Viagem ao Cebollitas e às melhores histórias da infância de Maradona - TVI

Viagem ao Cebollitas e às melhores histórias da infância de Maradona

As curiosidades por detrás o primeiro clube de Diego

Quando Goyo Carrizo foi fazer testes ao Cebollitas a resposta que recebeu foi em forma de pergunta: não tens outro lá no teu bairro como tu? «Tenho um melhor», respondeu Goyo. «O Pelusa». Tinham nascido com nove dias de diferença, frequentavam a mesma escola de Lomas de Zamora e eram amigos desde sempre.

Pela mão do amigo começa a mais bela história do futebol: Diego tinha dez anos. O Cebollitas ganhou títulos, bateu recordes e foi transformado em veículo de propaganda do regime peronista. Diziam que era um exemplo da boa educação desportiva da república argentina. «Éramos imbatíveis», conta Ricardo Lombardi.

«Era difícil encontrar um miúdo que não fosse craque». Acima de todos... Maradona. Sob a orientação de Diego, os Cebollitas estiveram 137 jogos sem perder. Só perderam uma vez, aliás. «Em Santiago Ballesteros, num pueblo chamado Pinto», conta Jorge Carrizo, o irmão de Goyo e amigo de Maradona.

Jorge ainda recorda as palavras de ambos à chegada da derrota. «Diziam que os adversários tinham bigode. É normal. Na província registavam-se as crianças quando às vezes já tinham quatro ou cinco anos», lembra ao Maisfutebol. Os Cebollitas perderam pela primeira vez e Maradona... chorou.

Mas esse foi um jogo que não esqueceu. «No final um senhor da aldeia convidou-os a comer em casa dele. O Pelusa estava a chorar e esse senhor disse-lhe: Não chores, que ainda vais ser o melhor do mundo». Maradona parou de chorar. «Ainda hoje conta essa história. Foi uma frase que o marcou para toda a vida.»

A primeira ovação aos 12 anos... no terreno do Boca Juniors

Os Cebollitas iam fazendo história. «Uma vez perdíamos 1-0 ao intervalo. A outra equipa já estava entusiasmada», conta Lombardi, ele que admite que integrava a parte mais fraca dos Cebollitas. «O treinador deixara Maradona e Goyo de fora. Entraram na segunda parte e marcaram seis golos em quinze minutos.»

A partir daí, fecharam a loja. «Chegavam em frente da baliza e rematavam para fora. Ninguém percebia. Eles no fim explicaram: estavam a tentar acertar numa vaca que havia num campo atrás da baliza. Tinham feito uma aposta para ver quem lhe acertava primeiro. Podiam ter feito quinze golos só na segunda parte.»

Carrizo descorre as memórias sem parar. Lembra de quando a televisão apareceu nos treinos. «O Maradona era um malabarista, fazia coisa incríveis com a bola. Ao intervalo dedicava-se a mostrar habilidades. Começou a espalhar-se a notícia de que havia um miúdo que era um fenómeno e até a televisão foi lá filmá-lo.»

Cumpria por essa altura doze anos. Mais ou menos a mesma idade que tinha quando recebeu a primeira grande ovação... no terreno do Boca Juniors. «Foi num jogo em que o treinador o ia tirar. De repente os adeptos do Boca começaram a gritar o nome dele e a pedir para o deixar ficar em campo. Ficou, claro.» Premonitório?

Uma história que esteve quase a não começar

A melhor parte desta história é que esteve quase a não começar: Diego recebeu dinheiro e permissão do pai para fazer o teste, apanhou dois autocarros e apresentou-se no local... que estava fechado: chovia muito e o campo estava impraticável. Maradona chorou. O pai não voltaria a dar-lhe dinheiro para a viagem.

Nessa altura surgiu Francis Cornejo. «Todos para a carrinha de Yayo», gritou. «Vamos fazer o teste a outro lado». Diego fez o teste e ficou, Francis tornou-se o homem mais importante na carreira. «Foi treinador, conselheiro e quase um pai. Dava-lhe dinheiro para comer, para o autocarro, para comprar botas.»

Francis morreu há um par de anos: sozinho, pobre e abandonado. «Fui sempre humilde, pobre e lírico. A Diego nunca pedi nada, só agradeci. Podia ter tocado a qualquer um, mas tocou-me a mim. Sinto-me pago só por tê-lo descoberto. Foi o filho que nunca tive, e posso morrer tranquilo», referiu Francis pouco antes de morrer.

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