«Larguei um vício que tinha já no FC Porto, não toco em álcool há anos» - TVI

«Larguei um vício que tinha já no FC Porto, não toco em álcool há anos»

DESTINOS apanha um Maciel rejuvenescido e de bem com a vida. Antigo avançado, membro dos campeões da Europa dos dragões em 2004, tem 42 anos e assume ter ultrapassado um problema sério. Agora quer voltar aos relvados para jogar ao lado do filho mais velho.

Relacionados

DESTINOS é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINOS.

MACIEL: União de Leiria (de 2001 a 2003, 2005/06 e 2007/08); FC Porto (2004); Sp. Braga (2006/07)

No plantel campeão da Europa do FC Porto em 2004 há dois nomes contratados em janeiro e que não podem jogar na Liga dos Campeões. Um é o de Sérgio Conceição e o outro é o de Maciel. Ambos extremos e ambos utilizados na primeira fase dessa época pelos anteriores clubes nas provas da UEFA.

Enquanto Sérgio é o treinador do FC Porto desde 2017, Maciel desapareceu do radar. Fez meia temporada de grande nível com José Mourinho, mas com Victor Fernandez não fez parte dos planos e acabou por sair para o União de Leiria e para o Sp. Braga, antes de voltar ao Brasil e tornar-se numa espécie de trotamundos.

O Maisfutebol apanha-o em Cabo Frio. Maciel tem 42 anos, mas apresenta uma invejável forma física. Joga futevólei federado e acompanha os quatro filhos. O mais velho vai estrear-se nos seniores e o presidente do Tupi quer juntá-lo ao pai. Maciel está inclinado a aceitar o convite.

Qual o segredo para tamanha boa forma? De forma surpreendente, até porque não era essa a imagem que tinha em Portugal, Maciel assume que durante vários anos da carreira teve um problema relacionado com o consumo de álcool. Tudo ultrapassado, felizmente, já há oito anos.

Um DESTINOS especial, pois claro.

A boa forma de Maciel aos 42 anos

Maisfutebol – Como está o Maciel? Há muitos anos que não ouvimos falar de si.

Maciel – Vivo em Cabo Frio há dez anos. Sou de Brasília, mas estou radicado aqui. Acabei a carreira de futebolista no Cabofriense, precisamente. Agora tenho jogado muito futevólei e dedicado à família o tempo que merece. Tenho quatro filhos, três rapazes, e acho que vou ter sucessores no futebol (risos).

MF – Como se chamam os seus filhos?

M – Mateus é o mais velho e joga no Tupi. Depois tenho o Lucas, o Davi e a Gabriele. O Mateus é esquerdino e já teve a possibilidade de jogar na Grécia. Ele nasceu em Portugal e pode até vir a jogar pela seleção portuguesa. O presidente do Tupi agora fez-me um convite para eu voltar aos relvados e jogar ao lado do meu filho. Estou a pensar, mas claro que é uma situação que me entusiasma. Querem que ajude o clube a subir à primeira divisão do futebol mineiro. O meu filho também está a puxar por mim, vamos ver.

MF – Vimos uns vídeos do Maciel a jogar futevólei e as imagens mostram que está em grande forma. Magro, leve, cheio de energia.

M – Estou melhor agora do que estava há uns anos. Quando voltei ao Brasil [2009] fiquei muito desanimado, não sabia bem o que queria da minha carreira. Em Portugal trabalhei sempre com grandes treinadores – Mourinho, Cajuda, Jesus, Carvalhal, José Gomes, Jorge Costa, Vítor Oliveira – e ainda pensei em seguir esse lado, mas desisti. Por falar nisso, fiquei a saber da morte do Vítor, um grande senhor. Deu-me muitas duras, puxou-me muito as orelhas, motivava-me muito. Acho que foi o treinador que mais gritou comigo.

MF – Gritava mais do que o Jesus?

