O Sindicato dos Motoristas das Matérias Perigosas anunciou esta quarta-feira que fará uma "greve cirúrgica" entre os dias 7 e 22 de setembro.
Numa declaração à imprensa, Francisco São Bento, presidente do sindicato, revelou que o pré-aviso de greve já foi entregue e que esta incidirá sobre as horas extraordinárias e trabalho aos fins de semana e dias feriados. Assegurado ficará apenas o período de oito horas de trabalho em dias úteis, sublinhou o presidente do sindicato.
A greve dos motoristas de matérias perigosas, que levou o Governo a adotar medidas excecionais para assegurar o abastecimento de combustível, terminou no domingo, ao fim de sete dias de protesto, depois de o SNMMP, que se mantinha isolado na paralisação desde quinta-feira à noite, a ter desconvocado.
O Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias desvinculou-se da greve ao quarto dia, na quinta-feira à noite, e vai regressar às negociações com o patronato em 12 de setembro.
Falharam negociações mediadas pelo Governo
Este anúncio de pré-aviso de greve surge após uma reunião na terça-feira entre o Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) e o Governo no Ministério das Infraestruturas e Habitação, em Lisboa, que terminou sem acordo.
O advogado e porta-voz do SNMMP, Pedro Pardal Henriques, disse à saída da reunião com o Governo que a Antram [Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias] "não quis evitar uma possível greve por 50 euros".
A única coisa que pedimos à Antram foi que as horas extraordinárias fossem pagas, porque as pessoas devem receber pelo trabalho que fazem. E pedimos que ficasse estabelecido isto hoje", explicou o porta-voz do SNMMP.
Pedro Pardal Henriques acrescentou que o sindicato pediu ainda "um aumento no subsídio de ADR [de transporte terrestre de mercadorias perigosas], que é um subsídio específico para 800 trabalhadores que manuseiam matérias perigosas".
A Antram veio dizer que está disponível para negociar, mas que não aceita condição nenhuma", acrescentou.
Pardal Henriques disse ainda que a Antram impôs que o processo de negociação se iniciasse desde que fosse “exatamente aquilo que foi apresentado aos outros dois sindicatos, ou melhor, que foi apresentado à Fectrans [Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações] e que foi imposto ao SIMM [Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias]”.
Na terça-feira, também a Antram esteve reunida no Ministério das Infraestruturas e, no final do encontro, o seu porta-voz, André Matias de Almeida, afirmou que o SNMMP recusou o processo de mediação, apesar de a associação patronal estar disponível para debater “quase tudo”.
Hoje deixámos aqui um documento de manhã onde abríamos quase tudo à mediação. Fomos chamados [na terça-feira à noite] ao Ministério das Infraestruturas para sermos informados de que o sindicato não aceita a mediação e quer impor aumentos salariais e o pagamento de horas suplementares, e isso não é um processo de mediação”, apontou.
Assim, a Antram defendeu que a desconvocação da greve “não passou de mais um número” e vincou que “não é possível conversar com quem quer ir para a mesa de negociações com condições impostas”.
No domingo, na moção aprovada durante o plenário, os motoristas decidiram mandatar a direção do sindicato para, caso a Antram demonstrasse uma “postura intransigente” na reunião de terça-feira, tomar medidas, como “a convocação de greves às horas extraordinárias, fins de semana e feriados”, até que os interesses dos motoristas sejam efetivamente assegurados.
Na segunda-feira, o Governo aprovou o fim da crise energética, voltando Portugal à situação de normalidade.