Mas foram as imagens do avançado Bas Dost, com sangue na cabeça, que mais impressionaram a opinião pública.
Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, afirmou “estar chocado” em declarações à Sporting TV. Garantiu que este tipo de situações eram para “condenar sempre, em todo o lado e não só no Sporting” e disse que a equipa ia jogar a final da Taça. Acrescentou ainda que: “Temos de nos habituar, o crime faz parte do dia a dia. Amanhã é um novo dia”.
Um mês depois e surgiam as primeiras notícias que ligavam o então presidente leonino ao ataque levado a cabo pelo grupo de adeptos: “Juiz visa Bruno de Carvalho no ataque à Academia”.
2018 não terminou sem a detenção de Bruno de Carvalho e o líder da Juve Leo, mais conhecido por Mustafá. Após vários dias presos, até serem ouvidos por um juiz, ambos vão aguardar pelo julgamento em liberdade.
O agora ex-presidente do Sporting foi acusado pelo Ministério Público de 40 crimes de ameaça agravada, 19 de ofensa à integridade física qualificada, 38 de sequestro, um de detenção de arma proibida e crimes que são classificados como terrorismo, não quantificados.
O processo tem 44 arguidos e 38 estão em prisão preventiva.
O Sporting e o caso "Cashball"
Maio foi certamente um mês negro para o Sporting. Ainda estavam a doer as agressões na Academia de Alcochete, quando a Polícia Judiciária realizou buscas na SAD do clube, que terminaram com quatro detidos. Nascia o processo Cashball.
A ação da PJ, que decorreu um dia depois da invasão à Academia, estava relacionada com as suspeitas de corrupção no campeonato de andebol e futebol.
Entre os detidos estava o diretor do futebol do Sporting, André Geraldes. Todos eram suspeitos de corrupção ativa.
Um dia depois de ser detido, André Geraldes saiu em liberdade. Foi afastado das funções que exercia e pagou uma caução de 60 mil euros.
O ano acabou sem acusação, mas o processo viu crescer o número de arguidos: sete ao todo.
Mayorga versus Ronaldo
Estávamos em setembro, quando a revista alemã Der Spiegel, revelava que Cristiano Ronaldo estava a ser acusado de violação por uma norte-americana de 34 anos, Kathryn Mayorga.
O caso remontava a 2009 e teria acontecido num hotel em Las Vegas. À época, as partes chegaram a um acordo. Ronaldo assumiu que tinha tido relações com a alegada vítima, mas garantia terem sido consensuais. Kathryn Mayorga recebeu cerca de 320 mil euros e nunca poderia falar com ninguém sobre o assunto.
No ano passado a página Football Leaks revelou os documentos confidenciais do acordo. A revista alemã Der Spiegel seguiu o rasto, investigou, e revelou a história.
Entretanto, surgiram imagens de Ronaldo e Mayorga juntos, numa discoteca em Las Vegas e as versões opostas das partes acabaram por dividir a opinião pública.
As autoridades norte-americanas reabriram o caso, mas ainda dessa nova investigação nada se sabe.