Portugal entre países europeus onde turismo mais cai em 2020 - TVI

Portugal entre países europeus onde turismo mais cai em 2020

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  • 26 abr 2020, 10:12
Torre de Belém, Lisboa

Estudo da da Oxford Economics diz que existe um recuo de 40%

Portugal é dos países europeus onde o turismo internacional mais cai este ano devido à pandemia, com uma queda de 40% no número de visitantes, apenas superada por Espanha e Itália, de acordo com estudo da Oxford Economics.

Segundo o estudo desta consultora britânica sobre os impactos da Covid-19 no turismo europeu, ao qual a agência Lusa teve hoje acesso e que é datado do início do mês, em Portugal deverão registar-se menos sete milhões de entradas internacionais este ano, em comparação com 2019, o equivalente a uma queda de 40%.

Em termos percentuais, Portugal é apenas superado na redução dos visitantes por Itália (com uma queda de 49%, menos 31 milhões de visitantes) e por Espanha (recuo de 42%, menos 34 milhões de visitantes), que são desde logo os mais afetados pela pandemia, seja em número de mortes ou de casos.

Já em termos de volume, o Estado-membro com maior recuo nas chegadas turísticas internacionais, segundo a análise da Oxford Economics, é França, com uma queda de também 40%, o equivalente a menos 38 milhões de visitantes face a 2019.

Só França, que também está a ser bastante afetada pela covid-19, é responsável por cerca de 13% das entradas internacionais em toda a Europa.

Juntamente com Itália e Espanha, Portugal é um dos países onde o Produto Interno Bruto (PIB) mais depende do turismo, num total de 16,5%, segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo.

Outro Estado-membro europeu muito dependente do turismo é a Grécia, onde, de acordo com a Oxford Economics, a queda no número de chegadas é de 36%, equivalente a menos 11 milhões.

O sul da Europa é, inclusive, a região mais afetada pelo recuo do turismo internacional, caindo ao todo 40% em 2020, após um crescimento de 5% em 2019.

A consultora britânica observa nesta análise, a mais recente para o turismo europeu, que, “mesmo nos casos em que o número de casos [de covid-19] num país é relativamente baixo, tendem a existir restrições semelhantes em matéria de viagens e de movimentos”, o que justifica estas quedas acentuadas.

Assumindo que a covid-19 afeta o turismo europeu durante oito meses (fevereiro a setembro), entre alturas de confinamento e de levantamentos faseados das restrições, esta entidade estima uma queda de 39% nas viagens de turismo para toda a Europa em 2020, comparando com o período homólogo anterior, o equivalente a menos 287 milhões de chegadas internacionais.

Ainda assim, a Oxford Economics nota que “a duração potencial das proibições de viagem é ainda bastante incerta”, pelo que os números poderão alterar-se e até piorar, caso “as restrições de viagens continuem e atinjam o pico da época” turística, isto é, julho e agosto.

E, “embora se preveja uma rápida recuperação em 2021, não se espera que os níveis de viagens internacionais registados em 2019 se restabeleçam antes de 2023, uma vez que os efeitos prolongados sobre os rendimentos se repercutem” nos movimentos turísticos, nota esta entidade.

No que toca às viagens domésticas, “também cairão [em 2020], mas não mais do que as viagens internacionais”, estima a Oxford Economics, justificando que as restrições aqui aplicadas deverão “ser levantadas mais cedo”.

Para o conjunto da Europa, a redução esperada nos movimentos turísticos domésticos na região este ano é de 23%, sendo mais acentuada no sul da Europa (-24%) e na Europa ocidental (também -24%) e menos evidente na Europa central ou oriental (-20%), conclui a consultora na análise.

Turismo europeu precisa de 375 mil ME para recuperar

A European Travel Commission (ETC), entidade europeia de turismo, estimou que o setor do turismo europeu necessite de 375 mil milhões de euros para recuperar da crise gerada pela covid-19 e para restabelecer as suas operações.

“As estimativas da União Europeia [UE] são à volta de 255 mil milhões de euros para ajudar os Estados-membros a recuperar a indústria e mais cerca de 120 mil milhões de euros para investimento extra, para ajudar os empreendedores e operadores a restabelecerem as suas operações”, afirma em entrevista à agência Lusa o diretor executivo da ETC, Eduardo Santander.

Com o turismo europeu estagnado, devido às medidas restritivas adotadas pelos Estados-membros da UE para tentar conter a propagação da pandemia, incluindo com limitações nas viagens entre países, o responsável assinala que “o turismo passou de [uma atividade] de 100% para zero” e está hoje “reduzido a praticamente 10% do que era”, dadas as perdas totais.

Eduardo Santander, que lidera a entidade responsável pela promoção e divulgação da Europa enquanto destino turístico e da qual faz parte o Turismo de Portugal, indica à Lusa que “tudo é igualmente afetado por a cadeia de valor do turismo estar interconectada”.

“Desde as empresas de cruzeiros, passando por outros operadores e, em particular, pelas companhias aéreas, todos têm enormes perdas, com quedas entre 45% para as transportadoras aéreas – que fazem alguns outros serviços além de passageiros – e os 70% para hotéis e restaurantes”, precisa o responsável espanhol.

Notando que em países como Portugal e Espanha “há agregados familiares que dependem do turismo, de forma direta ou indireta”, Eduardo Santander estima que esta crise “se reflita num elevado desemprego” no setor a nível europeu.