M – Mais, mais. Aliás, o Jesus convidou-me a ir visitá-lo ao Flamengo, mas eu sou meio inibido e acabei por adiar tudo. Sempre me dei bem com o Jorge Jesus.

MF – Voltemos a 2001 e ao ano em que foi para Portugal. Como é que se desenrolou esse processo?

M – Foi tudo inesperado. Eu estava no Volta Redonda, fui uma grande revelação do campeonato e o presidente disse-me que eu tinha um convite do Flamengo. Fiz um grande jogo contra o Flamengo no Maracanã – o Fla do Gamarra e do Juan, eu dava-lhes cabo da paciência – e nesse jogo, curiosamente, também estava o José Mourinho na bancada. Acredito que ele tenha gostado muito de mim e indicou o meu nome ao União de Leiria. E lá fui eu.

MF – Financeiramente foi importante a mudança para a Europa?

M – Mais importante era a parte desportiva. Aliás, posso confessar que na primeira reunião estive perto de me vir embora e voltar ao Brasil. Tínhamos combinado dez mil euros mensais, mas o Leiria afinal só me queria pagar cinco mil. Desci, saí da sala – onde estava o Mourinho, o senhor João Bartolomeu e o Derlei também – e de repente sinto o mister Mourinho a vir atrás de mim. ‘Olha, se jogas tanto como dizes, assinas o contrato agora e em dezembro de certeza que o clube renova contigo e aumenta a verba’. Decidi ficar e só pedi apartamento e a viagem paga para a minha esposa e filha. O Leiria tinha uma excelente equipa. Duah, Derlei, Silas, mas acabei por me tornar um talismã para a equipa e o José Mourinho encaixou-me bem. Eu era muito veloz, ofereci muitos golos ao Derlei e fiz alguns também [29 em dois anos e meio]. Acho que podia ter ido mais longe e só não fui por culpa minha.

MF – O que quer dizer com isso?

M – Eu tenho 42 anos e dizem que eu pareço ter 35. Nem me deixam jogar nos veteranos, tenho de mostrar a identidade (risos). Estou a treinar mais do que treinava mais, talvez por estar a jogar na areia. E também por ter largado alguns vícios que eu tinha já no Leiria e no FC Porto. Bebidas alcoólicas, isso era um dos meus piores vícios. Sempre treinei bem, mas esse era um problema. Felizmente, já há sete/oito anos que não toco em álcool e isso melhorou muito o meu rendimento físico.

MF – Tinha um problema com a bebida já no FC Porto?

M – O problema existia, sim, porque me prejudicava. Claro que não bebia nas concentrações ou antes dos jogos. Mas, depois, em vez de beber só uma cerveja bebia uma caixa inteira. Sem uma pessoa ao lado para me orientar, as coisas ficavam mais difíceis. Estava com a minha esposa e com a minha filha, talvez me tenha perdido um pouco. Precisava de mais disciplina para ter atingido outros voos. Equivoquei-me ao sair de Portugal, porque sempre fui muito bem tratado aí. Sou uma pessoa de bem, queria ser um exemplo bom e agora sei que sou. É isso que passo os meus filhos. Não posso colocar as culpas dos meus erros nos clubes e treinadores, os erros foram cometidos por mim.

MF – O Maciel chegou ao FC Porto em janeiro de 2004 e foi titularíssimo no campeonato.

M – Cheguei ao Porto e senti uma confiança incrível do Mourinho. Ele mostrava-me imagens do Simão Sabrosa, do Drulovic, do João V. Pinto e perguntava-me: ‘Não consegues ser melhor do que este? Tu jogas pelas alas, tens de dar assistências.’ Ele metia na nossa cabeça que éramos melhores do que os outros. Fiz uma bela campanha, mas infelizmente o mister Mourinho saiu no final da época e o meu sucesso no FC Porto acabou. Eu cheguei ao clube cheio de confiança, sentia-me solto e leve. Vi Deco, Carlos Alberto, Derlei, Benni McCarthy, Maniche, Costinha, mesmo Sérgio Conceição depois de chegar, e todos me ajudaram muito. Jorge Costa, Baía, Ricardo Carvalho. ‘Tens de ser tu a correr e a matar no campeonato, para nos aguentarmos na Europa’. Era assim, sempre com o coração na ponta das chuteiras.

