Vítor Bento: troika ainda não é uma oportunidade perdida - TVI

Vítor Bento: troika ainda não é uma oportunidade perdida

Vítor Bento

«É lamentável que não tenhamos tido a capacidade coletiva para fazer isto por nós, para fazer estas escolhas que agora estamos a aplicar»

Atualizada às 12h com mais declarações

O economista Vítor Bento entende que o desenrascanço português não é um talento; antes «uma das nossas fraquezas». «Esquecemo-nos da quantidade de coisas que falham por sermos desorganizados». Teve de vir a troika, mas o também conselheiro de Estado e presidente da SIBS diz que a troika não é uma oportunidade perdida.

«A troika não é, e espero que não seja, uma oportunidade perdida. É lamentável que não tenhamos tido a capacidade coletiva para fazer isto por nós, para fazer estas escolhas que agora estamos a aplicar. Que tenha sido necessário vir uma troika. E é impressionante que, sendo imposto de fora, haja uma aceitação generalizada de praticamente tudo. Quando eram os da casa a apontar esses caminhos havia a rejeição das mesmas coisas». Agora, «aceita-se como se viesse de uma autoridade divina», disse em entrevista ao «Jornal de Negócios».

Vítor Bento entende que agora, «não tenhamos dúvidas», «há coisas que vão mudar». Se a ajuda e as imposições externas vão ser suficientes ou não,«o tempo o revelará».

«Até há um ano e tal, havia uma recusa em quase todos os setores em reconhecer a gravidade da nossa situação. Toda a gente estava disposta a alinhar na fantasia de que os problemas se resolviam por si. Hoje há a consciência generalizada de que temos um problema muito grave e que só se resolve com muito sacrifício».

E isso, frisa, «já foi uma mudança de 180 graus».

Se acabou o dinheiro, cortes eram inevitáveis

Sobre o corte nos subsídios de férias e de Natal, Vítor Bento considera que «não era possível fazer de outra maneira». O economista justifica: «A partir do momento em que se acabou o dinheiro e em que ficámos dependentes do conta-gotas que a troika nos disponibiliza, não temos outro remédio senão ajustar aquilo que gastamos àquilo que temos».

O conselheiro de Estado sublinha que «há pela primeira vez a disponibilidade para fazer reformas estruturais no funcionamento da economia. Aquelas que deviam ter sido feitas mal entrámos no euro».

Sócrates foi «completamente autista»

Falando em passado, no passado recente Vítor Bento tem muitas críticas para a fazer a José Sócrates: «Tem imensa responsabilidade pela situação em que estamos. A gestão macroeconómica, pelo menos entre 2008 e 2011, foi um desastre. Mesmo quando começou a aplicar as medidas de restrição, os PEC sucessivos, havia uma dissonância completa entre aquilo que era o discurso em que ele parecia acreditar e aquilo que era obrigado a fazer».

Em poucas palavras, «foi completamente autista. É impressionante como se deixou isolar por completo da sociedade quase toda. Não ouvia ninguém a não ser as pessoas muito próximas».

Bento aponta o dedo também à classe empresarial, que apoiou o ex-primeiro-ministro: «A classe empresarial tinha a obrigação de ter um discernimento maior do que aquele que demonstrou».

Apesar de na primeira fase do mandato não haver «grandes reparos a fazer», a verdade é que, para Vítor Bento, Sócrates «viveu demasiado com a ideia de que a salvação da economia estava no investimento público. Fui um dos subscritores de um manifesto assinado em 2005 [O Investimento Público não faz Milagres], onde se alertava que aquela política ia conduzir ao desastre».

Elogios a Gaspar: «Ele sabe o que quer»

Quanto ao atual Governo, nomeadamente ao ministro das Finanças, o presidente da SIBS só tece elogios: tem «um bom conhecimento sobre a nossa realidade económica», um «relacionamento muito estreito com os decisores europeus» e uma grande «crebilidade» junto deles. Mais ainda, Gaspar tem «uma determinação muito grande naquilo que está a fazer», «sabe o que quer».

Quanto ao Governo em geral, «nem tudo é perfeito», mas o que tem sido feito é o que é «necessário» e a com a «determinação» que é preciso ter.
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