BCP não comenta notícias sobre o arresto da coleção Berardo - TVI

BCP não comenta notícias sobre o arresto da coleção Berardo

  • SL
  • 29 jul 2019, 19:06

Presidente executivo disse ainda que "não há nada que fique por fazer" para cobrar dívidas

O presidente executivo do BCP disse esta segunda-feira que "não há nada que fique por fazer" para cobrar dívidas, mas "dentro dos limites da lei e da ética", escusando-se a comentar notícias sobre o arresto da coleção Berardo.

Tudo faremos e fazemos para recuperar as dívidas ao BCP. Ponto final, parágrafo. E quando digo tudo, é tudo, dentro dos limites da lei e da ética. Não há nada que fique por fazer", disse Miguel Maya durante a apresentação de resultados semestrais do BCP (lucro de 169,8 milhões de euros), escusando-se a especificar casos concretos de clientes.

Acompanhamos todos os processos de uma forma muito intensa, não esperamos que as coisas aconteçam. Estamos a acompanhar tudo. Não comentamos é coisa nenhuma" disse Miguel Maya em reação à notícia de hoje do jornal Público que faz referência ao arresto das obras de arte da coleção Berardo, articulada entre membros do Governo e os bancos credores (BCP, Caixa Geral de Depósitos e Novo Banco).

Questionado sobre se se reuniu com governantes, o gestor disse que o banco não comenta.

Não faço nenhum comentário sobre nada relativamente a conversas com o Governo, nem se tenho, nem se não tenho, nem das diligências", afirmou.

"Nós não comentamos, nunca comentámos nada relativamente à relação que temos com os clientes. A única coisa que vou dizer é reiterar aquilo que já dissemos: não deixamos nada por fazer para recuperarmos os créditos que temos que recuperar. E não estou a falar da coleção Berardo, estou a falar da postura de recuperação do Banco Comercial Português", asseverou Miguel Maya.

O gestor disse que cada ação do banco é ponderada ao nível dos custos e benefícios, e que o BCP não toma "iniciativas que podem ser muito engraçadas do ponto de vista mediático, mas que depois do ponto de vista efetivo de rendibilidade não têm impacto".

Berardo garante não ter sido notificado de arrestos pelos tribunais

O empresário José Berardo não foi até hoje notificado de nenhum dos arrestos noticiados nos últimos dias pelos órgãos de comunicação social, garantiu hoje à agência Lusa o seu assessor.

Três arrestos anunciados pela comunicação social. Nenhum notificado pelos tribunais”, refere o assessor do empresário, numa mensagem escrita enviada à Lusa, após ser questionado sobre uma notícia avançada pelo jornal Público, segundo a qual foi hoje “decretado o arresto da coleção Berardo”.

Segundo o Público, o arresto foi decretado na sequência de uma providência cautelar interposta pela Caixa Geral de Depósitos (CGD), o BCP e o Novo Banco, credores da coleção de arte moderna de José Berardo, conhecido como Joe Berardo.

O arresto de parte da Quinta Monte Palace Tropical Garden, na sequência de uma providência cautelar movida pela CGD, e de duas casas em Lisboa, também propriedade do empresário, serão os outros dois arrestos a que a assessoria de Berardo se refere.

No dia 5 de julho foi noticiado que os títulos da Associação Coleção Berardo (ACB), dados como garantia aos bancos credores de entidades ligadas a José Berardo, foram penhorados por ordem judicial.

De acordo com o Jornal Económico desse dia, a ACB considerou que não foram arrestados 100% dos títulos de participação, devido à alteração dos estatutos e ao aumento de capital que aconteceram após os títulos terem sido dados como penhora aos bancos credores.

O jornal Público noticia hoje que, decretado o arresto, os bancos depositam nas mãos do Estado a salvaguarda das obras de arte, propriedade da ACB, e que desde 2006 compõem o acervo do Museu Coleção Berardo, instalado no Centro Cultural de Belém.

De acordo com a notícia de hoje do Público, a solução encontrada para resolver a dívida de quase mil milhões de euros aos três bancos, e garantir a permanência da coleção no CCB, nas mãos do Estado, foi encontrada por negociação entre as instituições financeiras e os ministérios das Finanças, da Cultura, da Economia e da Justiça.

