O bronze e uma história sobre "nunca baixar os braços": como Fernando Pimenta se reergueu em Tóquio - TVI

O bronze e uma história sobre "nunca baixar os braços": como Fernando Pimenta se reergueu em Tóquio

  • Henrique Magalhães Claudino
  • 5 ago 2021, 23:13

Depois de 2016, o canoísta sentiu que precisava de provar que ainda estava na luta. Teve um mês e meio sem querer pensar nos Jogos, mas acabou por trazer uma medalha de Tóquio para Portugal

A história do bronze do canoísta Fernando Pimenta nos Jogos de Tóquio não existia sem o desastre no Rio, em 2016. É ele quem o admite, agora, depois de beijar o pódio e usar uma chupeta cinco anos depois.

Naquele verão, Pimenta parecia destinado a conquistar o ouro. Partiu da pista 3 na lagoa Rodrigo de Freitas, começou com potência e passados cerca de 250 metros já liderava o batalhão, com 0,92 segundos a menos do que Marcus Walz - o espanhol conquistou o lugar de campeão olímpico. 

A vantagem permaneceu durante mais 250 metros, mas na marca dos 750 já tinha caído para quarto. Algas e folhas no leme ditaram a quebra da performance e Pimenta viria a terminar a competição em quinto.

Em entrevista à TVI, Fernando Pimenta descreve como a frustração lhe deu maturidade, ainda que não o sentisse naquele momento. “Estava com uma ilusão demasiado grande pela medalha de ouro, achava que tínhamos condições”.

“O mês e meio a seguir, não quis saber de desporto, nem de remar, nem dos jogos olímpicos”, confessa. Pimenta já havia admitido que até recentemente não conseguia ver o vídeo daquela final. 

Quem o salvou foi o treinador. E a responsabilidade de levar consigo a bandeira nacional. “Quando nos voltámos a sentar para delinear um plano, decidi assumir um compromisso. Com ele e com todos os portugueses. Tive de voltar à carga”.
 

Pelo caminho, ficaram cinco anos “muito intensos, muito duros. Quer em termos físicos, como em termos psicológicos”. Pimenta precisava de provar que ainda estava na luta por medalhas e continuou a lutar.

Não baixou os braços e a 27 de agosto de 2017, sagrou-se campeão do mundo em K1 5000 na República Checa, ao terminar a prova em 20:46.907. Um dia antes tinha adquirido já a de prata em K1 1000 metros.

 

Não baixei os braços, continuei a lutar”. 

 

Quando chegou a Tóquio, Pimenta sentiu que conseguia chegar ao ouro e, portanto, estava confiante. Ainda assim, não deixou de reparar em diferenças óbvias entre os incentivos ao desporto de modalidades no Japão e em Portugal.

No Japão, por exemplo, a educação física faz parte do currículo dos alunos cinco dias por semana, sendo que todos eles são obrigados a ter uma atividade extracurricular. Isso levou-o a pensar sobre as dificuldades por que passou na carreira.

Nós relativamente ao desporto de modalidades somos muito amadores naquilo que fazemos”, afirma, sublinhando que muitas das equipas com que compete têm um leque de serviços de massagistas, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas. “Pessoas que os acompanham todos os dias. Nós em Portugal passamos ,se calhar, duas ou três semanas sem isso. 

Há falta de condições financeiras, mas não é por causa disso que procuro desculpas

 

Os primeiros passos de Pimenta no Japão foram impactantes. O atleta da equipa nacional de Velocidade chegou mesmo a bater o recorde Olimpico na sua semifinal. Alcançando a meta dos 3:22.942, esmagou o tempo de 3:25.785 do atleta norueguês Knut Holmann, uma das maiores lendas da modalidade.

“Tinha a noção de que o nível competitivo estava muito alto. Depois de bater o recorde olímpico na semi-final e me ter sentido muito bem. Fui para a final com o pensamento de que ainda tinha de fazer melhor”, afirma.

Durante a final, Pimenta afirma que houve um momento em que acreditou que ia chegar ao ouro. Mas a vitória escapou-lhe pela ação de Bálint Kopasz que chegou à meta primeiro.

Estávamos os três (Pimenta, Kopasz, Varga) muito próximos e foi tudo decidido no Photo Finish. Dá muita emoção a quem está a ver”, conta.

No final da prova, Pimenta não conseguiu esconder a frustração. O objetivo estava tão perto, mas de repente tão inalcançável. No entanto, conta o próprio, o momento da saída da água e de ver os adversários que ficaram para trás fez toda a diferença.

Como é óbvio, fiquei mais conformado quando vi os meus adversários a remar para a recuperação e eu estava a preparar-me para ir para o pódio. No momento em que se coloca a medalha é que se vive o sonho. É muito melhor o terceiro do que o quarto lugar”, afirma.

Com a cabeça fria e um olhar retrospectivo, Pimenta sorri ao pensar na final. Mas não esconde a determinação que lhe corre dentro das veias. O ouro há de chegar e ele promete não descansar até entrar nesse “grupo restrito”.

Para a memória fica também a icónica fotografia da sua celebração. “O beijar o pódio foi, se ele me escapou em 2016, ali foi uma certeza. Queria fazê-lo de forma diferente”.

E sobre a chupeta. “A parte da chupeta. Muita gente perguntou à minha mulher se ela sabia, claro que sim, é ela quem faz a gestão das chupetas lá em casa”, conta entre gargalhadas. 

Aquilo é dedicado não só a todos os portugueses, mas como é óbvio com um valor acrescido à minha filha que vai fazer oito meses. Quando ela pegar nas medalhas e ver o percurso que o pai fez, de certeza que se vai sentir orgulhosa”.

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