VÍDEO: o golo de Maciel pelo FC Porto em Braga (aos 40 segundos)

MF – O Sérgio Conceição chegou na mesma altura do Maciel.

M – É verdade, e jogávamos na mesma posição. Até houve ali um entrave inicialmente. Perguntaram ao Mourinho: ‘Queres o Sérgio ou o Maciel?’ E o Mourinho disse que queria o Maciel. ‘Quero o Ninja, têm de o trazer’. Houve lá conversas e acabámos por ir os dois, até porque o Sérgio Conceição era um ídolo do clube e tinha um currículo riquíssimo. Tenho de dizer que o Sérgio sempre me tratou muito bem, motivava-me, esperava a hora dele para jogar, respeitava as opções. Eu até me cruzei anos mais tarde com ele na Grécia. O Sérgio no PAOK e eu no Xanthi. ‘Vou-te trazer para o PAOK, eles [no Xanthi] não te metem a jogar, pá!’ Achei piada à reação dele.

MF – Em Leiria havia, então, dois ‘ninjas’? O Derlei e o Maciel?

M – Na verdade isso até começou comigo (risos). Fiz um golo ao Beira-Mar, no antigo estádio do Leiria, e achei que ficava bem fazer alguma comemoração diferente. Antes do jogo disse ao Derlei ‘vamos colocar a camisola assim e fazer de ninja’ e por isso digo que fui eu a começar. Mas, sim, éramos os dois ninjas de Leiria. Somos muito amigos até hoje. Falei com ele há uns dias e mantemo-nos em contacto.

MF – Mas no FC Porto só o Derlei era o ‘ninja’.

M – Eu cheguei mais tarde e passei a ser o ‘Ferrari’, por culpa do Benni McCarthy (risos). Na minha estreia contra o Paços de Ferreira consegui fazer jogadas de grande velocidade e o Benni disse que não conseguia chegar a tempo para finalizar na área. O Derlei é que já sabia os meus sinais e chegava sempre bem. E o Benni disse que eu era como um Ferrari.

O Leiria dos 'ninjas' Derlei (à esquerda) e Maciel (à direita)

MF – O que achou de José Mourinho quando o conheceu no Leiria?

M – No início não fazia ideia de como ele era, mas quando comecei a ver os treinos dele… fazíamos jogos curtos, 2x3 ou 4x4, muito treino em campo reduzido. Pensei que tinha ido para o lugar errado. ‘O que estou aqui a fazer?’ No Brasil era só treino físico, finalização e treino de conjunto, mais nada. Até que ele nos chamou e disse que este tipo de treino ia dar resultado e que no campo grande íamos ser mais rápidos e chegar melhor à baliza adversária. Obrigava-nos a pensar com maior rapidez. O Mourinho explicava muito bem tudo o que pretendia, os movimentos de cada um de nós. Pensava de forma diferente dos outros e organizava a equipa muito bem. Basta ver a forma como construiu o plantel do FC Porto, com muitos atletas de qualidade, sim, mas que jogavam em equipas mais pequenas. Hoje ouço falar de pressão alta e intensidade, mas eu aprendi isso já em 2001 com o Mourinho. E sei que ele já fazia isso quando era adjunto do Bobby Robson. Para ele, a pressão tinha de ser feita com organização e com toda a equipa como um acordeão. Todos os movimentos eram estudados ao centímetro.

MF – Chegou ao balneário do FC Porto e tinha lá muitas caras conhecidas.

