A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) diz que o investimento em Portugal está mais de 30% abaixo do nível de 2005 e antecipa que o desemprego se vá manter nos dois dígitos nos próximos anos. Ou seja, acima de 10% até 2018. Já o crescimento não deve passar os 1,2% este ano.
É que apesar de elogiar os progressos portugueses e até o valor do défice que, deve descer abaixo de 2,3% no fecho de 2016, Portugal ainda tem muito para palmilhar: fragilidade na banca, crédito malparado, baixa produtividade, pouca qualificação da mão-de-obra e grande disparidade na distribuição da riqueza são os aspetos mais criticados.
Estes aspetos, e outros discritos no documento, fora inúmerados durante a apresentação do mesmo feita pelo secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, no Ministério das Finanças, em Lisboa, que começou por falar de "muita vulnerabilidade, não para Portugal, mas no contexto geral". O que significa que "temos que remar contra a corrente".
Gurría alertou para um crescimento global de 3%, um crescimento comércio lento, uma confiança em queda, e luta contra a globalização em vários países.
Para o responsável o caminho tem que ser o de uma "globalização mais justa e inclusiva", em geral, e em particular em Portugal.
O panorama de Portugal, neste contexto difícil e complicado, revela recuperação económica devido: à reforma no mercado de trabalho, de produtos e às alterações de política fiscal, concorrência e setor público que são aplaudidas pela OCDE.
Acresce a "dinamização das exportações" (40% do PIB) face 27% há dois anos, refere ainda o responsável.
Confirmando o que já tinha sido dito pelo ministro da tutela e anteriormente por António Costa, o secretário-geral aplaude o fato do défice ficar mais perto dos 2% em 2016 do que de 3%. De resto, o elogio há muito esperado por Portugal por parte do secretário-geral. Um elogio que até o leva a brincar e dizer que "dá vontade de fazer a onda" [numa alusão à onda que os adeptos fazem muitas vezes nos estádios em jogos de futebol].
Significativamente abaixo de 3% (...). Isto é muito importante", diz, fazendo também referência ao saldo orçamental primário que vai ser positivo no fecho do ano passado.
Mas o documento antecipa "um crescimento anual moderado", de 1,2% em 2017, e refere que o consumo privado teve um papel importante recentemente mas "deverá perder peso porque a criação de emprego é demasiado fraca para que as despesas dos consumidores continuarem a expandir-se ao nível atual".
O investimento deverá "continuar fraco" e as exportações "vão crescer menos" do que nos anos anteriores, em parte devido à queda da procura da China e de Angola, mas deverá "continuar a ser a força por trás do crescimento neste ano e no próximo".
Malparado em Portugal 4º mais elevado da zona Euro
Para remar contra estes efeitos/ tendências e contra a conjuntura internacional ,frágil, Gurría diz que Portugal tem que "reduzir a vulnerabilidade económica e torná-la mais inclusiva; aumentar investimento, aumentar a qualificação das pessoas (...)".
Mas há outros problemas a resolver em paralelo, como o caso do crédito malparado, o 4º mais elevado da zona euro, e as disparidades salariais (e de riqueza).
"Há muito trabalho de casa para fazer", refere o responsável, falando depois do endividamento, dos setores público e privado, e do fraco setor bancário. Gurría estende depois as críticas à baixa produtividade do trabalho, em comparação com a média da OCDE e da União Europeia. Acresce a baixa qualificação profissional em Portugal, o que "trava a produtividade e constitui um obstáculo à redução na desigualdade da distribuição dos rendimentos".
Mesmo assim, o secretário-geral da OCDE diz que "Portugal traçou o caminho para um futuro mais auspicioso e pode contar" com a Organização.