Rafa Miranda: da estreia de sonho no Dragão ao «estrelato» no Vilaverdense - TVI

Rafa Miranda: da estreia de sonho no Dragão ao «estrelato» no Vilaverdense

Rafa Miranda

Formado no Varzim e Rio Ave, Rafael Miranda tentou a sorte no Chelsea e Fulham, e esteve muito perto de assinar pelo Atlético de Madrid. Depois de uma estreia de sonho pela equipa principal do Rio Ave, no Estádio do Dragão, ele é agora uma das principais figuras de um Vilaverdense que sonha com a subida à II Liga

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Domingo à tarde é uma rubrica do Maisfutebol, que olha para o futebol português para lá da liga e das primeiras páginas. Do Campeonato de Portugal aos Distritais, da Taça de Portugal aos campeonatos regionais, história de vida e futebol.

Para além dos golos e assistências, a maior virtude de Rafa é provavelmente a humildade. Começa a conversa com o Maisfutebol a dizer que não vai falar falar sobre a «carreira», pois acredita que não tem uma. «Sou um aspirante a isso ainda.»

Natural de Cristelo, uma pequena freguesia de Barcelos com menos de dois mil habitantes, o extremo de 22 anos disputa hoje a Fase de Subida do Campeonato de Portugal, ao serviço do Vilaverdense, emprestado pelo Rio Ave. 

Apesar de estar vinculado ao clube de Vila do Conde, Rafa destacou-se ao serviço do maior rival, o Varzim. O gosto pelo futebol veio do pátio da escola, onde o barcelense deu os primeiros toques na bola.

«Comecei como qualquer miúdo: a jogar na escola. Tivemos um torneio inter-escolas na primária e ganhámos. O Gil Vicente ficou interessado mas acabou por não surgir nada. Um amigo meu que jogava num clube aqui ao lado convidou-me para ir lá treinar e fiquei. Joguei quatro anos no Laúndos.»

Seguiu-se o Varzim, onde o extremo chamou à atenção de clubes como Chelsea e Fulham, onde foi treinar, à experiência: «Estava nos iniciados e fui lá treinar numa folga do campeonato em janeiro. Um empresário inglês viu-me jogar, fiz três golos, ele gostou e levou-me a Inglaterra. Estive duas semanas no Chelsea, mas não fiquei. O Varzim só me deixava vir se viesse um responsável comigo, e eles não gostaram que estivesse lá alguém a querer saber tudo. Ficaram de pé atrás e acabou não acontecer. Depois fiz três treinos no Fulham também.»

Rafa destacou ainda as maiores diferenças entre o futebol português e o inglês: «Lá é mais físico, muito mais intenso, enquanto que aqui é mais técnico e tático. No primeiro dia que cheguei lá, apresentaram-me o centro de treinos, que tinha 38 relvados naturais e um sintético. Calcei as minhas chuteiras com pitons de alumínio e eles meteram-nos a treinar no único sintético», recordou, em risos.

Depois da experiência em Stamford Bridge e no Craven Cottage, Rafa esteve perto de se transferir para outro gigante europeu: o Atlético de Madrid.

«Estive quatro anos no Varzim e surgiu uma oportunidade de com 17 anos ir para o Atlético de Madrid. Assinei contrato e tudo. Rescindi com o Varzim e fui a Madrid acertar pormenores, e depois o negócio acabou por não acontecer. Voltei a Portugal e fiquei sem clube. Surgiu o Rio Ave, já para integrar a equipa principal e aceitei, claro», contou.

Ao serviço da equipa principal do clube de Vila Conde, na época de 2012/13, o extremo somou apenas um jogo com a camisola do Rio Ave, e logo numa partida decisiva. Rafa foi substituto utilizado na meia-final da Taça da Liga frente ao FC Porto, no Estádio do Dragão: «Foi uma noite especial. Contra o FC Porto, num palco daqueles. Treinava sempre na equipa A, e jogava nos juniores quando não era convocado (Rafa ainda era juvenil). No início a adaptação foi um pouco complicada mas sempre me ajudaram bastante.» Mais tarde, voltou a defrontar o FC Porto num jogo-treino no Olival (ver foto).

O jovem de 23 anos destacou dois jogadores do plantel que o ajudaram particularmente, para além do treinador: «O Ukra e o Tarantini. O Ukra principalmente, porque era da minha posição e aconselhava-me muito, e dava-me opiniões do que devia fazer. O Nuno Espírito Santo foi o treinador que mais me marcou, foi o primeiro, e aquele que me deu a oportunidade, conversava muito comigo e dava-me muito na cabeça.»

Sobre o atual jogador do CSKA Sofia, Rafa destacou o reconhecido bom humor do internacional português e recordou as partidas que fazia: «Ele fazia com que o balneário e o plantel fosse muito mais descontraído. Antes dos treinos estávamos sentados a conversar e ele atava um cordão nosso ao banco sem reparar. Quando o mister chamava estávamos presos ao banco e era uma risota entre o pessoal.»

Internacional português nas camadas jovens, Rafa partilhou a camisola da seleção das quinas com jogadores como Rúben Neves e Gonçalo Guedes. «É uma grande alegria ver que estavam ao meu lado e o trajeto deles hoje. Dá esperança para um dia poder chegar ao nível onde eles estão.»

O extremo admitiu que teve várias propostas do Benfica e do FC Porto ao longo da seu ainda curto percurso. Chegado aos juniores, seguiu-se meia temporada de empréstimo ao Pedras Rubras, e duas temporadas no Vilaverdense, clube que ainda hoje representa:

«Fiz um jogo na fase de subida contra o Vilaverdense, ao serviço do Pedras Rubras, e fiz um golo. Na época seguinte surgiu a proposta para ir para lá. A primeira época foi mais de afirmação, e para preparar para esta temporada. Claro que queríamos subir mas não era um objetivo principal. Este ano a subida é um objetivo declarado e até agora está a correr tudo bem.»

O Vilaverdense está nos quartos-de-final da fase de subida do Campeonato de Portugal, onde vai medir forças com o Mafra.

«Individualmente tem sido muito muito importante, principalmente pelos minutos e pela confiança que os meus companheiros e a equipa técnica me dão. No ano passado fiz 14 golos que foi uma marca muito boa, e esta época também tenho golos e assistências, mas acima de tudo os minutos que vou somando é o mais importante», disse ao Maisfutebol.

Por agora, admite estar 100 por cento focado em «subir o Vilaverdense de divisão». Sobre o futuro, admite que ainda tem de analisar e «perceber qual será o melhor trajeto» para a sua carreira. «Tenho mantido contacto com o Rio Ave, costumam ver os nossos jogos e o Miguel Cardoso também já me deu algumas palavras», diz.

Muito humilde em toda a entrevista com o Maisfutebol, o maior exemplo veio já no fim da conversa: «Não tenho sonhos, vou pensando sempre com os pés no chão e só no dia-a-dia. Quero ser melhor todos os dias da minha vida e tentar subir degrau a degrau para chegar a um patamar superior, e trabalhar para dar uma vida melhor ao meu filho e à minha família.»

Artigo original: 1/5, 23h50

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