M – O Derlei, o Nuno Valente e o Tiago foram meus colegas no Leiria. O Deco também me conhecia. O Maniche não me conhecia, mas foi fantástico comigo. O Costinha e o Vítor Baía a mesma coisa. O Ricardo Carvalho é que era mais calado. Essa equipa tinha um ambiente genial e atletas fantásticos. Já conhecia a ideia do José Mourinho e isso também me ajudou bastante.

MF – Por azar seu, não pôde ser inscrito na Liga dos Campeões. Logo na época em que o FC Porto foi campeão da Europa.

M – Eu joguei pelo Leiria na Liga Europa e não pude ser inscrito. Mas tenho as medalhas de campeão da Europa e de campeão do mundo, o presidente Pinto da Costa fez questão de me oferecê-las. Fiquei muito feliz por essa honra, poucos clubes e dirigentes o fariam. Foi ainda mais importante porque antes do jogo contra o Once Caldas [Intercontinental], o meu irmão foi baleado e tive de ir para o Brasil. Isso afetou-me bastante. Até me avisaram que eu não devia ir, porque ia perder ainda mais espaço no clube, mas o meu irmão estava nos Cuidados Intensivos e podia morrer. Felizmente, melhorou e está bem. Fiz o que achei certo na altura.

MF – Esteve com a equipa na final de Gelsenkirchen?

M – Sim, sempre. Fui ao relvado no final, tenho várias fotografias, disse até ao Carlos Alberto antes do jogo que ele ia marcar um golo. E marcou. Ele, o Deco e o Alenitchev, outro rapaz maravilhoso. Nesse dia olhávamos nos olhos dos nossos colegas e percebemos que era impossível perder, a concentração era extraordinária, estávamos muito confiantes. Sentíamos que íamos ser campeões da Europa.

MF – Lembra-se da palestra do José Mourinho?

M – Ele não falava no balneário, falava no hotel. Dava uma folha a cada um dos jogadores, com a análise do adversário, e explicava o que tínhamos de fazer. Lembro-me que os jogadores mais perigosos para o Mourinho eram o Giuly e o Rothen. Acabámos por anular bem o Mónaco e jogámos um futebol livre, solto, sem amarras. Cada um sabia perfeitamente o que tinha de fazer em campo. Havia uma cumplicidade grande entre todos e quando havia problemas eram resolvidos rapidamente no balneário.

MF – É verdade que o José Mourinho quis levar o Maciel para o Chelsea quando saiu?

M – É verdade, sim. O Del Neri entrou, ficou pouco tempo e muitos jogadores não gostavam do estilo dele de treinar e jogar. Queria musculação, pesos, circuitos, e ninguém estava acostumado a isso. Todos fazíamos o treino técnico, com bola, para nos sentirmos mais leves. Não sei se na Itália era mais físico, talvez fosse isso. Mexeu em tudo aquilo que estava bem. Eu era pequeno, franzino, e o Del Neri olhava para mim sem grande admiração. Até que certo dia o José Mourinho ligou-me a perguntar como era a minha situação. Tentámos ver se resultava, mas eu não era internacional pelo Brasil e a transferência não pôde ser fechada. A ideia era ter o Arjen Robben – que era muito melhor do que eu – num lado e eu no outro.

Maciel ao lado de José Mourinho e com Sérgio Conceição atrás

MF – Depois saiu o Del Neri, entrou o Victor Fernandez e o Maciel raramente jogou. Depois de cinco meses tão bons com o José Mourinho, o que se passou para não jogar?

