Ministro desafiado a dar incentivos para ultrapassar polémica sobre o diesel - TVI

Ministro desafiado a dar incentivos para ultrapassar polémica sobre o diesel

  • Atualizada às 16:37
  • 29 jan 2019, 12:25

Secretário-geral da ACAP considera "lamentáveis" declarações de Matos Fernandes sobre futuro das vendas de carros a gasóleo. Já os ambientalistas da Zero aplaudem titular da pasta do Ambiente

Em brasa, a associação representativa do comércio automóvel, a ACAP, condena as recentes declarações do ministro Matos Fernandes, segundo o qual é “muito evidente que quem comprar um carro diesel muito provavelmente daqui a quatro ou cinco anos não vai ter grande valor na sua troca”.

As declarações do senhor ministro do Ambiente, na nossa opinião, foram lamentáveis", assumiu Hélder Pedro, secretário.geral da ACAP, em entrevista à TVI.

A polémica criada pela entrevista de Matos Fernandes ao Jornal de Negócios e Antena 1 levaram, segundo o secretário-geral da ACAP, tem levado muitos consumidores a contactarem a associação e até a quererem desistir de compras planeadas de carros a gasóleo.

O sr. ministro lançou o pânico. Este é um sector importante da nossa economia. Muitos consumidores ligaram para a ACAP assustados e a protestar contra o ministro. Temos de ver que os concessionários de automóveis são PME, estão no mercado, o diesel representa mais de 50% e quando um membro do governo diz que o bem que se vende hoje vai desvalorizar quando for trocado daqui a quatro anos, isso é grave. Não só para os concessionários de automóveis novos, como para o comércio de usados, que tem um peso muito importante em Portugal", afirmou Hélder Pedro.

Para o secretário-geral da ACAP, "o que se trata é de uma desaceleração das vendas do diesel, em Portugal e na Europa".

Em Portugal no último ano, o diesel desceu 8% em termos de mercado, a gasolina subiu 6% e depois os veículos de energias alternativas, eléctricos, híbridos e outros subiram também um ponto percentual", refere Hélder Pedro, lembrando que, ainda assim, os carros a gasóleo representaram 53% das vendas no ano passado.

Renovação automóvel

Para a ACAP, o principal problema em Portugal "é a idade média do parque automóvel, maioritariamente diesel, que é de 12,6 anos e há 700 mil veículos com mais de 20 anos, que poluem muito".

Pedimos todos os anos, em termos de Orçamento do Estado, para haver um plano de incentivo à renovação desses veículos por elétricos, híbridos, diesel, gasolina ou outros, mas que se renove de facto o parque automóvel. E o sr. ministro disse na entrevista que isso não estava previsto. Na nossa opinião era a medida que devia verificar-se", defende o secretário-geral da ACAP.

Em contraponto com a previsão do ministro Matos Fernandes, o secretário-geral da ACAP afirma que "não podemos dizer que há uma ou outra tecnologia que vai desaparecer, no imediato". Até porque, "sabemos que haverá uma evolução contínua dos elétricos, mas neste momento em Portugal representaram 1,8% do total das vendas" no ano passado.

Em termos de União Europeia, as metas que existem para os construtores automóveis são de redução do CO2. É o compromisso europeu. Os motores diesel que são colocados no mercado cumprem o normativo europeu, hoje, e para o futuro, e emitem muito menos do que de facto há uns anos", assume Hélder Pedro.

Falta de sensibilidade

Em comunicado, também a a ANECRA (Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel) “lamenta a falta de sensibilidade” do ministro do Ambiente e da Transição Energética sobre a desvalorização dos carros a ‘diesel’, criticando o seu “efeito profundamente negativo”.

A ANECRA lamenta a falta de sensibilidade do Senhor Ministro do Ambiente, relativamente às declarações proferidas quanto ao seu efeito profundamente negativo num setor determinante como o é o setor automóvel”, afirma a Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel (ANECRA), em comunicado divulgado hoje.

A ANECRA indica que o setor automóvel é determinante, nomeadamente no que respeita a prossecução dos Orçamentos do Estado, ao contribuir com mais de 25% na arrecadação das respetivas Receitas Fiscais Líquidas.

A obsessão pelo veículo elétrico e a diabolização do diesel condicionam uma análise mais profunda sobre o futuro do automóvel e o correspondente impacto ambiental”, indica a associação.

“Completa consonância”

Ao contrário da associação de comércio automóvel, a associação ambientalista Zero manifesta-se “de acordo com a questão levantada pelo ministro do Ambiente”, relativamente à desvalorização dos carros a diesel.

Neste caso, estamos de acordo com a questão levantada pelo ministro”, afirmou em declarações à Lusa Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero.

A perspetiva que o ministro do Ambiente dá está em completa consonância com a perspetiva que temos em relação à evolução da tecnologia automóvel no futuro próximo”, acrescentou o responsável.

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Para o presidente da Zero, "os estudos apontam no sentido de que é mais económico para as empresas adquirirem e utilizarem veículos elétricos e que em três anos os benefícios à compra de elétricos não serão necessários porque estes veículos terão maior autonomia e serão mais baratos do que os veículos a gasolina e a gasóleo”.

Existe um problema muito grande associado às emissões de óxido de azoto e é realmente devido ao tráfego automóvel intenso e ao facto de a grande percentagem ser de automóveis a gasóleo que não estamos a conseguir cumprir requisitos de qualidade do ar em vários locais dos centros urbanos. O gasóleo é o principal culpado”, argumentou Francisco Ferreira.

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