Despedimentos, insolvências e dívidas. As consequências da covid-19 na restauração e hotelaria - TVI

Despedimentos, insolvências e dívidas. As consequências da covid-19 na restauração e hotelaria

  • João Guerreiro Rodrigues
  • 8 fev 2021, 13:03
Restauração

Mais de 30% das empresas do setor hoteleiro estão com a atividade suspensa e 36% não sabe quando é que voltará a abrir portas. Na restauração, o cenário também não é animador, com mais de um terço dos empresários a admitir avançar para a insolvência

A Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) publicou esta segunda-feira um relatório que dá conta das fortes dificuldades sentidas pelos setores da hotelaria e restauração, com quebras na faturação que atingem os 61%, motivando uma onda de dívidas, despedimentos e insolvências.

O setor da restauração e similares é um dos mais afetados desde o início do estado de emergência, mesmo com a possibilidade de os restaurantes manterem o funcionamento em regime de take-away.

Restauração e Similares

Das 559 Pequenas e Médias Empresas da área que responderam ao inquérito, cerca de 51% revelou estar com atividade completamente parada e apenas 26% está em funcionamento com o regime de take-away ou com serviço de entregas.

Quase 80% das empresas da restauração registaram, no mês de janeiro, uma quebra superior a 61% face ao mesmo mês do ano anterior. Três quartos das empresas inquiridas esperam quebras na faturação superiores a 75% já no mês de fevereiro, com poucas expectativas de melhorar até ao final do mês de abril.

Apesar de todas as regiões do país terem sido afetadas, é no Algarve onde a quebra da faturação é mais acentuada, com 26,7% das empresas a admitirem perdas superiores a 91%. Segue-se a região Norte, com 26,4% das empresas a registar perdas semelhantes.

Face às dificuldades sentidas, 53% das empresas admite não ser capaz de suportar os custos fixos do negócio com pessoal, energia, fornecedores ou rendas. A situação leva 36% proprietários a ponderar avançar com insolvência, caso não consigam suportar esses encargos.

As dificuldades que se fazem sentir na área já levaram 18% das empresas a não conseguir pagar os salários no mês de janeiro. Esse número aumenta 36%, se adicionarmos os outros 18% que admitiram ter pago apenas uma parte do salário dos funcionários.

Desde o início do estado de emergência, cerca de 44% já despediram trabalhadores. Destas, 53% reduziram o quadro de pessoal em 25% a 50%. Quase um quinto das empresas admite ser incapaz de manter todos os postos de trabalho até ao final do primeiro semestre deste ano.

Percentualmente, foram as empresas da região Norte a que efetuaram mais despedimentos, com 54,7% das empresas a admitir ter acabado os vínculos com trabalhadores durante o estado de emergência. Segue-se a região do Algarve, com 51,1% e a região de Lisboa, com 45,1%.

Alojamento turístico

Na área da hotelaria o cenário não é muito mais animador. Mais de 30% das empresas do setor estão com a atividade suspensa e 36% não sabe quando é que voltará a abrir portas.

Em janeiro, de um grupo de 483 empresas que participaram no estudo, cerca de 42% não registou qualquer ocupação e 32% indicou uma ocupação que não excedeu os 10% da capacidade disponível.

As regiões do país mais afetadas são a região Norte, com 63,3% das unidades sem qualquer ocupação, seguidas da região do Algarve (60,6%) e do Alentejo (56,3%).

Os dados vão ao encontro das declarações do presidente do Turismo do Porto e Norte, Luís Pedro Martins, que classificou a crise vivida no setor como “a maior de sempre na hotelaria”, sublinhando ainda a inexistência de turistas. Algo comprovado pelas respostas dadas por 49% empresas que revelam ter tido uma quebra superior a 90% em comparação com o mesmo período de 2020. Para fevereiro as expectativas não são melhores. Mais de 65% das empresas estimam uma taxa de ocupação de zero e apenas 19% perspectivam uma ocupação máxima de 10%.

As zonas mais afetadas são a região Norte, Lisboa e Alentejo.

As notícias relativas à faturação das empresas hoteleiras revelam uma realidade muito difícil de sustentar financeiramente. Pelo menos 56% das empresas inquiridas registaram uma quebra superior a 91% na faturação no mês de janeiro, em relação ao período homólogo. Mais de 70% das empresas antecipam ainda uma quebra na faturação acima de 75% no mês de fevereiro.

Perante a ausência da faturação, 29% das empresas afirma ser incapaz de suportar os custos fixos do negócio com pessoal, energia, fornecedores e outros. 16% das empresas pondera inclusive avançar para uma situação de insolvência.

Comparativamente ao setor da restauração, a hotelaria teve uma maior percentagem de empresas incapazes de pagar salários no mês de janeiro, com mais de um quarto das empresas a não pagar o salário aos trabalhadores, e ainda outros 8% a conseguir apenas pagar parcialmente

Há também que registar que 26% das empresas teve de recorrer a financiamento para conseguir cumprir as obrigações para com os trabalhadores no mês de janeiro.

Desde o início do estado de emergência, 28% das empresas despediram trabalhadores. Destas, 29% reduziram o quadro de pessoal em 25% a 50%. No entanto, mais de 34% destas empresas extinguiram com, pelo menos, metade dos seus postos de trabalho. E 8% admite mesmo não ser capaz de manter todos os postos de trabalho até ao final do 1º trimestre.

As expectativas em relação aos mercados estrangeiros e aos próximos períodos de férias, como a Páscoa, não são muito animadoras. Para os próximos três meses (fevereiro a abril), 60% dos participantes do estudo revelam que é o mercado nacional quem faz mais reservas.

No entanto, apenas 12% das empresas referem ter reservas confirmadas para o período da Páscoa, o que configurará um baixo aproveitamento de uma das épocas altas ao ano.

Programa Apoiar +

O inquérito da AHRESP concluiu também que, no que diz respeito ao Apoiar + Simples, específico para empresários em nome individual no regime simplificado, apenas 20% tinham apresentado candidatura à data de preenchimento do inquérito e 36% indicaram estar excluídos deste apoio.

Dos que disseram estar excluídos, 29% por apresentaram quebras inferiores a 25% e 17% por não terem trabalhadores a cargo.

Quanto ao programa Apoiar Rendas, recentemente disponibilizado, 35% das empresas também indicaram estar excluídas, das quais 27% registam quebras inferiores a 25% e 17% têm capitais próprios negativos.

Face aos resultados apresentados, é evidente a insuficiência dos apoios até aqui disponibilizados e a necessidade urgente do seu reforço”, apontou a AHRESP, acrescentando que “as mais de 95% de micro e pequenas empresas da restauração e alojamento não têm capacidade para aceder à complexidade destes apoios”.

Desta forma, a AHRESP já propôs ao Governo “a criação de um Mecanismo Único de Apoio às Empresas, que permita um acesso ágil, simplificado e concentrado, através de uma única candidatura, aos apoios disponíveis”.

É este o momento de apoiar as 120.000 empresas da restauração, similares e alojamento turístico, os 400.000 postos de trabalho diretos que têm a seu cargo, e os muitos outros milhares de empresas e de postos de trabalho que dependem de nós, e da nossa existência enquanto atividade económica”, instou a associação.

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