M – O FC Porto contratou o Quaresma e o Victor apostou só nele. O Antero Henrique pediu-me paciência e eu lembrei que o plantel tinha ganho tudo e que o treinador não devia mudar tudo. Continuei a treinar, a tentar jogar, até que houve um dia em que os suplentes treinaram contra a equipa B. Eu marquei dois golos e o Victor Fernandez pediu para falar comigo. ‘Gosto do teu futebol, estás a treinar bem, não sei porque andas triste’. E eu respondi sem papas na língua: ‘Estou triste porque não jogo. Tirou-me da equipa sem me dar uma palavra, podia perfeitamente colocar o Quaresma de um lado e eu do outro’. Mas não me deu oportunidades, só me pediu para esperar. Desanimei muito. Percebemos que ele não queria estar com malta que tivesse trabalhado com o José Mourinho. Queria mudar o plantel ao máximo e iniciar um novo ciclo. O Diego veio e até o Carlos Alberto ficou chateado. Um rapaz que tinha marcado na final da Liga dos Campeões e, de repente, a ser sacaneado pelo treinador. Era difícil perceber as opções. Não fiquei com rancor. Andei chateado muito tempo, mas devia ter esperado e ficado mais tempo no FC Porto. Faltou-me mais maturidade e alguém que me ajudasse a gerir bem a carreira. Sempre tive demasiada humildade, mas às vezes essa humildade desaparecia e eu nem percebia que estava a faltar ao respeito aos colegas que estavam a jogar.

MF – Curiosamente, o Victor Fernandez saiu do FC Porto logo a seguir a si.

M – Muito bem, é verdade. O Antero bem dizia para eu ter calma e não stressar. Eu treinava bem, no limite e nunca era chamado por ele. Desanimei mesmo. Queria mostrar que continuava com condições para jogar e… saímos os dois quase ao mesmo tempo do FC Porto. Devia ter sido mais paciente, fazer como o meu amigo Bruno Moraes, que foi aproveitando a ligação ao clube. Ou como o Secretário, que me dizia assim: ‘Ferrari, fica quietinho pá, não te chateies. Faz como eu’. Ele tinha razão. Ele e o José Mourinho. Em 2013, no funeral do pai dele, abraçou-me e disse: ‘Não entendo como você não foi mais longe, o que aconteceu consigo?’ Ainda me queria levar para o Manchester United, mas acho que era a brincar (risos).

MF – O Maciel ainda fez boas épocas no Sp. Braga e no Leiria, emprestado pelo FC Porto.

M – O Baltemar Brito [ex-adjunto de Mourinho] até viu um jogo do Sp. Braga contra o Chievo, na Liga Europa, e disse que eu era o motor da equipa. ‘A jogar assim, Maciel, vais voltar a um clube maior’. Nessa altura o Sp. Braga já estava a crescer muito e agora é grande. Gostei muito de trabalhar com o presidente António Salvador, ajudou-me muito depois de uma operação que eu fiz. O Jorge Costa, meu colega no FC Porto, era o treinador. Ele disse-me que o Sp. Braga me queria comprar e o FC Porto recusou. Foi pena, voltei ao Brasil com a cabeça ruim. Quando regressei a Portugal tive a oportunidade de ir para o Vitória de Guimarães, com o grande Manuel Cajuda, mas o negócio não foi para a frente. Fui para o Leiria, em definitivo, porque o FC Porto tinha algum acerto para fazer – creio que sobre as transferências do Helton ou do João Paulo – e o presidente João Bartolomeu exigiu o meu regresso.

MF – Falta falar ainda do Jorge Jesus, que foi seu treinador em 2005/06. Era parecido com o José Mourinho?

M – Não, o Jesus é mais elétrico, explica as coisas de forma diferente. Vontade, paixão pelo treino e pelo jogo tem uma força incrível. Consegue ser verdadeiro com os atletas. ‘Ou fazes assim ou estás fora da equipa’. Há uma história boa. Eu estava há cinco jogos sem marcar golos e perguntaram-lhe por que não me tirava da equipa. ‘Não tiro porque não há ninguém a fazer as coisas que o Maciel faz para a equipa’. No jogo a seguir marquei três golos. Os jogadores têm de comprar a ideia dele. Dizem que ele fala de forma grosseira, mas ele fala é a linguagem que os jogadores querem ouvir. No Benfica falta o compromisso que os jogadores do Flamengo tiveram com eles. ‘Se você correr, fizer o que o técnico pede sem bola e nas bolas paradas, pode fazer o que quiser com a bola’.