No final do Conselho de Ministros do passado dia 16 de maio, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, garantiu que o Governo usaria "as necessárias e adequadas medidas legais" para garantir que a chamada coleção Berardo de arte moderna continuasse inteira e acessível ao público.

Graça Fonseca indicou então que Cultura, Justiça e Finanças estavam articulados para defender a "imperiosa necessidade de garantir a integridade, a não alienação e a fruição pública" das obras expostas no CCB.

Questionada então sobre que medidas em cima da mesa, Graça Fonseca afirmou que o Governo não iria dar a José Berardo "a satisfação de as antecipar", frisando que as hipóteses ao dispor do executivo são suficientes para garantir a integridade da coleção.

Graça Fonseca falava aos jornalistas menos de uma semana depois da audição de Berardo no parlamento e das suas declarações, perante os deputados, na comissão parlamentar de inquérito à Caixa Geral de Depósitos, que considerou "indecorosas e inadmissíveis".

Na audição no parlamento, em 10 de maio, o empresário disse que a garantia que os bancos têm é dos títulos de participação da ACB, e não das obras em si. Na mesma audição Berardo revelou que houve um aumento de capital na ACB, numa reunião que não contou com a presença dos bancos credores, que diluiu os títulos detidos pelos bancos como garantia.

Berardo disse, então, que não tinha de ter convocado os credores, e remeteu para uma ordem do tribunal de Lisboa.

Durante a sua audição, José Berardo riu-se da hipótese de que, caso os bancos executassem a garantia, deixaria de ser ele a mandar na ACB.

O arresto de parte da Quinta Monte Palace Tropical Garden, na semana passada, foi decretado pelo Juízo Central Civil do Funchal, na sequência de uma providência cautelar movida pela CGD, como confirmou à Lusa fonte ligada ao processo.

O arresto incide sobre um edifício que é a residência fiscal de Joe Berardo e onde funcionou um escritório da Fundação Berardo, explicou a mesma fonte.

Na sexta-feira, o jornal Eco tinha noticiado que a operação conduzida pela sociedade Abreu Advogados tinha conseguido arrestar a propriedade de 70 mil metros quadrados que havia sido doada pelo empresário à Fundação com o seu nome, em 1988. Uma propriedade que valerá várias dezenas de milhões de euros.

Anteriormente, já tinha sido noticiado o arresto de duas casas em Lisboa, também propriedade do empresário.

No dia 19 de maio foi noticiado pelo jornal Correio da Manhã que o Ministério Público (MP) estava a investigar a Fundação José Berardo, devido a dúvidas de um juiz sobre se a Fundação pode como "objeto social ser compatível com investimentos de risco associados à aquisição de ações”.

Em 1993, o MP já tinha pedido a nulidade dos estatutos da Fundação José Berardo e do ato constitutivo da Fundação, por considerar que permitiam “a evasão e fraude fiscal”, e ainda que continha disposições próprias de "patrimónios privados", mas à data a decisão foi maioritariamente favorável a Berardo.

De acordo com o relatório e contas da Fundação José Berardo de 2017, consultado pela Lusa, a IPSS sediada no Funchal gastou 1,041 milhões de euros nos "fins estatutários" da instituição, ou seja, caritativos, educativos, artísticos e científicos, mas tinha um passivo de 998,5 milhões de euros.

Em 2017, o seu resultado antes de impostos foi negativo em 244,6 milhões de euros, o mesmo que o resultado líquido, uma vez que as IPSS estão isentas de pagamento de impostos.

A Fundação José Berardo não cumpriu o prazo legal para publicitação das contas de 2018 no seu 'site'.

De acordo com o Estatuto das IPSS, "as contas do exercício são publicitadas obrigatoriamente no sítio institucional eletrónico da instituição até 31 de maio do ano seguinte a que dizem respeito", o que não aconteceu no caso das contas de 2018.

Em 2015, segundo uma auditoria da EY à Caixa Geral de Depósitos (CGD), a exposição do banco público à Fundação José Berardo era de 268 milhões de euros, depois de uma concessão de crédito de 350 milhões de euros para compra de ações no BCP, dando como garantia as próprias ações, que desvalorizaram consideravelmente e geraram grandes perdas para o banco.

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