O FMI está mais otimista para Portugal. Prevê agora não só que a economia cresça 2,5% este ano, como que a meta 1,5% para o défice seja cumprida. Uma conjugação que faz o Fundo Monetário Internacional dar um empurrão ao Governo, para aproveitar o momento para reduzir a dívida pública. Na reação, o Governo não fala neste ponto.
A previsão do Fundo para o PIB é uma revisão em alta de um ponto percentual face aos 1,5% estimados em abril. O FMI está até mais otimista do que o Governo, que continua a prever que o Produto Interno Bruto cresça 1,8%.
A recuperação no crescimento implica que a meta do défice de 1,5% do PIB é alcançável. Um crescimento mais forte, juntamente com o forte compromisso das autoridades em conter a despesa, deve permitir alcançar a meta de forma confortável".
Dado haver uma margem "confortável" para o alcance de objetivos, o Fundo defende que as condições favoráveis criam "uma oportunidade auspiciosa para uma redução mais ambiciosa da dívida pública este ano". Segundo o Programa de Estabilidade 2017-2021, o Governo prevê reduzir a dívida pública de 130,4% em 2016 até 109,4% em 2021.
"As projeções de curto prazo de Portugal melhoraram de forma considerável, suportadas por uma recuperação no investimento e um crescimento contínuo das exportações, ao mesmo tempo que a recuperação na zona euro ganhou força", observa ainda a instituição liderada por Christine Lagarde, num comunicado divulgado hoje. Isto depois de ter sido realizada uma missão de duas semanas a Lisboa, no âmbito do artigo IV da instituição, que determina sejam feitas análises às economias dos membros do Fundo, geralmente todos os anos.
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Governo em silêncio sobre dívida
No comunicado que emitiu, dando conta da reação a estas projeções e recomendações do FMI, o Governo não tem nem uma palavra direta para a questão da dívida. Reafirma, antes, "o seu empenho em prosseguir com o esforço reformista, colmatando falhas passadas e projetando o futuro".
A continuidade de uma gestão orçamental rigorosa e o fomento da competitividade da economia portuguesa trarão um crescimento sustentável e inclusivo".
O ministério das Finanças, liderado por Mário Centeno, faz notar que o Programa Nacional de Reformas "é essencial para ultrapassar dificuldades estruturais".
Torneira do financiamento pode ficar empenada
Há que ter noção, avisa ainda o FMI, de que "uma consolidação orçamental estrutural e duradoura continua a ser essencial para garantir a sustentabilidade das finanças públicas, numa altura em que é provável que as condições de financiamento se tornem menos positivas, à medida que os estímulos monetários comecem a ser, eventualmente, reduzidos".
Um ajustamento focado numa reforma para melhorar a eficiência da despesa pública seria mais amigo do crescimento e ajudaria a reforçar as perceções dos investidores quanto à previsibilidade do regime fiscal ao longo do horizonte de investimento".
Turismo em alta
O "crescimento forte" no turismo ajudou muito à atividade económica. A instituição sediada em Washington antecipa que as receitas do setor voltem a crescer em torno dos dois dígitos em 2017. Ao mesmo tempo, aponta para uma recuperação geral nas exportações: devem crescer 7,6% este ano e 5,2% no próximo.
Cuidado com 2018
Já para 2018, é preciso cautela redobrada. O FMI estima uma desaceleração da economia, projetando um crescimento de 2% do PIB. Porquê? O elevado crédito malparado nos bancos e a dívida empresarial continuam a prejudicar o investimento privado, que "é essencial para apoiar o crescimento no médio prazo".
Embora destaque o "progresso notável" na estabilização do setor financeiro, com os recentes aumentos de capital, o Fundo entende que os bancos portugueses continuam a "enfrentar inúmeros desafios, como a fraca qualidade de ativos, fraca rentabilidade e almofadas de capital limitadas", cita a Lusa.
São, por isso, necessários "esforços ambiciosos" por parte dos bancos, para melhorarem os seus balanços, que passariam por uma "limpeza alargada", incluindo um plano "credível e com prazos" para reestruturar e vender ativos não performativos - com o apoio das autoridades.
Mais uma vez, uma referência à defesa das reformas estruturais para impulsionar o investimento e a produtividade e para aumentar o crescimento potencial da economia no médio prazo. Também "um mercado de trabalho mais flexível, onde os aumentos estão alinhados com a produtividade" e medidas para tornar os processos judiciais mais eficientes são importantes.