MF – Para despedida vamos ouvir uma história divertida da sua carreira.

M – Uma no Porto, então. Num FC Porto-Boavista [1-0, golo do McCarthy], tive uma vontade incontrolável para urinar. Pedi ao Mourinho para sair e ele disse que não. Saí do campo sem o árbitro deixar e fui para trás do banco de suplentes para urinar. Doía-me mesmo a bexiga. ‘Estás louco, pá, o que estás a fazer aí? O que se está a passar contigo, miúdo, volta para o jogo!’ (risos). Bem, levei uma reprimenda dele no balneário, senti-me uma criancinha pequena. Posso despedir-me com outra?

MF – Claro.

M – Bem, o Del Neri era o treinador e fomos fazer uma digressão à América do Norte. A equipa estava a jogar contra o Galatasaray e no final chegaram ao balneário e estava eu e o Carlos Alberto a dançar funk (risos). O Vítor ainda falou, ‘o que é isso, pessoal?’. O Del Neri só olhava louco para nós e o Carlinhos, naquele jeito, ‘oi, ‘tou nem aí!’.

OUTROS DESTINOS:

1. Adbel Ghany, as memórias do Faraó de Aveiro

2. Careca, meio Eusébio meio Pelé

3. Kiki, o rapaz das tranças que o FC Porto raptou

4. Abazaj, o albanês que não aceita jantares

5. Eskilsson, o rei leão de 88 é um ás no poker

6Baltazar, o «pichichi» desviado do Atl. Madrid

7. Emerson, nem ele acreditava que jogava aquilo tudo

8. Mapuata, o Renault 9 e «o maior escândalo de 1987»

9. Cacioli, o Lombardo que adbicou da carreira para casar por amor

10. Lula, da desconhecida Famalicão às portas da seleção portuguesa

11. Paille, a aventura estragada por Domingos antes do álcool e a prisão

12. Samuel, a eterna esperança do Benfica

13. Lars Eriksson, o guarda-redes que sabe que não deu alegrias

14. Wando, um incompreendido

15. Doriva, as memórias do pontapé canhão das Antas

16. Elói, fotos em Faro e jantares em casa de Pinto da Costa

17. Dinis, o Sandokan de Aveiro

18. Pedro Barny, do Boavistão e das camisolas esquisitas

19. Pingo, o pedido de ajuda de um campeão do FC Porto

20. Taira, da persistência no Restelo à glória em Salamanca

21. Latapy, os penáltis com a Sampdória e as desculpas a Jokanovic

22. Marco Aurélio, memórias de quando Sousa Cintra se ria do FC Porto

23. Jorge Soares e um célebre golo de Jardel

24. Ivica Kralj e uma questão oftalmológica

25. N'Kama, o bombista zairense

26. Karoglan, em Portugal por causa da guerra

27. Ronaldo e o Benfica dos vinte reforços por época

28. Tuck, um coração entre dois emblemas

29. Tueba, ia para o Sporting, jogou no Benfica e está muito gordo

30. Krpan, o croata que não fazia amigos no FC Porto

31. Walter Paz, zero minutos no FC Porto

32. Radi, dos duelos com Maradona à pacatez de Chaves

33. Nelson Bertollazzi eliminou a Fiorentina e arrasou o dragão

34. Mangonga matou o Benfica sem saber como

35. Dino Furacão tirou um título ao Benfica e foi insultado por um taxista

36. António Carlos, o único a pôr Paulinho Santos no lugar

