KPMG: banco mau sim, mas é preciso convencer Bruxelas - TVI

KPMG: banco mau sim, mas é preciso convencer Bruxelas

Presidente da KPMG reconhece importância da auditoria, mas destaca que tudo começa pela gestão dentro dos próprios bancos e pela comunicação entre auditores e supervisores. E aqui, diz, o Banco de Portugal ainda falha. E fala sobre o banco mau

Está na ordem do dia a criação do banco mau, um veículo para libertar a banca dos ativos tóxicos. Também a KPMG se pronuncia sobre o assunto, com o presidente Sikander Sattar ver com bons olhos essa medida sugerida pelo primeiro-ministro - e com a qual o governador do Banco de Portugal e o Presidente da República concordaram hoje, na conferência da TVI e da Associação Portuguesa de Bancos "O presente e o futuro do setor bancário". Para a KPMG, é preciso encontrar uma solução, é preciso é ver como, porque há contingências.

"Para isso é preciso o acordo de Bruxelas em Frankfurt, particularmente aquilo que se refere às ajudas de Estado"

Seja como for, Sikander Sattar mostra-se favorável a "encontrar uma forma de reduzir esses ativos do balanço dos bancos para cumprir os rácios". 

Supervisores e auditores: relação melhorou, mas não tanto como podia

Muito se tem discorrido sobre o papel dos auditores e da supervisão no controlo dos bancos nacionais, sobretudo depois do colapso do BES, no verão de 2014. Sikander Sattar começou a sua intervenção precisamente por elencar vários desafios da regulação, deixando ainda um apelo ao Banco de Portugal e à CMVM para um diálogo "mais aberto" do que até aqui. A relação entre ambos melhorou, mas tem margem para progredir.

"Claramente nós, auditores, temos um papel a desempenhar, e estamos preparados para continuar a contribuir para que essa solidez seja mantida, para que haja transparência na forma como a informação é revelada, mas também não podemos atuar de uma forma mais eficaz se tivermos financeiros em que o governo societário não funciona, quando temos informação que é ocultada, ou que é viciada. Quem comete os atos é que tem de ser responsabilizado"

Tudo deve, portanto, começar dentro dos próprios bancos. "Na primeira instância, temos que ter os bancos com um governo societário forte, robusto, que garanta o controlo interno, a gestão de risco, o compliance, e uma gestão que seja para garantir a gestão do risco". 

No que toca ao seu papel, os auditores estão "empenhados", garante. Ao mesmo tempo, faz um "apelo às entidades reguladoras", frisando que a situação está melhor desde 2014, mas mesmo assim, pode progredir: "O diálogo não pode ser só dos auditores para a supervisão, tem de ser da supervisão para os auditores, um diálogo aberto". 

Bancos fizeram uma "extraordinária" redução de custos

O líder da KPMG deixou, por outro lado, uma nota de otimismo sobre o setor financeiro: "Não podemos ser negativos em tudo aquilo que temos feito. Claramente temos problemas para resolver, mas a banca conseguiu [um feito] extraordinário: a redução de custos, o rácio de custos relativamente às receitas de 51%, comparado com Espanha (49%), Reino Unido (60%), Itália (61%). Conseguimos ter ganhos de eficiência relativamente a alguns anos anteriores", destacou.

Agora, é preciso dar o salto para a fase seguinte, no seu entender: "É preciso demonstrar em termos do modelo de negócios como vamos passar da fase da redução de custos para o aumento das receitas. Sem isso, não é possível termos rentabilidade". Como lá chegar? Há pedras no caminho. 

"O grande tema que entendemos [KPMG] que é fundamental é como é que os bancos estão a preparar-se para demonstrar essa rentabilidade num contexto macroeconómico em que temos taxas de juro baixíssimas, para não dizer negativas", e num contexto de crédito de incumprimento "acima da média europeia".

"É claramente um grande desafio", antecipou Sikander Sattar, referindo-se tanto a Portugal como a toda a Europa. 

 

Continue a ler esta notícia