«Domingo à Tarde» é uma rubrica do Maisfutebol, que olha para o futebol português para lá da liga e das primeiras páginas. Do Campeonato de Portugal aos Distritais, da Taça de Portugal aos campeonatos regionais, histórias de vida e futebol.
Florentino Luís, Jota, Gedson Fernandes, João Virgínia, José Gomes… estes nomes dizem-lhe alguma coisa, caro leitor?
Pois bem, fazem todos parte da famosa geração de 99 que está a encantar o futebol português e que já conquistou dois europeus – sub-17 e sub-19.
Também desta geração, mas a brilhar em escalões inferiores, há um jovem que assume a bandeira romântica do Belenenses do Restelo, neste seu (re)nascimento agora separado da SAD: Tomás Castro.
21 golos em 19 jogos. Como se explica?
Aos 20 anos, Tomás vive a primeira época no futebol sénior, e os números não podiam ser mais relevadores da época de sonho que tem tido, com 21 golos em 19 jogos na série B da 1.ª divisão distrital de Lisboa, que o emblema da Cruz de Cristo lidera confortavelmente.
Números ainda mais impressionantes se tivermos em conta que Tomás é médio de origem, embora haja um pequeno segredo que sustente esta estatística: a nova posição dentro de campo.
«Sempre fiz a minha formação a médio, mas neste momento estou a jogar como um falso «9», bem na frente, por isso é que se calhar tenho esses números. Não é a questão de ser mais fácil, tenho é mais oportunidades de finalização», começa por contar ao Maisfutebol.
O jovem de 20 anos chegou a Belém na época passada, ainda júnior, e antes de todo este imbróglio entre clube e SAD, mas retira coisas positivas de toda a situação.
«Sinceramente se estivesse tudo como deve ser se calhar eram outras perspetivas, se calhar nem estávamos cá, mas independentemente do que aconteceu foi uma oportunidade que surgiu e um projeto que o Belenenses nos propôs e até agora tem sido espetacular», diz.
«É o meu primeiro ano de sénior, que costuma ser complicado, tenho tido minutos, tenho ganho confiança e é um projeto espetacular, temos muitos adeptos, tudo e mais alguma coisa, só temos a ganhar com isso», acrescenta.
Ora, por falar em adeptos, é nesse ponto que o médio mais se foca: «Sim, sentimos [que o Belenenses tem vantagem em relação aos adversários pela dimensão que tem], temos condições de I Liga, jogamos no Restelo… e os adeptos, obviamente, que é o mais importante. Estão lá todos os fins de semana, estão lá sempre presentes, e a nós é o que nos toca mais.»
A formação no Benfica com Jota e Florentino e o problema do físico
No Belenenses há duas épocas, a história de Tomás com clubes históricos do futebol português não começou agora, já que no currículo do jovem constam equipas como o Benfica e o Sp. Braga.
Nos encarnados, emblema que representou até aos iniciados, o agora jogador do Belenenses foi companheiro de Jota e Florentino Luís, por exemplo, mas não conseguiu acompanhar o percurso dos dois jovens que já despontam na equipa principal do conjunto da Luz.
Porquê? Tomás explica.
«Muito sinceramente acho que foi numa fase em que via que toda a gente estava a dar aquele salto a nível físico. Senti muito que o futebol de sete era mais técnico, acho que foi a partir desse ‘pulo’ de iniciados que notei muita diferença a nível físico, senti que não acompanhei os meus colegas, e acho que isso influenciou, porque não joguei», confessa.
«Se me senti prejudicado pela minha compleição física? Não é essa a questão, eu joguei sempre todos os anos, mas naquele ano calhou-me um treinador diferente, não joguei, e quando isso acontece a confiança vai abaixo e psicologicamente fui abaixo, treinava todos os dias e depois chegava ao fim de semana e não jogava», prossegue.
O jovem revela que mantém contacto com Jota e Florentino, «além de outros colegas» e ainda Trincão (com quem jogou no Sp. Braga), e destaca os nomes dos dois primeiros para o futuro, numa geração que diz ser especial.
«Acho que sim, é uma geração muito especial e fico muito contente e feliz ao ver que jogadores com quem partilhei balneário durante muitos anos consigam lá chegar [ao futebol profissional] e espero que muitos lá cheguem, incluindo eu (risos).»
«Destaco dois jogadores, que vão dar-se muito bem: o Florentino e o Jota, foram sete anos a partilhar o balneário com eles e espero que tudo lhes corra bem», afirma.
«O meu objetivo é ser mesmo jogador, ser independente com o futebol é mesmo o meu sonho»
Voltando ao Belenenses, Tomás encontrou no Restelo um ingrediente que lhe faltou em anos anteriores e que, quiçá, lhe terá atrasado a evolução na carreira: continuidade.
«O que eu sinto é que jogo após jogo, com os minutos, sinto-me cada vez mais confiante e acho sinceramente que a continuidade e a confiança são as palavras fundamentais. Mas não me foco muito nos golos, golos e assistências é igual, o que me importa é ajudar a equipa, o resto aparece.»
A boa época pode despertar a cobiça de equipas que estejam num escalão superior, mas para já, garante Tomás, «isso não é o mais importante», mas sim o Belenenses, até porque se o jovem se focar no presente, «o resto aparece com mais facilidade».
E a longo-prazo, qual é o sonho?
«O meu objetivo é ser mesmo jogador, ser independente com o futebol é mesmo o meu sonho. O mais importante é meter na cabeça que vou ser jogador, independentemente do meu caminho vou trabalhar sempre para chegar lá acima, esse é o meu principal objetivo», finaliza.
Depois de uma juventude «franzina», Tomás Castro deu o pulo e começa agora a despontar no futebol sénior, ao serviço do Belenenses que dá os primeiros passos na distrital. O sonho é a I Liga, mas enquanto isso não chega, assume-se como o sniper do Restelo.
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