Igor Landim, o guarda-redes que foi herói e vilão em Moura - TVI

Igor Landim, o guarda-redes que foi herói e vilão em Moura

Igor Landim (Arquivo Pessoal)

Igor Landim viveu uma tarde de emoções fortes no último domingo, quando teve nas mãos e também nos pés a oportunidade de fazer o Moura sonhar na Taça…mas bateu na trave

Domingo à tarde é uma rubrica do Maisfutebol, que olha para o futebol português para lá da Liga e das primeiras páginas. Do Campeonato de Portugal aos Distritais, da Taça de Portugal aos campeonatos regionais, histórias de vida e de futebol.

 

«Calhou-me a fava, pronto…»

Bola no círculo da grande área, um penálti que alimentaria o sonho de fazer história na Taça de Portugal, remate colocado…demasiado até (ver a partir do minuto 14').

Bola ao poste e o fim da festa.

Para o Moura, a surpresa na Taça ficou a poucos centímetros de poder acontecer. No passado domingo, a equipa do distrito de Beja deu água pela barba ao Portimonense, numa espécie de Clássico a Sul do país.

Frente à equipa da I Liga, os alentejanos conseguiram aguentar o nulo até à lotaria dos penáltis, mas caíram de pé ao fim do 18.º pontapé (6-7).

«Estivemos muito bem durante o jogo, contra uma equipa muito bem orientada pelo Vítor Oliveira e com muito bons jogadores. Sabíamos que seria complicado, mas fizemos um jogo quase perfeito em termos táticos e com o passar do tempo fomos acreditando que podíamos fazer uma surpresa. Mas pronto, faltou-nos um pouco de sorte.»

O testemunho vem com pronúncia algarvia, curiosamente, e da boca de um homem que passou do céu ao inferno em poucos minutos.

Igor Landim foi o guarda-redes do Moura nesse jogo e viveu um episódio insólito na vasta carreira como jogador. O guardião de Almancil (Loulé) foi chamado a bater um penálti decisivo, mas falhou, isto já depois de ter conseguido defender um.

«Havia dois jogadores tocados, que disseram que não conseguiam bater. Tinham passado uns cinco minutos entre o último penálti e o meu, porque o árbitro foi ao banco umas três vezes conferenciar. Após a confusão, o árbitro acabou por dizer-me que seria eu a bater. Olhe, assumi, que remédio não é? Estava bem, tive que bater», explicou.

Costuma dizer-se no futebol que o azar de uns é a sorte de outros. Neste caso não foi bem assim.

Tinha defendido o segundo penálti, mas um colega meu falhou na “negra”, quando podíamos carimbar a passagem. Fomos a uma segunda volta e pronto. Calhou-me a fava. Tínhamos estado a jogar ao jogo da trave no sábado e não mudei o chip. Pronto, acertei no poste. Já tinha defendido alguns, mas falhar não (risos)». Estava tranquilo, mas quando vi a bola a embater no poste senti o mundo desabar»

«Se tivesse de bater novamente, não tinha problema»

A falta de acerto de Igor acabou por custar caro ao Moura, que esteve a um passo de chegar pela primeira vez à 4.ª eliminatória da prova-rainha, algo que iria certamente abrilhantar a época do atual 10.º classificado da Serie E do Campeonato de Portugal.

Apesar disso, Igor garantiu não ter ficado abalado com a situação, dizendo até que assumiria novamente a marcação de um penálti, se necessário.

«Preferi ser eu a falhar do que um colega mais novo, porque nós, mais velhos, temos capacidade de recuperar mais rapidamente. Não me vou deixar afetar por causa disso. Até ao Messi aconteceu na Copa América (risos). Claro que fico triste, porque podíamos fazer história pelo clube, já tínhamos eliminado o Gil Vicente. Deus não quis que fosse assim e quis que fosse eu a falhar. Os adeptos do Moura foram incansáveis no apoio, do tipo “deixa lá acontece”. Se tivesse de bater novamente, bateria sem problema, já não tenho idade para me deixar afetar por isso», assegurou.

O sonho de trocar as luvas pela jaleca

«Madrugador» desde miúdo, o guarda-redes de 33 anos tem um quotidiano bastante preenchido e quase todo dedicado ao clube de Beja. Para além de jogador, ajuda ainda nos escalões de formação.

A família em Almancil - cerca de 200 quilómetros - só a vê praticamente dois dias por semana, fisicamente. As saudades vão batendo de vez em quando, pior nos quatro anos em que jogou nos Açores.

«Domingo, a seguir ao jogo, regressamos a casa. Do Algarve somos dois, então dividimos os custos, mas nem sempre podemos ir a casa, porque ainda fica caro. A malta de Lisboa vai mais vezes porque, como são mais, conseguem dividir por mais também e fica menos dispendioso. Custa ficar longe da família, mas tem de ser. As novas tecnologias ajudam um pouco», indicou.

Embora longe da família, Igor faz do Moura a segunda casa há seis anos e é uma espécie de paizinho no seio do grupo. Nos tempos livres até tem tempo para fazer uns petiscos para os colegas, uma paixão antiga.

«Às vezes faço lá uns petiscos no restaurante do clube. Por norma juntamo-nos e sou o cozinheiro de serviço. De vez em quando fugimos um pouco da rotina e passamos um bom bocado. Não sou mau cozinheiro de todo (risos)», confessou.

Esse talento leva-o mesmo a ponderar seguir uma carreira dentro da área, caso o futebol não lhe proporcione uma oportunidade mais atraente.

Se não tirar um curso e treinar guarda-redes, tirarei um curso de culinária para trabalhar na área. Adoro cozinhar, um pouco de tudo. Dizem que tenho jeito, portanto nunca se sabe (risos). Quando largasse as luvas, gostava de vestir a jaleca, abrir um espacinho pequeno, um tasco mas um pouco mais fino vá. Ter o meu espaço, acolhedor, para me ir entretendo»

Assim foi a história de Igor Landim, o guarda-redes herói que se tornou vilão, mas da forma mais inocente possível.

Acima de tudo, a prova de que momentos como o de Ricardo Pereira, no Euro 2004, não acontecem todos os dias.

«Se batesse penáltis tão bem como cozinho, teríamos passado. Mas pronto, bola para a frente…»

 

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