37. Valckx e o 3-6 que o «matou»

38. Ademir Alcântara: e a paz entre Benfica e FC Porto acabou

39. Chiquinho Conde, impedido de jogar no Benfica por Samora Machel

40. Bambo, das seleções jovens a designer de moda em Leeds

41. Iliev, sonhos na Luz desfeitos por Manuel José

42. Panduru, num Benfica onde era impossível jogar bem

43. Missé Missé, transformado em egoísta no Sporting

44. Edmilson: Amunike e Dani taparam-lhe entrada num grande

45. Jamir: «Gostava de ter dado mais ao Benfica»

46. Donizete continua um «benfiquista da porra»

47. Leandro Machado: «Se fosse mais profissional...»

48. Bobó, a última aposta de Pedroto

49. Rufai, o Príncipe que não quis ser Rei

50. Mandla Zwane, a pérola de Bobby Robson

51. Vítor Paneira e os trintões que quiseram ser como ele

52. Jorge Andrade, o FC Porto foi a maior deceção da carreira

53. Amunike e uma faca apontada a Sousa Cintra

54. Caio Júnior, ás em Guimarães

55. Luisinho: «Quem sabe jogar não precisa bater»

56. Marcelo: «Autuori preferiu Pringle, mas não ficou a ganhar»

57. Zé Carlos, o homem que Artur Jorge dizia ter «bunda grande»

58. Douglas: «Sousa Cintra entrou no balneário a pedir para eu jogar»

59. Ricky, nem Eusébio lhe valeu a titularidade no Benfica

60. Geraldão: «No FC Porto era obrigatório odiar Benfica e Sporting»

61. Paulo Nunes: «No Benfica não recebia e ainda queriam multar-me»

62. King e o sonho que morreu na marginal de Carcavelos

63. Lipcsei, num FC Porto que só teve rival em 2004

64. Alex, lenda do Marítimo: «Até Baggio me pediu a camisola»

65. Amaral: «Abaixo de Deus, o Benfica!»

66. Paulo Pereira e o polémico processo de naturalização no Benfica

67. Silas e o 'chapéu' ao Ajax: «Ate esgotámos o stock de marisco»

68. Magnusson: 87 golos no Benfica e nem um ao FC Porto

69. Zahovic e um coração dividido entre FC Porto e Benfica

70. Edmilson: «Nos 5-0, até os adeptos do Benfica bateram palmas»

71. Scott Minto: «Benfica era um gigante a dormir num manicómio»

72. Paulinho Cascavel e o Moët & Chandon de Guimarães

73. Paulinho César: «Falhei de baliza aberta no Bessa e morri no Porto»

74. Pesaresi: «Eu e o Porfírio eramos os bons malucos do Benfica»

75. Preud'Homme: «Cheguei e ouvi: 'era bom mas está velho'» 

76. Butorovic, feliz quando o FC Porto ganha

77. Paredão, que em Inglaterra esteve para ser The Wall

78. Lemajic: «Nos 6-3 ainda defendi mais quatro ou cinco»

79. Esquerdinha: «Estava a mudar de roupa e entraram aos gritos: Penta!»

80. Alessandro Cambalhota: «Para Fernando Santos eu não levava nada a sério»

81. Gary Charles: «Saí do Benfica, estive preso e agora salvo vidas»

82. Vujacic: «Para haver tantos sportinguistas, tem de ser amor»

83. Rafael: «Queriam o quê, que tirasse o lugar ao Deco?»

84. Basaúla: «Qual é o mal de uma cerveja?»

85. Everton: «Um guarda-redes ou é louco ou é gay»

86. «Já disse aos amigos benfiquistas, penta é o Quinzinho»

