Do Padroense aos palcos da Liga, o vaivém do goleador do Mafra - TVI

Do Padroense aos palcos da Liga, o vaivém do goleador do Mafra

  • Ricardo Jorge Castro
  • 10 mai 2018, 08:10
Bruninho - Mafra

Cumpriu o «sonho» de ser futebolista profissional ao serviço de V. Setúbal e Penafiel, mas este foi como considera o futebol: «efémero». A história de Bruninho, o homem-golo que despontou em Padrão da Légua e que faz o Mafra pensar na II Liga

No vaivém da vida, entre ida e volta, há oportunidades agarradas. O salto por mérito. O momento exato. A hora errada no sítio certo. Ou o contrário.

Bruninho nunca sabe se poderia ter «arriscado» mais quando foi de primeira. Mas esteve lá. Os golos marcados pelo Padroense permitiram ao então jogador à noite e trabalhador de dia dar um duplo pulo da extinta II Divisão B para a Liga. De Padrão da Légua para o Vitória sadino. Estávamos em 2012.

Daí para cá, foram três épocas no mais alto escalão. Duas em Setúbal. Uma em Penafiel. O «sonho de ser profissional» cumpria-se. Mas sem a utilização desejada.

Com a queda dos durienses na II Liga, em 2015, esteve mais meia época no Penafiel. Pouco jogou e esteve um mês à parte. Cisou contrato, passou pelo Bragança e hoje volta a ser goleador no patamar de partida.

Bruninho, 29 anos, é uma das grandes figuras do Mafra, que luta pela subida à II Liga. O play-off arrancou com vitória caseira por 2-1 ante o Vilaverdense no último domingo, com bis do jogador natural do Porto. Leva 19 golos esta época e ninguém mais que ele marca no clube da terra do Palácio Nacional.

«O primeiro objetivo era ficar nos lugares de play-off. Foi conseguido. Depois de estar aqui, queremos ganhar todos os jogos», refere Bruninho, em conversa com o Maisfutebol. Reconhece a dificuldade do mata-mata pela subida, mas quer «devolver a glória» do clube que se estreou na II Liga em 2015.

«Foi um choque saltar da terceira para a primeira»

Formado no Candal e no Vilanovense, Bruninho despontou nas duas épocas de Padroense ao peito. Na primeira, 2010/11, quase subiu à II Liga. Na segunda, um bis na última jornada valeu vitória e manutenção em Paredes (1-2). Isto em abril de 2012, já após ter assinado pelo V. Setúbal.

Reconhece que «foi um choque saltar da terceira divisão logo para a primeira liga». Não estava «habituado» ao futebol profissional. Tinha o ensino secundário no currículo e depois surgiu o emprego de sempre, a par da bola: caixa de supermercado e responsável de encomenda de materiais.

«Era um jogador amador. Trabalhava, treinava à noite». Em julho de 2012, tudo mudou com a ida para o Sado.

Bruninho disputa bola com Danilo, num FC Porto-Penafiel, em 2015 (Foto: cedida pelo jogador)

Com adaptação «mais difícil do que estava à espera», Bruninho defende ter conseguido «mostrar valor» sempre que jogou. Só lamenta «não ter sido utilizado muitas vezes».

E é neste ponto que fala da capacidade mental para corresponder à mudança. «Sinceramente, se calhar não fui um jogador muito forte, não sei. Se tivesse arriscado, se calhar tinha-me dado melhor. Em Penafiel, cheguei a treinar à parte um mês. Abalou a minha confiança», recorda. O próprio deixa dúvidas no ar.

A mudança radical até fez com que não deixasse o trabalho «em definitivo», porque «caso corresse alguma coisa mal [ndr: em Setúbal] podia voltar ao trabalho». «Não tinha a certeza se ia conseguir ser profissional, mas consegui ficar no plantel», prossegue Bruninho, ciente de que chegar de novo ao topo do futebol português «já não seja o próximo passo na carreira». Talvez a II Liga, pelo Mafra ou não. Ou o estrangeiro, se for uma proposta tão boa «desportiva como financeiramente».

No período de primeira, cruzou-se com vários jogadores que singraram depois no futebol. João Mário foi um deles, no V. Setúbal. «Quando o vi a jogar, disse que no ano a seguir era impossível não pegar de estaca no Sporting e foi o que aconteceu», constata.

Além destas, outras memórias. «Pedro Santos, Nélson Pedroso, Miguel Pedro… jogadores com quem criei afinidade. Nos estágios, estávamos sempre a ver os vídeos dos apanhados, a ‘Liga dos Últimos’. Até me lembro do segundo ano, em Setúbal: o Couceiro ia fazer a revista aos quartos à noite e, quando chegava, ficava lá a noite toda. Quando se dava pela hora, já tinha passado hora de ir aos outros quartos e ficava connosco na brincadeira», recorda.

Bruno Correia, conhecido como Bruninho, é o melhor marcador do Mafra, com 19 golos (Foto: Jorge Marques)

Futebol não é tudo e há o futuro depois dele

Bruninho voltou ao futebol não profissional. A diferença é que agora é o único sustento.

«Dei tudo para aparecer na primeira e na segunda liga, infelizmente não fui opção», insiste. Mas, a cerca de 300 quilómetros de casa, encara tudo «com o profissionalismo» de outrora.

A carreira é que está a cada dia mais perto do fim. E há um «futuro depois do futebol». «Tenho de começar a pensar nisso, porque isto não dura para sempre», atira. Admite que ainda não ponderou «como deveria», mas talvez «tirar algum curso superior» seja opção. Diz não ter o «dom da palavra» e «jeito para ser treinador». «Ou se calhar tenho e ainda não descobri», contradiz.

Sem descurar o depois, cabeça no presente, ajudar o Mafra e ter sustento. «Governo bem o meu dinheiro. Sou bastante poupado. Consigo, com esforço, sobreviver. Mas é sempre complicado. Há clubes que não pagam e as pessoas têm contas para pagar. Imagine um trabalho e não se receber… para que é que se trabalha, né?», atira.

Bater a marca pessoal dos 21 golos da época 2011/12, no Padroense, está também na mira. «O meu empresário disse que eu ia fazer 25. Ficámos entre os 20 e os 25, que era o meu objetivo desta época. Quantos mais conseguir melhor, mas preferia não fazer mais nenhum e subir de divisão».

Ainda que esse sonho do Mafra parta da maior fatia de golos de Bruninho.

Artigo original: 08/05, 23h50

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