E, numa alusão aos dados do Conselho Mundial de Viagens e Turismo, o responsável alerta para que “podem estar em causa perdas de 10 milhões de postos de trabalho na Europa se a situação se mantém nos próximos meses”.

Mais afetados, de acordo com o diretor da ETC, serão “os países onde o PIB [Produto Interno Bruto] está mais dependente do turismo, como é o caso da Grécia, Portugal, Espanha e Itália”, sendo que, além disso, estes últimos foram particularmente afetados pelo novo coronavírus.

Ainda assim, em todos os Estados-membros, as empresas turísticas enfrentam “um enorme problema de liquidez e não vão sobreviver se não houver uma intervenção ou injeções de capital pelos Estados ou outros tipos de ajuda da UE”, sublinha Eduardo Santander.

“E estamos a falar também de grandes companhias e não só da Europa do sul, estamos a falar, por exemplo, das companhias aéreas Lufthansa, TUI, grandes marcas alemãs, entre outras”, elenca o responsável, apelando para “medidas extraordinárias” para financiar o setor, inclusive por parte da Comissão Europeia.

Outro apoio que, para Eduardo Santander, urge dar a estas empresas são garantias estatais em casos de cancelamento de férias ou de viagens, com os Estados-membros a assumirem o risco perante a emissão de ‘vouchers’ aos consumidores visando adiamentos ou futuros reembolsos.

“Sem liquidez, nenhuma empresa irá sobreviver, é uma questão de proteger o mercado”, justifica, saudando as “medidas certas” que estão já a ser adotadas neste âmbito em Portugal.

Ainda assim, Eduardo Santander diz à Lusa que o setor começa a “ver alguma luz ao fundo do túnel”, perante o levantamento faseado das restrições nas viagens dentro da Europa, argumentando que é preciso agora “lutar para recuperar a imagem” do turismo europeu, “para não só restabelecer a procura, como também para restabelecer a confiança entre futuros visitantes”.

Recuo a 1970 em verão com turismo de proximidade

A ETC antecipou ainda que o próximo verão na Europa será como regressar a 1970, com os europeus a optarem pelo turismo de proximidade, e pediu regras uniformes para evitar problemas sanitários.

“Todos temos de começar a pensar em alternativas e neste verão, provavelmente, viajaremos de forma diferente, não indo para longe, não apanhando voos longos, talvez optando por viagens curtas, de comboio ou de carro, como os nossos pais faziam há 40 ou 50 anos”, afirma em entrevista à agência Lusa o diretor executivo da ETC, Eduardo Santander.

Eduardo Santander indica que o próximo verão será “como voltar aos anos 1970 ou 1980, em que planear uma viagem não era tão fácil como é hoje em dia”.

Dadas as fortes restrições para tentar conter a propagação do surto, entre as quais limitações às viagens, o responsável espanhol antecipa que “o espaço Schengen continue fechado a viajantes de mercados terceiros até final do ano”, razão pela qual “o destino [europeu] estará focado maioritariamente nos turistas domésticos […], que procurarão ‘resorts’ próximos ou locais para férias perto de casa”.

E com a atividade turística estagnada, “a única solução” é mesmo a de “reinventar o setor”, nomeadamente na temporada alta, assinala Eduardo Santander.

“Penso que há uma oportunidade na crise: o turismo estava a atingir uma capacidade limite devido ao seu aumento exponencial, que já era quase insustentável em alguns locais, […] e agora podemos reajustar a forma de fazer turismo, para que seja mais educativo, para se tornar mais competitivo e seguir práticas sustentáveis”, elenca Eduardo Santander.

A curto prazo, serão, então, privilegiadas “viagens conscientes, percebendo melhor o que se quer fazer em férias, não apenas tendo em conta os preços baixos, e optando antes por gastar em produtos ou comunidades locais, para que o dinheiro seja gasto onde é mais necessário”, prevê o responsável.

Apontando que, por vezes, os cidadãos “não conhecem” algumas zonas dos seus países, Eduardo Santander sugere, por exemplo, que esta é a altura de os portugueses conhecerem o interior do país.

Ainda assim, admitiu que “o turismo só poderá ser reativado” quando as fronteiras forem abertas dentro da União Europeia (UE), o que espera que aconteça nos próximos meses.

“Teremos, por exemplo, portugueses a ir para outros países, alemães a quererem ir jogar golfe para o Algarve, e essa é a única solução”, refere Eduardo Santander.

E, para isso acontecer, o diretor da ETC apela para que a “Comissão Europeia crie uma espécie de caixa de ferramentas para os países se poderem abrir ao turismo com um padrão comum”.

“Caso contrário, veremos que alguns abrirão em junho e outros no final do ano”, destaca Eduardo Santander, falando em “vantagens competitivas” desiguais e em eventuais problemas de saúde pública decorrentes da descoordenação, nomeadamente nas zonas de praia.

“Se as pessoas sabem que se pode ir livremente a uma praia sem controlo na Croácia e que em Espanha ou Portugal as praias são controladas e que têm de cumprir uma série de requisitos, talvez escolham a Croácia”, exemplifica.

Sediada em Bruxelas, a ETC foi fundada em 1948, com Portugal como um dos membros fundadores, e é uma organização sem fins lucrativos composta por 33 organismos nacionais de promoção turística de países europeus. 

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