87. Timofte: «O meu pé esquerdo era melhor do que o do Hagi»

88. Victor Quintana: «Era tosco, mas posso dizer que joguei no Porto»

89. Kostadinov: «O Domingos adorava chá, foi o tipo mais inteligente que vi»

90. Glenn Helder: «Perdi tudo no casino e no divórcio, mas a bateria salvou-me»

91. Tony Sealy: «O Damas era o Sean Connery, o 007 do Sporting»

92. Artur: «Saí do FC Porto porque stressei com o Fernando Santos»

93. Martin Pringle: «Antes de ir para o Benfica fui 'Navy Seal'»

94. Branco: «O Artur Jorge apanhou-me a imitá-lo e foi o fim do mundo»

95. Sokota: «Sou um jogador raro, fui infeliz no Benfica e no FC Porto»

96. Balakov: «Vivi ao lado da Luz e espiei muitos treinos do Benfica»

97. Drulovic: «O Robson não me convocou e disse 'não há lugar no avião'»

98. Serifo: «Fui herói em Leça, tive um enfarte e vivo do Rendimento Mínimo»

99. Edevaldo: «Joguei no genial Brasil-82 mas no FC Porto só fui feliz nas reservas»

100. O cambalacho, o gajo cool e o génio leonino: as escolhas de Rui Miguel Tovar

101. Roger Spry: «Só saí do FC Porto porque tinha o meu pai a morrer»

102. Elzo: «Preferi o Benfica ao Real Madrid só para conhecer o Eusébio»

103. Vlk: «No FC Porto chamavam-me lobo e uivavam no balneário»

104. Douala: «Jogar no Sporting foi mais difícil do que ser educador de infância»

105. Chiquinho Carioca e a «corrida do xixi» com Mozer no Bessa

106. Aílton: «Jogar no Benfica custou-me um divórcio doloroso»

107. Demol: «Sair do FC Porto foi o meu maior erro, passei a beber muito»

108. Edílson: «Entrei de pistola e o Amaral quase morria de susto»

 109. Juskowiak: «O Mourinho era o polícia mau no balneário do Sporting» 

110. Lobão: «Tive um 127 porque fui ganhar dinheiro a Portugal, não fui gastar»

111. Jorge Plácido: «Num almoço de seis horas pedi uma casa e assinei pelo Porto»

112. Ricardo Rocha: «Tive sete meses de salários em atraso no Sporting, incrível»

113. Brian Deane: «Benfiquistas viram-me à noite num bar e obrigaram-se a ir para casa»

114. Chippo: «Estava a jejuar e desmaiei no treino, o treinador do FC Porto não sabia»

115. Toni: «'Jogaste com o Rui Costa e andas aqui nas obras? Estás maluco?'»

116. Quevedo: «Em França fui lixeiro e apanhava m...., em Portugal fui campeão»

117: N'Dinga: «Estive mal, saí de Guimarães com a conta bancária a zeros»

118: Aloísio vs Ricardo Gomes: Não há FC Porto-Benfica com mais classe

119. Duílio: «O meu filho estava a morrer, prometi-lhe um golo e ele abriu os olhos»

120. Raudnei: «O técnico não me queria, mas o meu agente convenceu o presidente do Porto»

121. Duda: «Sobrevivi a uma queda de sete metros e esmaguei os nervos da cara»

122. Valdo: «O papel dizia Sport, Lisboa e Benfica. 'Ei, três clubes atrás de mim'» 

123. Paulo Assunção: «Fui rezar a Fátima e três meses depois estava no FC Porto»

124. Milovac: «O Sá Pinto era tão chato que levou uma chapada do Filipovic»

125. João Luiz: «Nunca fui duro, mas no Sporting tive de ser violento com o Maradona»

126. Moretto e Jorginho: «Num FC Porto-Benfica até 500 euros me mostraram»

127. Mário: «Fui ganhar mais dinheiro no Estrela do que ganhava no Sporting»

128. Clóvis: «Fiz dois jogos e marquei um golo no Benfica, queriam mais o quê?»

129. Clayton: «Mourinho chamou-me e perguntou: 'Queres mesmo sair do Porto?'»

130. Alcides: «Depois de sair do Benfica fui 18 vezes sequestrado e uma vez preso»

131. Ali Hassan: «Ia assinar pelo Benfica e fui desviado pelo Sporting no hotel»

Continue a ler esta notícia

Relacionados