Endesa: “Rendas excessivas são os 20 milhões que pagamos ao Estado” - TVI

Endesa: “Rendas excessivas são os 20 milhões que pagamos ao Estado”

  • CE
  • 24 jan 2019, 19:56
Nuno Ribeiro da Silva - presidente da Endesa Portugal

Declarações de Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa Portugal, na comissão parlamentar de inquérito ao Pagamento de Rendas Excessivas aos Produtores de Eletricidade

O presidente da Endesa Portugal, Nuno Ribeiro da Silva, defendeu esta quinta-feira, no parlamento, que a empresa não tem rendas excessivas, vincando que o único valor em excesso são os 20 milhões anuais que pagam ao Estado.

Queria deixar claro que na Endesa, em todo o tipo de atividades, não temos uma renda sequer, muito menos excessiva […]. A única coisa de rendas excessivas é o que pagamos ao Estado”, disse Nuno Ribeiro da Silva, em resposta à deputada socialista Ana Passos, durante uma audição na Comissão Parlamentar de Inquérito ao Pagamento de Rendas Excessivas aos Produtores de Eletricidade.

Para o responsável da energética, as “única rendas excessivas” que a empresa tem são os 20 milhões anuais que tem que pagar ao Estado, distribuídos pela Contribuição Extraordinária sobre o Setor Energético (CESE), tarifa social, mecanismo de equivalência de preços entre Portugal e Espanha - ‘clawback’ e a contribuição extraordinária sobre o CO2.

Isto, para nós, é que representa um sucessivo acumular de custos de cerca de 20 milhões de euros”, reiterou.

Por sua vez, relativamente às questões ambientais e à possibilidade do Governo encerrar, em 2021, a central do Pego, no distrito de Santarém, o presidente da Endesa garantiu que a empresa está a “analisar” a questão, garantindo que irá acatar a decisão do executivo.

Ainda assim, sublinhou, que "em 28 anos de concessão a central do Pego funcionou, em pleno, três quartos do tempo".

É uma questão que estamos a analisar com o nosso sócio. O grupo, em Espanha, está confrontado com situação idêntica […]. Se o Governo decidir pelo encerramento em 2021, assim será”, acrescentou.

Nuno Ribeiro da Silva notou ainda que a empresa está a “imaginar todos os cenários”, sobretudo devido à central ser “uma unidade relevante” em Abrantes.

Estamos a estudar [formas de] aproveitar espaço ou a unidade para alguma geração renovável. Tem-se falado no uso de biomassa florestal, [mas] é complexo”, concluiu.

Antes, na intervenção inicial, o gestor disse que Endesa tem como objetivos em Portugal seguir as indicações de Bruxelas quanto à descarbonização, a integração de redes inteligentes e ter um maior foco nos clientes.

Os objetivos para Portugal são manter o foco “na descarbonização, em redes mais inteligentes, na relação com o cliente, e na eficiência e diminuição de custos”, afirmou.

 

"Girabolhos é uma história traumática" 

O presidente da Endesa afirmou ainda que "Girabolhos é uma história triste e traumática", adiantando que a empresa não reclamou ao Estado os 60 milhões que tinha investido na construção da barragem.

Girabolhos, no rio Mondego, integrava um conjunto de 10 novas barragens do Programa Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroelétrico, lançadas pelo governo de José Sócrates, mas a sua construção foi cancelada em 2016, quando já tinha sido concessionada.

Nuno Ribeiro da Silva explicou que a referência, no Programa do Governo de António Costa, a uma alteração dos termos do contrato da barragem "foi fatal" junto da banca e dos analistas, e levou o grupo a suspender o projeto, um investimento de cerca de 500 milhões de euros.

Pelo menos significava uma alteração dos termos do contrato e a decisão do grupo, que me transcende, foi de imediatamente suspender o projeto, limitar o risco, e aceitar a perda de 60 milhões de euros que já tinha investido", afirmou o presidente da Endesa Portugal.

Nuno Ribeiro da Silva considerou que "Girabolhos é uma história triste e traumática", e que foi "muito frustrante" sobretudo quando "nunca teve qualquer problema ambiental, nem de património arqueológico, histórico ou o que fosse".

De acordo com o gestor, a empresa já tinha iniciado as expropriações, comprado terrenos, num investimento de cerca de 60 milhões de euros, mas preferiu "travar a fundo", e perder o que tinha investido.

Entregámos os terrenos ao Estado, não reclamámos nada, mas conseguimos afastar analistas a perguntar se continuamos empenhados em gastar mais. Esta saiu muito cara infelizmente, com mais pena enquanto português e cidadão, sobretudo porque sei que aquela região é tradicionalmente carente de água", acrescentou.

O presidente da Endesa Portugal realçou que os municípios abrangidos - Mangualde, Seia, Gouveia e Nelas - defendiam o projeto. "Acabou por ser uma separação de marido e mulher que ainda gostam um do outro", lançou.

Em abril de 2016, o Governo anunciou o cancelamento da construção das barragens do Alvito, no rio Tejo, que abrange os concelhos de Castelo Branco e Vila Velha de Ródão, e de Girabolhos, no rio Mondego, enquanto a construção da barragem do Fridão, no rio Tâmega, no concelho de Amarante, foi suspensa por três anos.

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